Todos sabem da situação trágica que o Rio Grande do Sul está passando neste momento, mas alguns lugares continuam invisíveis. Maquiné é um município no Litoral Norte do RS, onde resiste uma densa área de Mata Atlântica, e onde também chove muito e é bastante úmido. O excesso de umidade frequentemente atinge as plantações e a produção de alimentos, enquanto as chuvas intensas destroem estradas, pontes e acessos, trazendo muitos prejuízos para os moradores.
Neste momento, mais uma vez, o município encontra-se em estado de calamidade pública. Esta semana, uma lista que revelou as cidades gaúchas mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas (considerando riscos de inundações, desabamentos, entre outros aspectos) apontou que o município de Maquiné ocupa o primeiro lugar neste ranking.
A aldeia Mbyá-Guarani Guyra Nhendu (Som dos Pássaros) tem sete anos de existência, situada em uma área particular cedida para a permanência da comunidade indígena. Lá vivem cinco famílias, sendo um total de 21 pessoas de diferentes faixa-etárias. Entre elas estão Júlia Gimenes, de 65 anos, seus filhos, filha, noras e netos, o mais novo tendo agora 2 anos de idade.
A comunidade enfrenta muitas dificuldades de acesso a direitos básicos. Há uma sensação de abandono e falta de apoio vivido por essa comunidade e sua situação urgente relacionada principalmente à falta de moradia segura.
A casa onde vivem Júlia Gimenes e sua filha Priscila (8 anos), tem sua estrutura comprometida, as paredes e o assoalho estão podres e o telhado está caindo. Quando chove molha muito dentro, e é nela que ficam guardados os artesanatos tradicionais, fonte de renda da família. Além disso, a casa fica na encosta do morro e está sujeita a destruição total pelas chuvas, e pela água que desce da encosta.
No inverno passado (2023), a situação da casa já era de risco, e na falta de acesso ao direito de moradia digna, foi realizada uma vaquinha online entre amigos e amigos de amigos, para a compra de material para a construção de uma casa segura. Com o valor arrecadado, Júlia e sua família construíram sua casinha. Mas em janeiro deste ano a casa pegou fogo e, mais uma vez, ela teve que voltar para sua casa anterior, que agora se encontra ainda pior do que antes.
A casa não tem a menor condição de moradia, e a cada chuva Júlia tem medo que ela desabe. Outras moradias da aldeia, que abrigam seus filhos, noras e netos também são vulneráveis e inseguras. Júlia avalia a necessidade urgente de construção de três casas na aldeia, que acomodariam sua família em segurança. Infelizmente, a ajuda não tem chegado na Guyra Nhendu, que enfrenta também situação de insegurança alimentar e dificuldade de gerar renda.
Com a atual situação de calamidade que atinge o RS, mesmo em áreas que não sejam atingidas diretamente pelos rios, como a aldeia da Júlia, a intensidade das chuvas trás muitos danos, pois as moradias já são bastante precárias. Boa parte do plantio de alimentos é perdido em função do clima e a venda de artesanato, que é única fonte de renda dessa comunidade, fica totalmente paralisada, ampliando ainda mais as dificuldades que a comunidade já enfrenta.
Júlia Gimenes é uma anciã de grande sabedoria, uma biblioteca viva que carrega consigo a cultura guarani. Sua vida em segurança é importante para todo um povo! É urgente que as necessidades de sua aldeia sejam atendidas e é emergencial que sejam construídas três casas na Aldeia Guyra Nhendu.
Esse texto é dirigido às instituições responsáveis pela garantia de direitos indígenas – Funai, MPI, MPF, Sesai, e a todos aqueles que são solidários a essa luta, que compreendem que a causa indígena é a causa de toda a humanidade. Que a Tekoa Guyra Nhendu seja lembrada e as suas necessidades atendidas com urgência!
Para quem puder ajudar, segue o Pix: CPF 014.825.410.17, em nome de Júlia Gimenes.
* Simone Alves de Almeida é doutora em Psicologia Social e Institucional e Mestra em Saúde Coletiva. Pesquisadora CNPq no projeto "Resistências indígenas, quilombolas e camponesas diante do Antropoceno/plantationoceno". Psicóloga Clínica.
* Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
Edição: Marcelo Ferreira