A enchente está também virando a cabeça de economistas. Eles e as autoridades da área não param de fazer cálculos sobre os prejuízos, as perdas da indústria, comércio e serviços, questões do Produto Interno Bruto (PIB), juros, inflação, desaceleração dos índices econômicos, emprego, preços e segue em frente, quase sem limite. A coisa está feia, me disse o dono de um armazém perto de casa no Bairro Auxiliadora. Ele é um bom exemplo de não aumentar preços e tenta de todas as formas evitar a falta de qualquer produto realmente básico. Firulas estão ali quase intocadas.
Quem mais sofre é o setor produtivo. Pequenos produtores perderam tudo. Alguns, porém, não atingidos totalmente, fazem o que podem para abastecer o mercado de frutas, verduras, mas as logísticas não são fáceis. Produtos já estão vindo de outros estados. O auxílio e a solidariedade estão quebrando o galho para garantir o sustento de milhares de desalojados, desabrigados ou ilhados.
Quase 15 dias depois do início das chuvas ainda é difícil fazer um balanço correto dos prejuízos do Rio Grande do Sul. Só em infraestrutura o governo gaúcho calcula que serão necessários R$ 19 bilhões, mas outros especialistas acham que o valor é pequeno para muita coisa. Não dá para fazer uma análise exata dos impactos globais da tragédia. Cidades arrasadas, pontes e estradas destruídas, prédios e casas levadas pelas águas. Horror mesmo que dinheiro nenhum pode resolver a curto prazo.
O governo federal está fazendo a sua parte. Já está previsto uma ajuda de R$ 50 bilhões para todos os setores. Uma força monumental que vai do trabalhador comum até o grande industrial. O pacote da União para o Estado prevê assistência imediata (a que está sendo feita agora), restabelecimento mínimo da vida e planificação da reconstrução e, finalmente, mãos à obra para colocar tudo de pé. Não há recursos que cheguem para tal empreitada, mas eles devem aparecer de um jeito ou outro, disse o presidente Lula. Além de tudo, o governo federal suspendeu a dívida pública do RS. O total atinge R$ 11 bilhões.
A Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) informa que as primeiras estimativas dão conta de que as chuvas e cheias atingem 80% da atividade econômica do estado. Ao todo, o desastre afetou 67,6% dos municípios gaúchos, segundo os cálculos iniciais da entidade. A Fiergs diz que os setores mais afetados são o metalmecânico, derivados de petróleo e alimentos, calçados, têxteis e outros de menor relevância. Os dados mais citados falam sobre os ‘danos gigantescos de capital’ e os problemas logísticos. Eles são responsáveis por toda a cadeia econômica.
O comércio da maior parte do Estado e seus trabalhadores também estão apavorados. Não abrem, não vendem, não faturam. De onde tirar dinheiro para recomeçar, indaga a Fecomércio-RS. Em nota, a entidade destaca que o volume de recursos necessários para a reconstrução do setor é incalculável e, talvez, inalcançável.
Os comerciantes destacam também grandes prejuízos nos ativos das empresas e em infraestrutura e ressalta a obstrução da atividade econômica, que pode interromper a capacidade produtiva de inúmeras companhias e localidades por mais de um mês. ‘O setor que possui maior concentração de produção nos municípios atingidos é o de serviços. Isso ocorre pelo fato de as enchentes terem atingido em cheio áreas metropolitanas, incluindo a capital, Porto Alegre, que possuem renda média e densidade urbana mais elevadas’, pontuou a entidade.
O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, afirmou que os efeitos serão sentidos no PIB e sobre os preços, mas garantiu, que não haverá problemas de desabastecimento no país. ‘É evidente que uma catástrofe dessa dimensão, que não tem paralelo na história brasileira, provoca impactos econômicos, tanto na atividade como nos preços. No momento atual, as informações que temos ainda são muito pouco precisas, o que nos leva a ter muita cautela’, disse o secretário aos jornais.
Mesmo com milhares de pessoas em pânico com tudo que perderam e com o que virá pela frente, pedir, nesta hora, bom senso e calma é inútil. Bens materiais vão e voltam na vida das pessoas. O agora pede prudência. De onde virá o dinheiro para cuidar da vida? Existem ameaças, como o desemprego e a falta de ‘grana no bolso’ para recomeçar, mas as soluções virão. De cada cabeça deverá surgir uma sentença para se recuperar da tragédia. Que o Deus de cada um nos apresente o caminho!
* Eugênio Bortolon é jornalista.
** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
Edição: Vivian Virissimo