Creio não ser necessário elencar os assustadores dados referentes à tragédia anunciada no Rio Grande do Sul. Diariamente observamos estes dados nas manchetes, no avanço das águas do rio Guaíba enchendo os olhos de lágrimas de quem assiste este espetáculo dantesco dos já mais de dois milhões de pessoas atingidas, e que, até o momento, se restringe a um único estado, mas que segundo os cientistas, é proclive a se estender por outros estados do país e até ao próprio planeta, pela depredação ambiental provocada pelo ação do Homem.
Velozes mudanças, evidentes e trágicas, que desmentem categoricamente o negacionismo climático, o qual vem emergindo no mundo com o avanço das águas barrentas das ideologias da ultra direita, um vendaval de ideias nefastas para a humanidade, que tudo arrasta em nome do lucro neoliberal, principalmente vidas. A desolação ambiental provocada no Rio Grande do Sul é o exemplo mais devastador de tudo isto nestes momentos.
É claro que também a centro esquerda institucional e os seus partidos e alianças governamentais não está isenta de culpa quando parlamentares dessas correntes também sucumbem às benesses do vil metal oferecidas pelas grandes corporações, nacionais e multinacionais, para aprovar licenças ambientais. Este cenário partidário provoca uma disputa eleitoreira antecipada e fora de lugar entre fãs do governo federal e oposição nas redes sociais, desrespeitando o único que deve ser feito agora para ajudar, impulsionar a mobilização popular no país.
A tragédia que assola o Rio Grande do Sul, uma situação catastrófica com vidas ceifadas, imensos prejuízos econômicos, devastação e reconfiguração territorial nalguns casos, realocação de famílias inteiras, êxodos parciais ou totais, exige responsabilidades sociais e ambientais urgentes, dos poderes locais, regionais, estaduais e federais, com vigilância extrema da sociedade civil organizada.
Não é possível, depois de um acontecimento de tamanho estrago ambiental e humanitário, deixar novamente os afazeres institucionais a curto e longo prazo apenas em órgãos que outorgam licenciamentos com total irresponsabilidade e que não atendem com a devida atenção e respeito entidades que congregam cientistas, pesquisadores e militantes das questões climáticas, pessoas que se debruçam durante toda a sua vida no estudo destas mudanças que vêm afetando o planeta.
Numa entrevista que o jornal Brasil de Fato fez ao Heverton Lacerda, presidente da Agapan, Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural, fundada em 1971, a mais antiga do Brasil, ele disse: “O atual governo do RS e a base legislativa não têm ouvidos para nós. Se isso não mudar, a crise não será revertida, e ainda se ampliará.”
* Carlos Pronzato é cineasta, diretor teatral, poeta e escritor e sócio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB).
** Artigo publicado originalmente no jornal A Tarde.
*** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.
Edição: Vivian Virissimo