Depois de enchentes como as que assolam o Rio Grande do Sul nos últimos dias, causadas por uma das maiores crises climáticas no estado, vem o alerta para o risco de transmissão de doenças como leptospirose, tétano e hepatite A. Diante dessa situação, o Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) está divulgando um guia para a população e profissionais de saúde sobre os riscos e cuidados em situação de enchente.
O material atenta para questões como doenças transmitidas pelo contato com a água, doenças relacionadas ao consumo de água ou alimentos contaminados, entre outras.
Também traz recomendações para as localidades onde a água já baixou e as pessoas estão retornando às casas. Nesses casos é importante, quando possível, o uso de luvas e botas de borrachas ou outro tipo de proteção para as pernas e braços (como sacos plásticos duplos), para evitar o contato da pele com a água que pode estar contaminada.
“Com toda essa movimentação das águas, essas bactérias acabam facilmente entrando em contato com a população, porque não precisa necessariamente ter uma pele lesada. Só pelo fato de estar muito tempo exposto à água, a pele já perde a sua barreira natural e a bactéria pode penetrar na pele”, explica Juliana Demarchi, coordenadora da Vigilância Epidemiológica de Lajeado (RS), um dos municípios mais afetados pelas chuvas no estado.
De acordo com a coordenadora, enquanto a lama está molhada, ela é propícia a manter a bactéria viva e contaminar as pessoas. “Então, as pessoas que terão esse contato devem usar botas, luvas ou sacos plásticos e evitar manter pés e mãos molhados, para não fazer uma porta de entrada para a bactéria”.
Higienização
Conforme guia da SES, os utensílios domésticos (panelas, copos, pratos e objetos lisos e laváveis) podem ser lavados com água e sabão. Depois precisam de uma desinfecção com água sanitária (hipoclorito de sódio a 2,5%), na proporção de um copo (200ml), misturada em quatro copos de água (800 ml). Mergulhe na solução os objetos lavados, deixando-os ali por, pelo menos, uma hora.
Já os pisos, paredes, bancadas e quintal podem ser limpos inicialmente com água e sabão. Em seguida, a desinfecção pode ser realizada com água sanitária, na proporção de 200 ml para um balde com 20 litros de água limpa, deixando agir por 30 minutos.
Sobre as doenças
Leptospirose: É uma doença infecciosa febril aguda e transmitida a partir da exposição direta ou indireta à urina de animais (principalmente ratos) infectados. O contágio pode ocorrer a partir da pele com lesões ou mesmo em pele íntegra se imersa por longos períodos em água contaminada, além de também por meio de mucosas.
O período para o surgimento dos sintomas pode variar de um a 30 dias. Os principais sintomas da leptospirose são: febre, dor de cabeça, fraqueza, dores no corpo (em especial, na panturrilha) e calafrios.
A Secretaria Estadual da Saúde (SES) recomendou a quimioprofilaxia (tratamento preventivo) para situação de alto risco. Ou seja, para os voluntários e equipes de resgate que estão entrando nas regiões de cheia. Também estão no grupo pessoas expostas à água de enchente por período prolongado com avaliação médica criteriosa do risco dessa exposição
Hepatite A: É uma doença causada por um vírus que pode ser transmitido pela ingestão de água ou alimentos contaminados com esgoto/dejetos humanos, o que ocorre durante as enchentes.
Devem ser observados sintomas como: mal-estar, prostração, febre, mialgia, náuseas, vômitos e icterícia (pele e olhos amarelados). Nesses casos a pessoa deve procurar um médico imediatamente e relatar que teve contato com alagamentos.
A vacina Hepatite A está disponível no SUS, excepcionalmente para situações de enchente com aplicação em adultos.
Tétano: Durante as enchentes, é possível acontecer acidentes como cortes e machucados que podem propiciar a entrada da bactéria causadora do tétano, que pode estar presente em objetos de metal, de madeira, de vidro ou até no solo, como galhos, espinhos e pedaços de móveis. É importante manter o esquema vacinal atualizado e, caso haja acidente nesse período, buscar atendimento médico para avaliar a lesão.
Acidentes com animais peçonhentos: Durante eventos com excesso de chuvas, pode haver o desalojamento de alguns animais, como os peçonhentos (aranhas, serpentes, escorpiões e lacraias irão buscar locais secos). Locais mais comuns para o abrigo desses são: entulhos, empilhamento de madeira, tijolos, telhas ou até na própria lama.
Em caso de acidente, lave o local da ferida com água e sabão, e mantenha a vítima sentada ou deitada. Se a ferida for na perna ou no braço, mantenha-os em posição mais elevada. Leve a vítima ao serviço de saúde mais próximo para que possa receber atendimento. Não amarre e não corte o local da ferida.
O Centro de Informações Toxicológicas (CIT) dispõe de telefone para tirada de dúvidas e orientações, pelo 0800-7213000, disponível 24 horas, sete dias da semana.
Consumo de água e alimentos: Conforme ressalta o Cevs, durante as enchentes, microrganismos presentes em esgotos podem se misturar à água e à lama das enxurradas, além de contaminar alimentos, utensílios e louças. Sempre que possível, deve ser mantida a hidratação a partir de água de fonte confiável.
Quando a segurança da água for questionável, filtre e ferva a água antes de utilizá-la. Ou após filtrar, coloque duas gotas de solução de água sanitária (hipoclorito de sódio a 2,5%) para cada litro de água e aguarde 30 minutos antes de beber.
Veja neste link o guia completo.
*Com informações da Agência Brasil.
Edição: Marcelo Ferreira