Rio Grande do Sul

ENCHENTE HISTÓRICA

Nível do Guaíba chega a 5m e ultrapassa o registro de 1941

O sistema de contenção de cheias de Porto Alegre é preparado para barrar as águas do Guaíba até um nível de 6 m

Brasil de Fato Porto Alegre |
“Esqueçam tudo que vocês já viram de pior acontecendo de alagamentos e enchentes aqui na região metropolitana. Vai ser muito pior", afirma governador - Foto: Jorge Leão

Como estava previsto por especialistas e pelo governo do estado, o nível do Guaíba ultrapassou a marca histórica de 1941, que foi de 4,75, ao registrar, às 21h desta sexta-feira (3), 4,77m, tornando-se assim a maior enchente já registrada em Porto Alegre.

:: As águas chegaram a Porto Alegre e as entradas e saídas serão fechadas ::

Na mediação da madrugada deste sábado, o nível chegou a marcar 5m e segue oscilando. Construído na década de 1970, o sistema de contenção de cheias de Porto Alegre, composto pelo Muro da Mauá e por diques que se estendem da região do Barra Shopping Sul à Freeway, é preparado para barrar as águas do Guaíba até um nível de 6 m. O ranking das três maiores cheias do Guaíba deste o começo das medições há um século e meio tem agora em primeiro lugar a atual (ainda sem pico), a cheia de 1941 (4,76 metros) e, em terceiro lugar, a cheia de 1873 (3,50 metros).

As comportas do Cais Mauá foram fechadas nesta quinta-feira (2), com intuito de evitar a inundação, contudo não foi suficiente, as águas do Guaíba chegaram às ruas da Capital na manhã desta sexta, inundando vários locais, entre eles as ruas da Rodoviária de Porto Alegre, Mercado Público, Prefeitura, Casa de Cultura Mario Quintana.

A situação fez com que o prefeito Sebastião Melo (MDB) pedisse a evacuação das áreas do Centro Histórico e 4° Distrito. Na manhã deste sábado (4) a prefeitura emitiu orientação para que as comunidades Asa Branca, Minuano, Vila Elizabeth e Nova Brasília, na região do Sarandi, deixem o local. 


Primeira horas da manhã de sexta-feira / Foto: Jorge Leão

Resultado da chuva que chegou ao estado no última sábado, e seguiu de forma ininterrupta, a capital gaúcha vive um dos seus piores momentos, com moradores tendo que deixar suas casas. Na manhã desta sábado barcos trafegavam nas imediações do Paço Municipal, conforme registro do jornalista do Correio do Povo, Jonathas Costa.

 

 

De acordo com a prefeitura cerca de duas mil pessoas passam a noite nos abrigos provisórios. No momento há oito abrigos. 

No Ginásio da Brigada Militar, estão 442 pessoas, destas 290 adultos, 152 crianças e 46 pets. No Centro Estadual de Tratamento Esportivo (Cete), passaram a noite 356 pessoas, sendo 200 adultas e no ginásio, outras 156.

O Centro Vida recebe 607 desabrigados, sendo 439 adultos, 168 crianças e 58 pets. No Teatro Renascença, estão 210 pessoas. Na Restinga, no Pe. Leonardi, 40 pessoas estão sendo acolhidas (21 adultos, 19 crianças e quatro animais). Também na zona Sul, na escola Estadual Custódio de Mello, são 29 pessoas (19 adultos e 10 crianças). Na Igreja Brasa, parceira da prefeitura, estão cem pessoas.

:: ‘Porto Alegre poderá ter uma enchente igual a de 1941 a qualquer momento’, diz pesquisadora ::

Em entrevista ao Brasil de Fato RS, em outubro do ano passado, a pesquisadora e arquiteta Mima Feltrin, já havia feito o alerta de que Porto Alegre poderia ter uma enchente igual a de 1941 a qualquer momento. "O professor Carlos Tucci, que leciona Hidrologia na Ufrgs, mostra que os riscos existentes em 1941 continuam os mesmos. Diz que, em qualquer ano, poderão ocorrer enchentes superiores. Então sim, pode haver uma enchente superior a de 1941 a qualquer momento", afirmou a pesquisadora


Porto Alegre durante enchente de 1941 / Foto: Fotos Antigas RS/Prati

Acesso à Capital e transporte

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) confirmou na manhã deste sábado que a ponte antiga do Guaíba, do vão móvel, e a nova ponte seguirão bloqueadas por tempo indeterminado. Além disso, por conta da elevação do Guaíba e do rio Jacuí, a BR 290 está com diversos pontos bloqueados na região. Desta forma, a capital segue sem pontos de passagem para Eldorado do Sul, Guaíba, Charqueadas e região Sul do RS. O acesso a Porto Alegre pela BR-116 está fechado devido ao bloqueio da avenida Farrapos por alagamento.

A decisão de bloquear o acesso de veículos nas pontes do Guaíba foi tomada na manhã desta sexta-feira pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) por questão de segurança, após a água tomar conta dos acessos da estrutura. Além disso, dois barcos colidiram com a estrutura da ponte nova, gerando rachaduras entre uma das muretas. Também na sexta, a PRF emitiu um alerta de que a ponte no entroncamento entre a BR 116 e a BR 290 corre risco iminente de ruir.

Na noite de sexta-feira (3), a Fraport Brasil anunciou o fechamento do Aeroporto de Porto Alegre por tempo indeterminado. A medida foi tomada em virtude do elevado volume de chuvas que atingem o Rio Grande do Sul nos últimos dias, e para garantir a segurança de funcionários e passageiros.

A circulação dos trens segue suspensa por tempo indeterminado em virtude das enchentes. 


Foto: Jorge Leão

“A mensagem para as pessoas é: vai ser sem precedentes”

A afirmação foi feita pelo governador do estado, Eduardo Leite (PSDB), na tarde desta sexta, ao falar sobre a situação da região metropolitana. “Esqueçam tudo que vocês já viram de pior acontecendo de alagamentos e enchentes aqui na região metropolitana. Vai ser muito pior. O nível do Guaíba já é histórico e nós vamos ter, na tarde de hoje, ele chegando a mais de 5 metros de altura.”

Usando um mapa, Leite detalhou a situação do sistema de contenção, destacando que o muro e o dique seriam colocados a prova também neste momento crítico. “Mesmo que a gente tenha esse sistema de proteção e que confie, não dá para deixar de alertar que pode ter consequências nesta área central da cidade, em toda a área do 4º Distrito e até lá em direção ao aeroporto.”

Leite afirmou que o governo do estado segue monitorando e atuando para resguardar a integridade de portões junto à prefeitura, com o apoio do Exército. “Precisamos deixar em alerta, não é gerar alarmismo, as pessoas precisam estar atentas, pode ter sim impacto forte na região que hoje é protegida, mas que a proteção ai será colocada à prova.”


Foto: Jorge Leão


Foto: Jorge Leão


Foto: Jorge Leão


Foto: Jorge Leão


Foto: Jorge Leão


Foto: Jorge Leão


Foto: Jorge Leão

* Com informações do Correio do Povo, Sul 21 e Prefeitura de Porto Alegre


Edição: Katia Marko