Nunca se falou tanto espanhol em Bagé. Completando 15 anos, o Festival Internacional de Cinema da Fronteira lembrou em muito os tempos áureos quando Gramado recebia produções latino-americanas de luxo. Já pela divulgação da homenagem à cineasta argentina Lucrecia Martel se esperava uma integração muito maior com o Cone Sul, o que se constatou nas telas, nas “charlas” (debates) e também nas trocas entre os realizadores selecionados para o Mercado Sur Frontera.
:: Ator gaúcho Flavio Bauraqui recebe homenagem do 15º Festival da Fronteira ::
Esta edição especial foi divulgada como a maior até agora, o que a nossa cobertura jornalística comprovou acompanhando mais do dobro dos convidados de anos anteriores. O tema do 15º Festival da Fronteira, iniciado na semana passada em Sant’Ana do Livramento e Rivera, era “América Latina, Pátria Grande”, e se evidenciou no dia a dia da intensa programação de atividades do evento. Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile estiveram bastante representados nas ações de conexão sediadas na Campanha gaúcha.
A cerimônia de homenagens e entrega dos troféus ocorreu na noite de sábado (27), no Centro Histórico Vila de Santa Thereza, em Bagé (RS). A festa de encerramento do festival de Bagé já é conhecida como ocasião ímpar, com muita improvisação, surpresas e integração entre as manifestações artísticas. O espetáculo de 2024 foi além das expectativas e contou com atrações mais que especiais, além das cantorias dos apresentadores Zeca Brito (diretor do evento) e Giana Cunha (jornalista local).
Carlos Gerbase, que era jurado dos longas internacionais, roubou a cena com a pegada rock saltitante dos Replicantes (“Sandina”) e uma interpretação bem-humorada por demais de Roberto Carlos (“Namoradinha de um amigo meu”). A excelente cantora Rita Zart, compositora de trilhas musicais para o audiovisual brasileiro, ficou responsável pelas interpretações de Lupicínio Rodrigues (“Esses moços” e “Felicidade”).
:: Com patrocínio da Petrobras, começa hoje edição de 15 anos do Festival da Fronteira ::
Sem ensaio, de improviso, o homenageado Flavio Bauraqui entoou “O mundo é um moinho”, de Cartola, personalidade que ele já interpretou no teatro e no cinema. Foi um momento emocionante, pois o ator e cantor santa-mariense subiu ao palco para receber o Troféu São Sebastião depois de deixar rolar lágrimas ainda sentado na plateia, enquanto assistia aos trechos de sua trajetória em imagens, acompanhados pela narração de palavras elogiosas que honraram bastante sua carreira.
A verve latina abriu e encerrou a cerimônia, fechando um círculo simbólico do tema da edição. A bailarina gaúcha Daniele Zill levou seus gestos flamencos para somar à festa, em uma interpretação que deixou os espectadores boquiabertos. A apresentação da artista que aniversariava naquela noite ainda teve uma fusão com o samba de Adoniran Barbosa, bem ao estilo das “mezclas” do Festival da Fronteira. A última convidada a subir ao palco foi a cantante de tango argentina Julieta Laso, com dois números viscerais e bastante eloquentes, já na madrugada de domingo (28).
O grande destaque da premiação foi o longa brasileiro-argentino "A Transformação de Canuto", de temática e realização indígena, dirigido por Ariel Kuaray Ortega e Ernesto de Carvalho, que levou melhor filme, júri popular e montagem. Na apresentação do título que abriu a mostra competitiva no Cine 7 de Bagé, o curador Roger Lerina justificou sua seleção pela qualidade artística e pelo aspecto cultural de trazer a visão de mundo dos povos originários das nossas fronteiras. Ernesto comentou na ocasião que o coletivo experimentou o limite entre ficção e documentário para chegar a uma nova forma de fazer cinema.
Depois da premiação, o diretor agradeceu os troféus, afirmando: “Quando a gente encontra uma razão, um sentido para fazer o que fazemos, não tem mais nada que nos pare, nenhuma dificuldade, nenhum obstáculo. E esse prêmio é um incentivo para continuar acreditando e fazendo o que fazemos coletivamente e individualmente no cinema, nessas nossas sociedades da Fronteira tão problemáticas”.
O também pernambucano "Seu Cavalcanti", de Leonardo Lacca, conquistou melhor direção e prêmio de júri da crítica, que justificou o destaque pela universalidade da narrativa em um longa que se baseava em um personagem cativante.
:: Premiação do Festival da Fronteira destaca regionalidades e potências do mercado ::
Coprodução entre Cuba e Venezuela, "Sotavento", de Marco Salaverría Hernández, foi o vencedor da Mostra Internacional de Curtas-metragens. O uruguaio "Carne", de Facundo Ferreira, foi agraciado com melhor direção. Giovanni Venturini recebeu distinção de atuação por "Big Bang" (Brasil/França). "Onde a Floresta Acaba" (SP), de Otavio Cury, e "La Gauchada" (Argentina), de Juan Follonier e Gastón Calivari, foram premiados com menção honrosa e júri popular, respectivamente.
Na Mostra Regional de Curtas-Metragens, o destaque foi o bajeense "Os Ausentes", de Jeferson Vainer, que ganhou melhor filme e roteiro. Foram momentos muito bonitos da noite, pois o diretor acompanha o evento desde o início, produzindo os registros audiovisuais do festival há anos, e saiu desta edição reconhecido pelo seu talento como cineasta, por uma obra que rendeu comentários bem positivos pelos espectadores.
Já laureado pela crítica em Gramado, no ano passado, "O Centenário da Minha Bisa", conquistou direção e fotografia em Bagé. Realizado em Alvorada, o projeto de Cristyelen Ambrozio dialoga com a proposta do evento, pois discute a identidade do povo gaúcho em relação ao seu território rural e fronteiriço.
Premiados XV Festival Internacional de Cinema da Fronteira
Mostra Internacional de Longas-metragens
Melhor Filme: "A Transformação de Canuto" (Brasil-PE/SP), de Ariel Kuaray Ortega e Ernesto de Carvalho (Brasil)
Melhor Direção: Leonardo Lacca, por "Seu Cavalcanti" (Brasil-PE)
Melhor Fotografia: Gerardo Azar e Matías Mayolo, por "La Otra Memoria del Mundo" (Argentina)
Melhor Montagem: Ernesto de Carvalho e Tatiana Almeida, por "A Transformação de Canuto"
Melhor Roteiro: Felipe Carmona, por "Penal Cordillera" (Chile/Brasil)
Melhor Atuação: Eva Bianco, por "Las Cosas Indefinidas" (Argentina)
Melhor Direção de Arte: Toni Vanzolini, por "O Diabo na Rua no Meio do Redemunho" (Brasil-RJ)
Menção Honrosa: Elenco principal de "Penal Cordillera"
Prêmio da Crítica: "Seu Cavalcanti", de Leonardo Lacca
Melhor Filme - Júri Popular: "A Transformação de Canuto"
Mostra Internacional de Curtas-metragens
Melhor Filme: "Sotavento" (Cuba/Venezuela), de Marco Salaverría Hernández
Melhor Direção: Facundo S. Ferreira, por "Carne" (Uruguai)
Melhor Atuação: Giovanni Venturini, por “Big Bang” (Brasil/França)
Menção Honrosa: "Onde a Floresta Acaba" (Brasil-SP), de Otavio Cury
Melhor Filme - Júri Popular: "La Gauchada" (Argentina), de Juan Follonier e Gastón Calivari
Mostra Regional de Curtas-metragens
Melhor Filme: "Os Ausentes" (Bagé-RS), de Jeferson Vainer
Melhor Direção: Cristyelen Ambrozio, por "O Centenário da Minha Bisa" (Alvorada-RS)
Melhor Atuação: Marina Greve, por "Sombras da Mente" (Porto Alegre-RS)
Melhor Fotografia: "O Centenário da Minha Bisa"
Melhor Montagem: Gabriel Pereira, por "Impostor" (Rivera-Uruguai);
Melhor Roteiro: Jeferson Vainer e Tamile Padilha, por "Os Ausentes"
Melhor Direção de Arte: Geórgia Flores, por "Sombras da Mente"
Melhor Filme - Júri Popular 1: "A Fabulosa Estância São Lauro" (Bagé-RS), de Guilherme Monteiro
Melhor Filme - Júri Popular 2: "O Conto do Tarran" (Bagé-RS), de Carmen Lucia Moreira
Mostra de Curtas de Animação
Melhor Filme: "Hide & Seek" (Palestina/Espanha/Turquia/Líbano/Holanda/França/Síria), de Rami Abbas
Melhor Filme do Júri Popular: "Pororoca" (Brasil-MG), de Fernanda Roque e Francis Frank
III Mercado Sur Frontera WIP LAB
Prêmio Destaque - Tutores: "Solo", de Lucas Scavino, Daniel Botti e Laura Fraile
Prêmio Destaque - Júri Pitching: "Solo"
Prêmio FRAPA: "Perigo Crocodilo", de Débora Mamber, Flavio Botelho y Daniela Capelato
Prêmio FUGA_LAB: "Badass: Bumbum do Mal", de Bruna Bandeira da Luz y Rober Corrêa (consultoria de roteiro de um ano)
Prêmio Maria Angela de Jesus de Consultoria de Roteiro 1 (consultoria para três versões do roteiro): "Deus nos Guie”, de Alice Stamato e Gustavo Auricchio
Prêmio Maria Angela de Jesus de Consultoria de Roteiro 2: "A Hora Sem Nome", de Richard Tavares e André Novais Oliveira
Prêmio FIDBA (credencial/vaga para o lab WIP): “Palimpsesto”, de André Di Franco, Felipe Canêdo e Samuel Quintero
Prêmio Lab da Semana do Cinema Brasileiro em Buenos Aires: "Deus nos Guie"
Prêmio Mercado Audiovisual de Trancoso (vaga garantida para participar da segunda edição): "Fragilidades", de Paula Santos
Edição: Katia Marko