As periferias de Porto Alegre vivem uma situação bastante dramática e ainda sentem as consequências da pandemia. Situação amplificada pela ausência de políticas públicas que minimizassem as dificuldades enfrentadas nos territórios. O diagnóstico é feito por Fabiano Negreiros, um dos integrantes do Fórum Social das Periferias de Porto Alegre, que chega a sua segunda edição. Organizado por lideranças comunitárias e militantes de base, o evento será realizado de 1º a 5 de maio de 2024, na capital gaúcha, de forma descentralizada.
:: 1º Fórum Social das Periferias de Porto Alegre encerra com atividade político-cultural ::
Morador da Vila Cruzeiro e militante do Fórum, Fabiano ressalta que dentre as tantas demandas das periferias está a questão da segurança alimentar, que de acordo com ele representa um imenso problema. “A fome é uma realidade e o poder público precisa cumprir com seu dever legal de trabalhar profundamente pela mínima existência digna das pessoas. Uma iniciativa importante que tivemos e temos nos territórios são as cozinhas solidárias, que na ausência do Estado cumprem um papel fundamental na ajuda para as famílias”, pontua.
Ele também destaca a questão da saúde. Segundo o militante, em Porto Alegre há muitos postos de saúde que foram fechados pelo governos municipais atual e anterior. Ele critica que, embora tenha sido uma promessa de campanha do atual prefeito, ele "simplesmente não cumpre o que prometeu em reabrí-los". Outra demanda concreta na saúde, assinala, é o retorno dos médicos cubanos que o governo federal deveria encampar, "mas até agora nada".
Na área da educação não é muito diferente, conforme Fabiano. Ele relata que as escolas municipais sofrem com falta de investimento e gestão, problemas estruturais alimentação inadequada, falta de professores e valorização desses trabalhadores.
"O saneamento básico adequado em muitas comunidades ainda representa um problema grave. O transporte público é outro problema sério que tem como consequência ônibus lotados nos horários de pico com as pessoas abarrotadas dentro dos ônibus e ainda com uma passagem cara. Enfim, são apenas alguns exemplos das dificuldades que a população em Porto Alegre sofre no dia a dia", complementa.
Construção das bases a partir do coletivo
De acordo com Carla Ribeiro, do GT de comunicação do Fórum, o evento surgiu da mobilização nos territórios, em torno de debates sobre a realidade e reinvindicações das comunidades. Conforme complementa Fabiano, o Fórum nasce a partir de vários sentimentos e anseios de lideranças comunitárias e militantes de base que se pode traduzir na busca de um espaço que todos tivessem voz, e se sentissem protagonistas de um movimento coletivo criado a partir das vilas.
“Por isso, a nossa lógica de construção interna é totalmente pensada a partir do coletivo. Por isso, não temos presidência, coordenação ou mesmo diretores. Basicamente temos três instâncias de organização interna: a plenária geral que é nossa instância maior de decisão, na qual os rumos e decisões do Fórum são deliberados. Temos também os grupos de trabalho temáticos que são permanentes e tem total autonomia para construção de suas atividades e tarefas, sendo necessário apresentar na plenária. E por último temos comissões que são tiradas em plenárias para tratar de temas específicos. Ou seja, toda a estrutura do Fórum é pensada para privilegiar o processo plural e democrático de participação”, descreve.
Programação
Fabiano destaca que a luta comunitária tem papel fundamental para melhoria de vida nas comunidades. Segundo ele, nesse cenário as experiências, desafios e vivências sempre ficam localizadas nos territórios. “O Fórum tenta justamente aproximar as comunidades através das atividades que ocorrem a cada edição, bem como o trabalho dos grupos que constituem a sua essência”
Para a segunda edição as atividades foram divididas em 14 eixos temáticos: Saúde, Habitação, Cultura e Juventude, Feminismo de periferia, Economia Solidária, Democracia Participativa e Orçamento Público, Formação Política de base, Meio Ambiente e causa animal, Transporte Público, Combate ao Racismo, Educação, Acessibilidade e Diversidade e Comunicação Popular.
“As atividades serão importantes espaços para reflexões, trocas, discussões e encaminhamentos, contribuindo para a organização e o protagonismo das bases nos processos de decisões das políticas da cidade’, destaca Carla.
A programação terá início na próxima quarta-feira (1º) com uma caminhada, com concentração às 9h, na rua Adelino Ferreira, no bairro Rubem Berta. Depois da caminhada será servido almoço, apresentações culturais.
“Como dizemos sempre o Fórum é uma criança que nasceu adulta, e temos consciência do longo caminho que temos pela frente a partir das lutas que o movimento se propõe a fazer e dão sentido a sua existência, mas talvez um dos passos mais difíceis já foi dado que é justamente a sua construção inicial”, finaliza Fabiano.
Veja neste link a programação completa do Fórum Social das Periferias de Porto Alegre.
Edição: Marcelo Ferreira