Ao sair de idolatrar o universo psicológico, nos preparamos para o encontro REAL, com Pachamama
Ao longo da história da América, desde o Alaska até a Terra do Fogo, se escondem práticas valiosas, poéticas e misteriosas que a humanidade perdeu porque essa cultura foi menosprezada pelos que chegaram nos séculos da conquista.
O pensamento que fala dentro de nós não provém da percepção, é uma reação mecânica. Entretanto, a percepção ocorre em outro nível, não pessoal nem influenciada pelos estímulos do inconsciente nem da memória.
A consciência dá luz à percepção, à luz da atenção.
Os seres humanos podem pensar e perceber. Em nosso universo energético somos preceptores, mas estamos tão entregues à tagarelice do pensamento e emoções que não conectamos com as possibilidades de perceber.
Isso não é casual, o ego, essa identidade psicológica com que nos defendemos do fluxo silencioso e fresco da Vida, tem como fundamento o pensar em palavras, a descrição interna de nós mesmos, pondo categorias às emoções e aos fatos. Nos contamos a vida a nós mesmos e assim criamos realidades que nos aprisionam.
É por isto que os antigos abuelos e abuelas andinas, mexicas, tehuelches, aymaras, guaranis, etc., compreenderam a necessidade de retornar à Casa, ao silêncio consciente e sensível, e liberar-nos do peso dessa conversa caótica.
Quase não nos damos conta da diferença entre pensar e perceber, até o ponto que a percepção segue o pensamento, como projeção do pensamento ou emoção. Construindo realidades, que não são reais.
A percepção ocorre quando há uma suspensão do apego ao pensamento e as emoções superficiais. É surpreendente que existe neste instante um fluxo REAL, que não é imaginário, senão beleza e apreensão que surge no REAL da percepção.
Isso ocorre, se revela, quando nos vinculamos desde uma consciência com a atenção desperta, a este espaço sem o véu dos pensamentos, percebendo um agora real, que é poder e é liberdade.
Esta recuperação perceptual ocorre desde o silêncio interno desperto, que se vincula com o Real, com Pachamama.
Chamamos este Interser: Consciência Pachamama.
Ao sair de idolatrar o universo psicológico - em que nos criaram e se manifesta em pensamentos, diálogos internos, emoções surgidas da cultura, etc, - nos preparamos para o encontro REAL, com Pachamama.
Há algo denso, unido, sentado no fundo do silêncio, cantando em seu fino idioma sem palavras, é sonho cósmico de geografias unidas a criaturas e a anjos de terra e sol, neste encontro amoroso entre a consciência silenciosa e sua predileção: Consciência Pachamama.
Vivemos nesse Jardim em uma substância saborosa, viva, de cor comum, silenciosa como a velha mãe que É, viajamos pelos dias na doce e sonora nutrição fiel do silencioso amor de Pachamama.
* Mestres Andinos
** Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko