Está na hora de Porto Alegre trocar de prefeito. Tem eleição este ano e os caminhos já começam a ser delineados. O prefeito que aí está, Sebastião Melo (MDB), já se lançou pré-candidato propondo paz e amor, nada de ódio ideológico, e mais um monte de abobrinhas. Para construir alguma coisa e consertar o que a cidade vive e enfrenta fez muito pouco. Deixou nos últimos anos mais confusão no desenrolar da metrópole dos gaúchos do que certezas para o futuro.
Questão do lixo não foi resolvida. Os contêineres estão pela hora da morte. A cidade está suja e não é culpa dos catadores. As ruas continuam esburacadas, como sempre. Qualquer chuva que cai derruba um monte de árvores por todos os cantos da cidade e a limpeza demora mais do que uma missa. Bem mais, aliás.
Os postos de saúde funcionam mais ou menos. Quando se consegue agendar, o atendimento sai sem longas esperas. As emergências sempre estão lotadas quando aumentam as exigências. A questão da energia não é problema do prefeito, é da desqualificada CEEE Equatorial, mas a iluminação pública, coisa da gestão municipal, é um caos. Poucos lugares e ruas são bem iluminados.
O Centro Histórico vive um festival de obras intermináveis, confundindo a população. As obras são necessárias, mas, cá pra nós, podiam ter um rigor maior dos contratantes com as construtoras. As escolas municipais estão mal na foto em termos estruturais. Logo agora, ano eleitoral, foi feita uma licitação para uma reforma geral destes locais. Quase R$ 100 milhões em investimentos.
Há também a questão ambiental em jogo. Parques e praças estão em situação precária, salvo alguns locais de população privilegiada. Guaíba e a sua orla melhoraram, parecem espaços mais democráticos. Vilas e bairros distantes da área central, tipo classe C, não recebem grandes benefícios. Vivem ao deus dará.
Enquanto isso proliferam por aí espigões, com o domínio de incorporadoras fortes, ricas, poderosas. A facilidade com que constroem em qualquer espacinho causa até brincadeiras ou deboches nas redes sociais. Chamam o prefeito de Melonick, Melojama ou outras derivações. Enfim, ainda há muitos lances que podem definir Porto Alegre como uma cidade feia, vide a entrada da cidade, Avenida Farrapos, mais horrível chega a ser impossível. Há predicados, evidentemente, para não ser cruel demais.
O prefeito Melo ainda não definiu quem será o seu vice. Ricardo Gomes (PL), o atual vice, já desistiu. Questões de composições políticas e outros desejos. Talvez seja a vereadora Comandante Nádia (PL), que desistiu da candidatura do Senado em 2022 para apoiar o eleito Hamilton Mourão e mudou de partido, abandonando o PP. Tem Simone Leite, ex-presidenta da Federasul, a federação das associações comerciais do Estado e integrante do PP, mas ela não aceitou nem mudar domicílio eleitoral. É de Canoas. Melo acha que é meio imbatível para a reeleição em razão do apoio da turma do Bolsonaro. Mas quem ganhou em Porto Alegre na eleição presidencial de 2022 foi Lula.
Outra candidatura quase certa para a disputa é a da deputada Maria do Rosário, do PT. Por negociações praticamente consumadas, o partido estará unido pela primeira vez com o PSOL em eleições municipais na Capital. Estará ao lado de Rosário a funcionária pública e militante do Movimento Negro, Tamyres Filgueira, do PSOL.
Dia desses, grupo de jornalistas com longa militância na imprensa da Capital, hoje aposentados, almoçaram com o ex-governador e ex-prefeito Olívio Dutra, e ouviram dele de que está engajado na campanha de Rosário. “Sou soldado do partido. Estamos prontos para enfrentar o que aí está”, disse ele. Olívio acha que a cidade não está bem e precisa de uma sacudida. “Nada como a candidatura de uma mulher valente, corajosa, para colocar ordem nas coisas e enfrentar a agenda neoliberal que está vigorando em Porto Alegre”, disse.
:: ‘Temos a possibilidade real de eleger uma mulher prefeita’, avisa presidenta do PT municipal ::
A presidenta do PT Municipal, a deputada estadual Laura Sito, acha que está na hora da Capital ter uma mulher prefeita. Nunca teve. A hora é agora, afirma ela. “Já faz algumas eleições que pode mudar, já poderia ter mudado. Nem sempre tivemos a unidade para construir isso, mas acredito que hoje temos tudo para consolidar essa virada de chave histórica”, disse ela em entrevista para o BdF, há poucas semanas.
“Ainda que não tenhamos candidaturas femininas eleitas, tivemos um ótimo desempenho durante as campanhas. A própria Rosário em 2008, a Manuela 2020. Então, vamos para mais uma eleição onde a gente tem a possibilidade real de eleger uma mulher como prefeita de Porto Alegre”, afirmou. A construção da candidatura conjunta com o PSOL é um dado positivo, unindo várias correntes da esquerda e de políticos que até ontem não admitiam tal situação.
Apesar da movimentação estar apenas no plano do razoável de outras candidaturas discute-se por aí ainda as possibilidades de Juliana Brizola (PDT), sem cargo político atualmente, se lançar na disputa. Tem poucas chances de ser eleita. Deve, quem sabe, se lançar à vereança, onde ganha vaga, com certeza, pelo seu sobrenome histórico na política riograndense.
Outra pré-candidatura é a do deputado estadual Thiago Duarte, do União Brasil, e de Any Ortiz, deputada federal do Cidadania. Muita água ainda vai rolar debaixo da ponte até que se definam todos os candidatos para a prefeitura de Porto Alegre.
O certo, porém, é que Melo e Rosário vão disputar rua a rua o caminho para chegar no segundo turno. Duas agendas diferentes. Está na hora do eleitor pensar bem em quem vai votar para a cidade finalmente ganhar o caminho de um futuro melhor para a sua população.
As eleições serão nos dias 6 e 27 de outubro.
* Jornalista
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko