Cerca de 590 famílias sem terra do Acampamento Sebastião Sales, em Hulha Negra, na Região Sul do Rio Grande do Sul, marcaram a data dos 28 anos do massacre de Eldorado do Carajás, com uma mística e o bloqueio por 19 minutos da faixa da BR 293 em frente ao acampamento na manhã de hoje.
Segundo a coordenadora do acampamento, Mariele Maciel, a ação faz parte da jornada nacional de lutas que acontece essa semana em todo o país com o lema “Ocupar para o Brasil alimentar”.
Até esta quarta-feira (17), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) contabiliza 28 ocupações de terras improdutivas. O número já supera as ações do tipo feitas pelo movimento nos anos de 2019, 2020 e 2021, segundo levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Em uma “carta ao povo brasileiro” sobre “o marco deste 17 de abril de 2024”, Dia Mundial de Luta Pela Terra, o MST explica as principais reivindicações da jornada nacional, com críticas ao que consideram insuficiente nas políticas de reforma agrária do governo Lula (PT).
A ação, informa Mariele, reforçou a importância da Reforma Agrária como alternativa urgente e necessária para a produção de alimentos saudáveis para a população do campo e da cidade, para combater a fome, e avançar no desenvolvimento do país, no contexto agrário, social, econômico e político.
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“Nós estamos acampados desde o dia 19 de outubro de 2023 neste local que é berço de 58 assentamentos, mas uma região que ainda possui uma grande concentração de terras nas mãos de poucos proprietários. Nós queremos terra para plantar, e a retomada das políticas públicas para fomentar a Reforma Agrária e a Agricultura Familiar, que são fundamentais para a superação da fome e insegurança alimentar no Brasil”, destacou.
Cidades nascem a partir dos assentamentos
Em 2024, a região completa 35 anos da conquista de assentamentos. Em 1989, quando os Sem Terras se deslocaram para lá, existia somente a cidade de Bagé. Depois da implementação de mais assentamentos, foram criados outros três municípios: Hulha Negra (1992), Candiota (1992) e Aceguá (1996).
A partir da luta pela terra, na época foram criados seis assentamentos. Os que atualmente estão localizados em Hulha Negra são os Assentamentos Nova União, Missões Alto Uruguai, Santa Elmira e Conquista da Fronteira. Já os situados em Candiota são os Assentamentos Santa Lúcia e Nossa Senhora Aparecida. Hoje nesses dois municípios, juntamente com Aceguá e Pedras Altas, há 2250 famílias assentadas em 58 áreas de Reforma Agrária.
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A região da Campanha, depois de mais de 30 anos de lutas, acumulou diversas conquistas. As cooperativas e as associações do Movimento somam-se em várias áreas da produção, como a Cooperativa Agroecológica Nacional Terra e Vida (Coonaterra), a primeira do Brasil a produzir, beneficiar, embalar e comercializar sementes de hortaliças agroecológicas, além de ter uma diversificada produção de grãos, forrageiras e adubação verde.
Segundo o dirigente estadual do MST, Ildo Pereira, os assentamentos da Reforma Agrária Popular para a região da Campanha foram fundamentais para o desenvolvimento da população e dos municípios daquele local. “Nós somos parte concreta e direta da emancipação de Hulha Negra e Candiota. No nosso assentamento nos orgulhamos de dizer que desde a nossa existência não teve nenhum caso de criança que morreu por má alimentação”, salienta.
Outro fato de orgulho para os assentados da região é a sua contribuição para a sociedade através de lutas do MST. “É difícil você pegar um município e não notar o crescimento das lojas e mercados com a chegada dos assentamentos na região. Os pequenos agricultores contribuíram para as comunidades, principalmente de Hulha Negra e Candiota, com a manutenção das estradas, acesso à energia e água potável”, relata Pereira.
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Edição: Katia Marko