Rio Grande do Sul

Transição energética

Assinado investimento de R$ 420 milhões para implantação de indústria siderúrgica na região da Campanha

Atos foram realizados em Porto Alegre, no Palácio Piratini, e em Candiota, onde será implantada a linha de produção

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Assinatura do contrato de cedência da área - Foto: Corbari

Em meio aos debates acerca da necessidade de uma transição energética que precisa ser ambientalmente responsável e socialmente justa, a região da Campanha do RS, território cuja principal matriz econômica é o carvão mineral, teve boas notícias nesta semana. Com atos públicos realizados em Porto Alegre, com a participação do governador Eduardo Leite (PSDB), de secretários de estado e coordenadores de autarquias, e em Candiota, com a participação de lideranças locais e regionais, foi anunciado pela empresa brasileira Vamtec Group e pelo grupo alemão ICMD o investimento de R$ 420 milhões para a implantação de uma indústria siderúrgica que vai beneficiar o carvão e produzir uma liga metálica baseada em ferro, silício e alumínio, produto a ser utilizado na desoxidação do aço pelo setor siderúrgico.

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Conforme explicaram os empresários, o carvão com alto teor de cinzas – característica do mineral encontrado na região de Candiota – é o mais adequado para a utilização da técnica desenvolvida pela pesquisadora cazaquistanesa Alma Terlikbayeva, e patenteada pela ICMD. A pesquisadora fez questão de acompanhar os atos e visitas técnicas realizadas no local onde a indústria vai ser implantada e também nas que poderão fornecer a matéria prima para a linha de produção – operadas pela Copelmi e pela CRM.

Jurgen Hein, CEO da ICMD, explicou que a ferroliga FeSIAI – ferro, silício e alumínio – utiliza a redução do carvão com alto teor de cinzas para criar um produto alternativo, mais barato e com melhor rendimento do que aquele que vem tradicionalmente sendo utilizado pela indústria siderúrgica na desoxidação de aço. O grupo alemão detém a licença global deste processo. Impressionado com a potencialidade de produção, ele indicou que a proposta original do projeto poderá ser triplicada já neste momento de arrancada.

Jose Varella, que está à frente da Vamtec Group, apontou que na primeira etapa do projeto existe previsão para uma capacidade de fabricação de 36 mil toneladas ao ano dessa liga, sendo que o Brasil tem potencial para um consumo de 170 mil toneladas anuais. Nesta fase inicial do projeto será demandada cerca de 150 mil toneladas por ano de carvão. Na etapa posterior, serão dobrados os números, com uma produção de 72 mil toneladas de liga e 300 mil toneladas de carvão consumidas anualmente.


Visitação ao espaço onde vai ser construída a indústria / Foto: Corbari

Autoridades consideram início da transição energética de fato

Em Candiota foi assinado o termo de cedência da área onde a indústria será construída, concedida pelo município para as empresas Vamtec e ICMD, localizada junto a um parque industrial que já conta com infraestrutura prévia pronta. A próxima fase agora é obter as licenças ambientais para dar início à obra. O prazo proposto pelos empresários para início das atividades é até o fim de 2027. Outro ponto destacado pelos gestores do projeto é a geração de empregos: serão cerca de mil operários trabalhando na construção da estrutura, que depois manterá cerca de 330 trabalhadores e trabalhadoras em postos de trabalhos fixos para sua operação, estimando em cerca de 1.500 postos de trabalho gerados entre diretos e indiretos.

O prefeito Luiz Carlos Folador (MDB) afirmou que com a assinatura da documentação de cedência da área realizada em Candiota e os protocolos assinados junto ao governo do estado em Porto Alegre, inicia uma nova fase para o município e para a região. As frentes de mobilização e organização para a transição energética justa e a não cessação imediata da geração de energia através das duas unidades térmicas que estão em operação no município seguem seu trabalho, mas outras frentes que buscam diversificar a utilização da principal riqueza mineral da região – o carvão – já estão encontrando seus primeiros resultados práticos. Folador citou todas as organizações que têm somado esforços na defesa das pessoas que sobrevivem no entorno da matriz produtiva associada ao carvão mineral.

Frei Sérgio Görgen, diretor do Instituto Cultural Padre Josimo e um dos coordenadores das ações do Polo de Inovação Energética e Ambiental do Pampa Gaúcho, ressaltou a diferença que um empreendimento assim reflete na comunidade. “Entendemos que o carvão mineral não pode ser marginalizado, mas não se trata de defender o carvão, se trata de defender as pessoas, elas sim têm direito a ter acesso a um programa de transição energético que seja ambientalmente justo e socialmente inclusivo”, afirmou.


Pronunciamento do CEO da empresa alemã ICMD, Jurgen Hein / Foto: Corbari

Outros investimentos na região podem chegar a R$ 4 bi

A implementação do Polo Carboquímico de Candiota – iniciativa considerada chave para a transição energética na localidade e na regição que atualmente conta com duas plantas de mineração ativas e duas usinas termeléricas em atividade, deve receber ainda aportes mais vultuosos por parte da Vamtec Group e pela estatal chinesa CNCEC, para colocar em operação outra planta industrial voltada à gaseificação do carvão e a produção de metanol e ureia, entre outros produtos.

Varella lembrou que faz pelo menos uma década que o grupo vem trabalhando nesse outro projeto, período em que as relações estiveram em construção e a expertise tecnológica foi sendo alcançada. “Agora o projeto está maduro o suficiente para assinar um compromisso com eles (chineses)”, afirma o empresário, colocando o mês de maio como o período em que inicialmente vão receber o grupo na sede da empresa no Brasil, para depois partirem até a China onde vão assinar os protocolos de parceria deste novo empreendimento.

“Com a perspectiva de aumento da mistura do biodiesel na fórmula do diesel, elevamos a previsão da capacidade da fábrica de metanol de 200 mil toneladas ao ano para 300 mil toneladas anuais”, explicou Varella. Nesse empreendimento, ele estima um investimento em torno de R$ 4 bilhões e projeta a perspectiva de um consumo de carvão na ordem de 2 milhões de toneladas ao ano.


Edição: Marcelo Ferreira