Canoas tem 347.657 habitantes, com um crescimento absoluto de 23.830 habitantes, o maior da RMPA
Em 2023 o IBGE divulgou os primeiros resultados do Censo Demográfico de 2022. Foram mudanças significativas no comportamento demográfico da população brasileira. No RS também tivemos importantes mudanças, especialmente no ritmo de crescimento da população. Estas refletiram no comportamento da Região Metropolitana de Porto Alegre, que “estagnou”, mas de modo muito desigual. Basta relembrar que apenas dez dos 34 municípios metropolitanos, tiveram perda populacional, inclusive a capital, Porto Alegre, a qual perdeu 76 mil habitantes entre 2010 e 2022, refletindo na RMPA como um todo.
Neste artigo apresentamos alguns números do Censo Demográfico de 2022 para o município de Canoas. Trata-se do segundo mais populoso da RMPA e o terceiro do Rio Grande do Sul. Assim como é o segundo maior PIB da RMPA e o terceiro do estado. De acordo com o IBGE, Canoas contabilizou 347.657 habitantes, com um crescimento absoluto de 23.830 habitantes (o maior da RMPA), ou um crescimento relativo de 7,46%, o que representa um aumento do ritmo de crescimento populacional no município (entre 2000 e 2010 a população cresceu 5,79%).
Este crescimento não foi homogêneo nos 131 km² do município (um território pequeno e de elevada densidade demográfica), com bairros com maior e menor crescimento (e até diminuição da população). Dos 18 bairros oficiais, sete registraram diminuição e dez tiveram incremento populacional (a Ilha das Garças não é habitada).
Recentemente o IBGE divulgou os dados de população e domicílios por setor censitário referente ao Censo 2022. Com isso, foi possível contabilizar o número de moradores por bairro no município. Os bairros mais populosos (figura 1) da cidade respectivamente são Mathias Velho (43.263), Guajuviras (40.803), Harmonia (34.802), Niterói (33.002) e Estância Velha (30.519). Já os bairros com menos moradores são Ilha das Garças (zero), Industrial (32), Brigadeira (437) e São Luís (4.407).
Figura 1 – População absoluta dos bairros de Canoas (Censo 2022)
Quanto à variação da população dos bairros entre 2010 e 2022 (figura 2), observou-se crescimento nos bairros Igara (94%), São José (84%), Fátima (53%), Mato Grande (46%) e Olaria (46%). Já as maiores perdas percentuais foram dos bairros Industrial (-67%), Brigadeira (-25%), e Niterói (-13%).
Nos bairros em que houve incremento populacional destacam-se as novas áreas de expansão urbana e o aumento da verticalização, como se observa nos bairros Igara, São José, Mato Grande, Marechal Rondon, Fátima e Olaria. Já entre os bairros em que houve decréscimo da população, destacam-se aqueles com urbanização mais antiga e de origem operária, onde ocorre o esgotamento da expansão urbana, além da pouca atração para a verticalização, como evidenciado no Mathias Velho, Harmonia, Rio Branco e Niterói.
A exceção entre os bairros com diminuição populacional é o Nossa Senhora das Graças. Este, apesar de ser um antigo bairro operário, passa por recente verticalização e valorização, atraindo empreendimentos de alto padrão de poucas unidades habitacionais. Os bairros mais ao sul são impactados pela proximidade com Porto Alegre e pela importância do eixo da BR-116 no seu desenvolvimento. Este eixo, no seu trecho sul em Canoas, encontra-se em situação de desindustrialização, com a presença de terrenos e galpões industriais abandonados.
Apesar do maior percentual de perda dos bairros Brigadeira e Industrial, estes possuem pequeno contingente populacional. No caso do Brigadeira, houve atualização do território com perda do único loteamento residencial do bairro e os loteamentos de implementação recente ainda são pouco habitados.
Figura 2 – Variação da população nos bairros de Canoas (Censos 2010 - 2022)
Com relação a diferença absoluta, o bairro com o maior ganho de população foi o Igara (9.813 moradores), seguido pelo São José (8.388) e Fátima (6.731). Já os bairros que mais perderam moradores, destacam-se o Mathias Velho (-5.543), Niterói (-5.476) e Harmonia (menos 4.271 moradores). Canoas, assim, repete um padrão metropolitano deste Censo, no qual determinados bairros, reconhecidos como de piores indicadores sociais (no caso do Mathias Velho), registraram perda populacional.
Quanto aos domicílios (figuras 3 e 4), Canoas também seguiu um padrão nacional. Diferentemente da população, houve aumento generalizado no município, sendo os únicos bairros com redução, o Industrial e o Brigadeira. O restante, mesmo os que apresentaram reduções significativas da população, apresentaram aumento no número de domicílios. Os bairros com maior incremento foram Igara e São José, os mesmos que apresentaram maior aumento populacional.
Figura 3 – Variação absoluta dos domicílios em Canoas (Censos 2010-2022)
Figura 4 - Variação relativa dos domicílios em Canoas (Censos 2010-2022)
Assim podemos considerar que Canoas seguiu tendências metropolitanas, com incremento populacional e grande crescimento no número de domicílios. O crescimento dos domicílios ocorreu, sobretudo, em setores de classe média (Igara, São José e Marechal Rondon), o que indica um interesse do mercado imobiliário nestas áreas. Assim, não necessariamente o crescimento de domicílios se traduz em diminuição do déficit habitacional, pois ele atende bairros onde existe uma demanda solvável.
Outro ponto de destaque é a relativa “estagnação” do Centro da cidade, assim como a perda demográfica dos extremos, especialmente os bairros ao sul e mais próximos de Porto Alegre. Posteriormente outros indicadores poderão ser analisados, como o número e a proporção de domicílios vagos (por bairro), sua ocupação média e a idade e renda média da população dos setores.
Canoas, como um município central e metropolitano por excelência, merece um olhar especial de pesquisadores e planejadores e, especialmente, de seus dirigentes e atores sociais.
* Matheus Platiz Nepomuceno, Geógrafo/Analista de Geoprocessamento. Prefeitura Municipal de Canoas/RS. Mestrando em Geografia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Paulo Roberto Rodrigues Soares, Professor do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-graduação em Geografia da Ufrgs e pesquisador do Observatório das Metrópoles, Núcleo Porto Alegre.
* Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko