Será possível enfrentar 2024 com fé e coragem e lutar por direitos e democracia
Ninguém é de ferro. Ainda mais depois de tudo que aconteceu, em plano pessoal e político, em 2023, e está acontecendo em 2024, nos seus primeiros meses. Desculpem-me, amadas leitoras, amados leitores, por um artigo sobretudo pessoal, depois de um mês inteiro falando da ditadura militar e do golpe de 1964.
2023 foi ano de mil coisas: cuidar da saúde (próstata), aos 72, início do terceiro governo Lula, 40 anos da ONG CAMP, Centro de Assessoria Multiprofissional, da qual sou fundador, ser nomeado para a Comissão do Articula PNEPS-SUS, Política Nacional de Educação Popular em Saúde, em nome do CEAAL, Conselho de Educação Popular da América Latina e Caribe, ser Delegado da Conferência Nacional da Saúde, mais trocentas coisas, lives, escritos e tudo mais que se possa imaginar de um idoso passado dos setentinha. Foi difícil, mas sobrevivi.
Os dois primeiros meses de 2024 foram ainda mais intensos: Reuniões e mais reuniões, preparando as políticas da PNEPS-SUS, organização dos processos de participação popular em conversas com o governo federal, preparação do 12º Encontro nacional do Movimento Fé e Política, dias 5, 6 e 7 de abril em BH, com o tema Espiritualidade Libertadora: Encantar a Política, com Arte, Cultura e Democracia, organizar um Curso estadual de Fé e Política no Rio Grande do Sul, começar o processo eleitoral em Porto Alegre – Assembleia popular na Lomba do Pinheiro e Partenon, reuniões em Venâncio Aires, Estrela e Vale do Taquari -, participar do processo de eleição de conselheiros do CMDUA, Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano e Ambiental, com estrondosa vitória na Lomba do Pinheiro, cuidar dos problemas de saúde de um irmão, mais mil coisas, lives, etc., etc., etc., no limite da vida.
Tudo isso é tão somente um resumo do resumo do que venho participando, aos quase 73. Mais que necessária, portanto, uma pausa: tentativa de descanso, pra variar, nas Praias da Armação e Matadeiro, na querida Florianópolis, Floripa para os íntimos, como venho fazendo há mais de década. Descanso em meio às lives (recebi justa bronca da cunhada Rejane), da escrita regular dos artigos semanais (mesmo com a sugestão da Katia, do Brasil de Fato RS, de eu parar uns dias pra descansar de fato e pra valer). Receber um bom dia das pessoas de manhã cedo na praia, ´roubar´ umas pitangas gostosas, ler um bocado, tomar um chima, saboreando, pensar na vida, preparar o corpo e a cabeça pra chegar nos 100 bem vividos.
Chegar na Armação, no Matadeiro é muito, muito especial. Mais especial, almoçar no Arante, no Pântano do Sul, feliz da vida, com o amigo e companheiro Zeca Vermohlen, analisar juntos a difícil conjuntura brasileira e mundial, colocar as novidades e fofocas em dia.
Mas estamos em 2024! Não poderia, depois do que já aconteceu nos primeiros meses, escapar sem problemas na viagem de descanso. Saí de Porto Alegre dia 12 de março, depois das festas de aniversário com a família do mano mais novo, Marino, em Santa Emília, na terrinha. Tudo tranquilo, aparentemente. Mas não.
Viagem normal, tranquila, saindo de Porto Alegre, até Jaguaruna, a uns 120 kms de Floripa. Avisei o Gui, Guilherme, que organiza minha hospedagem na Armação, de que chegaria entre 12 e 14h. Dou uma paradinha de uns 10 minutos na beira da estrada. Volto pro carro. Problemas: o acelerador não funciona mais direito, um barulho tipo buzina atormenta os ouvidos, fumaça sai no cano de trás. Procuro um mecânico no primeiro posto de gasolina. Não consegue arrumar. Problema sério, diz ele. Entro em contato com o João, do Seguro do carro. Chega um caminhão guincho: leva o carro, eu na carona, até o destino final, Armação. Descarrego tudo, o irmão do Gui, Yorran, me guia para uma oficina mecânica.
Uma semana depois, terça seguinte ao início da viagem, 18.03, busco o carro, consertado. Sigo feliz de volta pra Armação. Férias, espero, finalmente começando, sem mais preocupações. Ledo engano, diria alguém. Quase chegando, ouço um barulho estranho no motor, não consigo manobrar a direção. Resultado: dia seguinte, voltar à oficina. Um tal de fio hidráulico se desprendeu. Felizmente, desta vez, tudo arrumado rápido.
Ou seja, os primeiros dias de suposto descanso ficaram congelados na cabeça. Penso: é o que acontece quando um militante de todas as horas, aposentado do INSS, resolve tirar uns dias de folga, em ano lotado de coisas, de eleições. Mas, dou-me conta. Sempre há vantagens em tudo, mesmo nos piores dias: gastar pouco, ou quase nada, até saber quanto vai custar o conserto do carro. E caminhar, caminhar, caminhar muito. Até praia do Campeche, uns 8 kms, até o Arante, no Pântano do Sul, uns 6 kms, como fiz, a pé. Na volta das caminhadas, aprendi a andar de ônibus em Floripa. Que é ´de grátis’, felizmente, pros mais de 65.
E há ainda outras coisas tri boas em dias de pausa e tentativa de descanso, que acabam amenizando tudo. Antes de viajar, fui presenteado com gostosuras para levar e diminuir os gastos, além de comer bem: frutas, legumes, verduras e espigas de milho do mano Marino; rapaduras da mana Elma; pães e potes cheios de comida da cunhada Rejane; moranguinhos do mano Bruno. Mais o que comprei antes de viajar: queijo da família Vogel, vizinhos da família; mel do primo Odilo Heck, de Santa Emília; cachaça Seidel, da Linha 17 de Junho, comunidade de origem de mamãe Lúcia; e, feliz e finalmente, um garrafão de vinho Favaretto, do município de Sério, de parentes de Frei Arcides e Décio Favaretto, amigos e companheiros, e reservado para um momento mais que especial. Tudo produzido em casa, pelas famílias, e da terrinha.
Assim, mesmo em contexto complicado, março acabou sendo tri, tri. A paixão, morte e ressurreição de Jesus adquiriram um sentido ainda mais forte e especial. Será possível enfrentar 2024 com fé e coragem e lutar por direitos e democracia.
À VIDA, AO PRAZER E AO AMOR! De vez em quando, a vida é mesmo muito boa. Viva 2024 e tudo que nos espera! ESPERANÇAR.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko