Rio Grande do Sul

Economia Solidaria

Seminário da Unisol RS reúne empreendimentos da alimentação e agricultura familiar no Litoral Norte

Debates, visitas e trocas de experiências entre empreendimentos marcaram o evento que ocorreu entre 22 e 23 de março

Brasil de Fato | Porto Alegre |
"A gente precisa insistir e buscar a criação de políticas públicas que atendam às nossas necessidades", defende a presidenta da Unisol RS, Nelsa Nespolo - Foto: Cátia Cylene

Com o objetivo de fortalecer e qualificar os seus filiados e contribuir com a reestruturação da política de economia solidária gaúcha, a Central de Empreendimentos Econômicos Solidários no Rio Grande do Sul (Unisol RS) promoveu seminário, visitas e trocas de experiências entre empreendimentos da economia solidária da setorial da alimentação e agricultura familiar. O evento, realizado em parceria com a Ecotorres, Coopernativa, Centro Ecológico e Econativa, ocorreu no litoral norte, de 22 a 23 de março.

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Na sexta-feira (22) teve visita em propriedade rural e agroindústria de Morro Azul e Morrinhos do Sul e a cooperativas de Três Cachoeiras e de Torres. Participaram mulheres representantes de empreendimentos de Rio Grande, Pelotas, Santana do Livramento, Caxias do Sul, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Canoas, Porto Alegre, Viamão, Três Cachoeiras, Torres e Passo Fundo.

A partir da compreensão da alimentação como base organizativa da sociedade, as visitas e trocas de experiências possibilitaram conhecer a Cadeia Produtiva Solidária das Frutas Nativas do Rio Grande do Sul. A organização envolve empreendimentos e articulações do campo agroecológico e da economia solidária com objetivo de dinamizar a produção, o processamento e a distribuição de alimentos que estimulem a conservação da biodiversidade local, gerando protagonismo e complementaridade nos processos produtivos e nos fluxos econômicos.

Assim, butiá, açaí da palmeira juçara, guabiroba e goiaba deram o sabor principal a picolés, sorvetes, polpas, sucos, croquetes, pastéis e bolachas servidos durante o intercâmbio. Uma amostra da potência da cadeia que envolve a produção de 546 famílias, num total de 200 toneladas de produtos comercializados.

Cadeia das frutas nativas

Conforme a assessora técnica do Centro Ecológico, Carla Dornelles, a Cadeia Produtiva Solidária das Frutas Nativas mantém 10 unidades comunitárias de recolhimento e armazenamento de produtos, 4 unidades de processamento, sendo Morro Azul a principal referência, 34 produtos alimentares e 1 produto de tinturaria. Ao todo são 5 grupos de consumidores, envolvendo 320 famílias, 2 cooperativas e 4 rotas de distribuição em 60 municípios.

Na agroindústria Morro Azul, localizada numa agrofloresta certificada pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), onde são cultivados banana, açaí juçara, gengibre, feijão, milho e verduras, foi possível conhecer como funciona o processamento do açaí. A produtora Rosimere Becker explicou que após a colheita, as frutas passam pela pesagem, seleção, sanitização, separação da polpa e dos caroços, homogeneização, embalagem e refrigeração. “Tem dias que colhemos até 300 kg de açaí e levamos dois dias neste processo todo”, ressalta.

Desafios e perspectivas da economia solidária


Seminário promoveu encontro entre o urbano e o rural na busca de um novo sistema de alimentação / Foto: Cátia Cylene

No sábado (23), durante seminário no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Torres, a sócia fundadora da Cooperativa Ecotorres, Ana Luiza Meirelles - especialista em Economia Circular e Mercados - fez uma análise do setor de alimentação do Brasil e do Rio Grande do Sul. Ela apresentou os percalços da conjuntura social atual, do mapa da fome, dos impactos do crescimento do agronegócio na destruição do meio ambiente e na saúde dos seres vivos, além dos efeitos das mudanças climáticas.

“O que podemos fazer é nos organizar e resistir, fazendo o que já estamos fazendo, nos unindo e desenvolvendo ações de agroecologia, com foco nos seus preceitos para o bem-viver”, avalia.

A presidenta da Unisol RS e da Cooperativa Justa Trama, Nelsa Fabian Nespolo, ressaltou a importância da luta pela implementação de políticas públicas voltadas ao trabalho da economia solidária. "Não adianta a gente seguir chorando que não temos créditos específicos para pequenas cooperativas. A gente precisa insistir e buscar a criação de políticas públicas que atendam às nossas necessidades."

"É para isso que a Unisol RS atua com esta estratégia das setoriais, para fortalecer a atuação de cada segmento. Quando a gente se compreende com esse papel de lutar por algo maior, a gente se organiza para fazer uma autocrítica, para se fazer ser vistos e para pensar políticas de impacto. Porque não queremos na economia solidária uma vida de sofrimento para as trabalhadoras, por isso temos que mostrar mais o que a gente faz e defende", reforça Nelsa.

A fundadora da Produtos Biocêntricos, de São Leopoldo, Solange Manica, comentou sobre a necessidade de fortalecer a luta pelas políticas públicas na agroecologia para se avançar nos trabalhos e ofertas do agricultor urbano. “Temos muitos empecilhos na certificação de morangos orgânicos, por exemplo, precisamos encontrar saídas para que os produtores não desistam”, ressalta.

Segundo o assessor técnico setorial de alimentação e agricultura familiar da Unisol RS, Ademar Marques, os encaminhamentos apontados no seminário serão definidos e formalizados num próximo encontro da setorial, que será realizado em abril.

Para o coordenador do Encontro de Sabores – empreendimento urbano de Passo Fundo, Alvir Longhi, o seminário foi bem positivo. “É importante o universo urbano e o rural estarem juntos dialogando, debatendo e discutindo o futuro de um novo sistema de alimentação, baseado nos preceitos da agroecologia e da economia solidária. O seminário aponta pra esse caminho e marca o início desta construção coletiva”, avalia.

A Unisol RS está organizada em quatro setoriais: reciclagem; artesanato e confecção; alimentação e agricultura familiar; serviços e bancos comunitários.


Edição: Marcelo Ferreira