Rio Grande do Sul

200 ANOS DE HISTÓRIA

Congresso do Bicentenário em São Leopoldo resgata a história da chegada dos imigrantes

Na abertura, Vanazzi disse que um dos principais desafios é fortalecer a democracia e construir uma cidade integradora

Brasil de Fato | Porto Alegre |
"Queremos que efetivamente a cidade seja uma cidade de todos", destacou o prefeito Ary Vanazzi - Foto: Thales Ferreira

Os 200 anos de história do município e da chegada dos imigrantes a São Leopoldo vão compor os debates do Congresso do Bicentenário, que acontece de 25 a 27 de março, no Auditório do Prédio H, nas Faculdades EST. A abertura oficial da programação foi realizada na manhã desta segunda-feira (25), reunindo autoridades de diversos segmentos do governo e sociedade civil.

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O prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi, fez sua saudação agradecendo a presença dos participantes e painelistas. “Temos um desafio muito grande em 2024, quando a cidade completa 200 anos e a chegada dos imigrantes alemães. Nós temos orgulho desta história, deste legado e isto nos leva a fazer reflexões profundas sobre o que teremos que fazer daqui para a frente do ponto de vista estrutural, cultural, do ponto de vista da humanidade, de cuidar da vida, de cuidar das pessoas”, ressaltou.

Para Vanazzi, um dos principais desafios é fortalecer a democracia e construir uma cidade integradora. “São as relações democráticas que nos permitem conviver com as divergências e construir sínteses que nos elevam para outro patamar humanitário”, frisou. Destacou ainda que desta forma se constrói uma cidade culturalmente diversa, onde as pessoas se entendem e se compreendem, uma cidade que cresce e evoluiu dentro dos patamares modernos.

O prefeito ressaltou o caráter acolhedor da cidade, que recebeu aqui os primeiros alemães e segue acolhendo migrantes de vários países que são tratados com respeito aos seus direitos. “Queremos que efetivamente a cidade seja uma cidade de todos, que possa viver plenamente o sentido da vida, o sentido do amor, da fraternidade e do carinho entre nós, assim será uma grande cidade econômica, cultural e historicamente”, projetou.

O secretário municipal de Cultura e Relações Internacionais (Secult), coordenador do Comitê Municipal do Bicentenário, Marcel Frison, agradeceu a parceria das Faculdades EST para realização do Congresso e destacou a participação do neurocientista, referência internacional, Miguel Nicolelis, que palestrará nesta terça-feira, 26.

“Temos a missão de conseguir neste processo o que a gente se propôs lá em 2023 que é fazer um congresso que vai discutir o passado, a nossa rica história desses 200 anos da imigração alemã, da história de São Leopoldo, e também vai discutir e aprofundar questões de futuro”, enfatizou Frison ao projetar a importância dos temas que vão compor o congresso.

O diretor-geral das Faculdades EST, Valério Schaper, falou sobre o propósito que move este Congresso do Bicentenário. “A Faculdades EST está muito honrada de fazer parte desta jornada criativa. Que esse congresso possa não apenas refletir sobre o passado como ele foi, mas todos os potenciais futuros que se desenham para os próximos 200 anos”, disse.

Economia e produção mais limpa

Durante a tarde, o congresso tratou do tema "Economia e produção mais limpa". A palestra foi realizada no auditório da Faculdades EST e ministrada pelo prof. Dr. Valério Schaper, e trouxe historiadores, filósofos e técnicas especialistas em políticas de sustentabilidade. A mesa ficou marcada pelas reflexões trazidas pelos palestrantes a respeito da história da colonização europeia no município, além de medidas para a sustentabilidade que a cidade vem construindo nos últimos anos.

O historiador e doutor em Filosofia Arthur Blásio Rambo destacou os aspectos históricos e econômicos que implicaram na criação da Associação Riograndense dos Agricultores no início do século passado. Em países como a Alemanha, Áustria, Suíça, entre outros, era bastante comum no final do século XIX, os agricultores católicos se reunirem anualmente para decidirem as soluções de problemas com a produção. Com esta referência de organização, as lideranças católicas da região, mais aproximadamente da cidade de Ivoti, realizaram uma reunião dos agricultores religiosos, baseado nos moldes europeus.

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A partir dessa reunião, houve um consenso para a criação da Associação Católica dos Professores para consolidar a educação em nível primário nas escolas comunitárias da região, e em 1899 foi realizada essa mesma reunião, na cidade de Feliz, onde foi decidido o desenvolvimento de uma Associação de Agricultores do Rio Grande do Sul, que se tornou a Associação Riograndense de Agricultores.

“A Associação deveria ser etnicamente plural e abranger todos os setores da economia para organizar as soluções de problemas estabelecidos, foi um movimento organizado para enfrentar solidariamente todas as dificuldades e os desafios que estavam sendo apresentados, com isso a Associação é uma cooperativa que prega a solidariedade entre os agricultores e os diversos setores da sociedade”, ressaltou Arthur, falando a respeito dos princípios cooperativos na criação da Associação Riograndense de Agricultores.

Hortas Comunitárias

A assessora pedagógica da Secretaria Municipal de Educação (Smed) e diretora do Núcleo de Educação para Sustentabilidade na Cidade (Nesc), Valéria Viel, e a Extensionista rural social da Emater RS Adriana Conzatti, apresentaram as realizações da cidade na criação de medidas de sustentabilidade em São Leopoldo, tendo como maior exemplo as hortas comunitárias, que vem buscando a segurança alimentar, e auxilia diretamente nas mudanças climáticas, que estão nas metas de sustentabilidade do município e da região.

Além das hortas, a cidade possui leis de incentivo a práticas sustentáveis, uma delas é o “Composta São Léo”, que é um programa de incentivo à práticas de compostagem de produtos domésticos em domicílios, além do projeto de hortas nas escolas.

A colonização estrangeira no sul do Brasil

A mestra em História, especialista em história agrária, fundiária, conflitos e relações de poder Doris Rejane apresentou um panorama histórico a respeito das propriedades rurais em que os imigrantes foram proprietários quando chegaram até o país. A professora destacou os aspectos de mercantilização das propriedades rurais, portanto gerando o aumento de companhias que irão comprar essas terras e realizar negócios imobiliários na região, fazendo das propriedades rurais verdadeiras mercadorias.

“Uma fronteira é um lugar de disputas muito visíveis, há muitos desencontros do ser humano, podemos analisar um pouco da alteridade das relações desse momento. Será que existe esse limite que determinamos entre os povos? É a pergunta que eu faço, e se os conflitos por terra são realmente necessários”, disse a professora, trazendo a abordagem da busca por capital e terras desenfreada que ocorria nessa época.

O Congresso do Bicentenário acontece até quarta-feira (27), abordando o tema “São Leopoldo: onde o passado, presente e o futuro se encontram” e tem entrada gratuita para todos que quiserem assistir às apresentações. Basta se cadastrar pelo site www.est.edu.br.

*As informações são da Scom/ PMSL.


Edição: Katia Marko