Rio Grande do Sul

Coluna

Paremos as injustiças, por Rachel Corrie, por todas as mulheres palestinas assassinadas

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"Enquanto os governantes do mundo continuarem negociando com o colonizador sionista, mulheres como Rachel Corrie continuarão a ser brutalmente assassinadas" - Reprodução
Rachel Corrie foi punida por denunciar as injustiças cometidas por décadas aos palestinos

Essa semana pensei em escrever o texto do Diálogos Feministas sobre uma mulher frente de luta solidária ao povo palestino. Lembrei que em 16 de março de 2003 Rachel Corrie tornou-se mártir da causa palestina ao ser esmagada por um Bulldozer. Aos 23 anos como parte do seu último ano de faculdade saiu de Washington para permanecer um ano em Rafah, na Faixa de Gaza. Nessa escolha de narrativa percebi que seu assassinato pelas forças de ocupação israelenses nunca tiveram punição e que é essa impunidade junto a conivência e colaboração dos governantes do mundo que abriram espaço para o Estado de Apartheid Israelense chegar ao estágio mais agudo do genocídio do povo palestino na atualidade.

Rachel Corrie, um dia antes de ser brutalmente assassinada escreveu: "Eles destroem as casas mesmo com gente dentro, não tem respeito por nada, nem por ninguém". Militante do ISM, movimento internacional de solidariedade, praticava ações diretas e pacifistas na tentativa de impedir as demolições de casas palestinas na Faixa de Gaza. Nessa época os muros do apartheid ainda estavam no papel, eram projetos que tinham o objetivo de cercear palestinos em Jerusalém, separando-os de suas plantações, assim como cruzar quilômetros pela Cisjordânia com intuito de saquear o maior território possível com as terras mais férteis e seus recursos naturais mais valiosos.

Aliás, a Corte Internacional de Justiça em 2004 emitiu parecer sobre “o muro” e citou várias violações cometidas pelo Estado Sionista ao direito internacional incluindo a Carta das Nações Unidas e a Resolução 2625 da Assembleia Geral da ONU. Apontando que a Potência Ocupante não tem o direito de se defender e, sim, o ocupado, o povo sob ocupação. Que os países membros das Nações Unidas devem evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial ou a dependência política de qualquer Estado.

Nesse ponto, podemos refletir, como esse Estado Ocupante pode persistir após 20 anos negando ao povo palestino sua autodeterminação, a possibilidade de escolher seus governantes e persistir derrubando casas, destruindo toda infra estrutura que consegue na Cisjordânia, em Jerusalém e em Gaza por meio de bombardeios constantes que nunca cessaram ao longo desses 20 anos? Como “Israel” permanece impune há 76 anos?

Voltando a Rachel, aclamada como mártir pela população de Gaza que lhe promoveu um grande funeral, porém nenhuma figura política americana compareceu em seu velório, apesar dela ser uma cidadã norte-americana. Nenhuma autoridade dos EUA exigiu justiça para seu caso. Nesse ponto, ressalto que sem o financiamento do EUA e sem seu poder de veto na Assembleia Geral da ONU, sanções já teriam sido impostas ao Estado Genocida. Também sem a conivência dos governantes do Sul global que normalizaram relações com um Estado de Apartheid e colonial.

Um exemplo disso é o governo brasileiro, que em 1949 reconheceu o Estado de “Israel” e mantém com este, desde então, relações comerciais, militares e diplomáticas, ao ponto de tornar-se o quinto maior importador de armas e tecnologias dos sionistas na atualidade. Fato nada irrelevante é que o Brasil forneceu desde outubro de 2023, 2600 toneladas de óleo bruto, sendo o maior fornecedor de combustíveis durante o genocídio agudo do povo palestino de outubro de 2023 para cá à “Israel”. Ou seja, tanques de guerra e caças israelenses que estão genocidando o povo palestino nesse momento são abastecidos com combustíveis brasileiros.

Punida por denunciar as injustiças cometidas por décadas aos palestinos, Rachel Corrie recebeu o mesmo tratamento dado aos palestinos pelos israelenses. Também lutadores e quem ouse denunciar o genocídio que persiste há 76 anos, a destruição de casas, das estruturas que são essenciais a vida, dos monumentos históricos e culturais do povo palestino recebem um tratamento de ameaças, perseguições e até assassinatos cometidos pelos sionistas, que seguem completamente impunes e persistentes no seu objetivo de roubar e tomar a força todo o território da Palestina, do rio ao mar. Expulsando os palestinos de suas casas e impossibilitando seu retorno ou matando como fizeram com os 31.923 mortos nos últimos 5 meses em Gaza.

O Estado Genocida não irá parar suas atrocidades, deverá ser parado. Somente quando os governantes do mundo seguirem o que foi feito quando o apartheid na África do Sul foi derrubado o cessar fogo definitivo chegará. Somente a pressão internacional por meio de sanções econômicas, embargo militar e boicotes às empresas israelenses e às empresas que se beneficiam da ocupação e lucram com o apartheid, poderão parar o genocídio em curso e desmantelar o apartheid na Palestina. Enquanto os governantes do mundo continuarem negociando com o colonizador sionista, persistirão as injustiças ao povo palestino. Mulheres como Rachel Corrie continuarão a ser brutalmente assassinadas sem que haja punição alguma aos seus assassinos.

* Claudia Santos, ativista da Frente Gaúcha de Solidariedade ao Povo Palestino.

** Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato

Edição: Katia Marko