A preocupação da comunidade escolar com a mudança temporária de endereço do Núcleo Estadual de Educação de Jovens e Adultos (Neeja) de Cultura Popular Paulo Freire foi debatida na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, nesta terça-feira (12). O prédio que abriga a escola vai passar por reformas e troca de telhado e a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) já começou a remanejar os objetos para antiga Escola Felipe de Oliveira, localizada a mais de 4km do atual endereço.
:: Professores e funcionários do Neeja Paulo Freire resistem à transferência da escola ::
O tema foi discutido em reunião da Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Juventude da Câmara (Cece), por proposição vereador Jonas Reis (PT). Sob condução do presidente da Cece, vereador Conselheiro Marcelo (PSDB), a pauta foi bem recebida pelos demais vereadores presentes na comissão - Hamilton Sossmeier (PODE), Mari Pimentel (Novo) e Prof. Alex Fraga (PSOL) - que encaminharam apoio na cobrança das demandas à Seduc.
Professores, servidores, alunos e entidades da área educacional concordam que o prédio necessita de reformas, mas temem que a mudança para um local afastado prejudique os alunos e cause evasão escolar. Pedem que a Seduc preste informações sobre as motivações da mudança, os prazos para retorno e a negociação de um espaço para abrigar a escola durante as reformas que atenda às necessidades da comunidade. A pasta foi convidada para a reunião, mas não enviou representantes para prestar esclarecimentos.
Estudantes estão preocupados
O professor de História Sílvio Alexandre de Oliveira,que leciona desde 2015 na Paulo Freire, explica que a comunidade escolar questiona a realocação do Neeja para uma unidade de ensino distante. “De todos os espaços em que podemos estar, justo aquele, é um local que fica a 4,1 km do Paulo Freire. Quem usa o nosso Neeja são jovens, adultos e idosos do eixo da zona Norte de Porto Alegre, que conseguem usar um ônibus e caminhar dez minutos para acessar o local. Caminham dez ou quinze minutos para economizar a passagem. Essa é a realidade do aluno que faz o Neeja", destacou.
Segundo ele, os vereadores da comissão se solidarizaram, inclusive “alguns levantaram a questão da especulação imobiliária”. Ele conta que a mudança iniciou nesta terça, quando o caminhão Seduc começou as levar as coisas para o novo local. “A escola está até sexta sem funcionar em função da mudança e, a partir de segunda- feira (18) começamos a funcionar no novo endereço. Muitos estudantes estão perguntando o novo endereço e expressando sua preocupação de conseguir se deslocar até lá.”
Durante a reunião, o vereador Jonas Reis destacou a importância do Neeja Paulo Freire para a capital gaúcha. "Estamos falando aqui de uma instituição estadual que se volta muito para a cidade, pois ainda temos milhares de pessoas que não se alfabetizaram. Quem dirá então, concluir o ensino fundamental."
A preocupação leva em conta o número de alunos e estabelecimentos que oferecem a modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA). A Seduc informa que em 2014, 88 mil alunos cursavam a modalidade em 593 escolas. Já em 2023, eram 33 mil alunos matriculados em 422 escolas. De acordo com dados da terceira edição do Observatório da Educação Pública no Rio Grande do Sul, de 2023, entre 2017 e 2022 houve uma queda de 53.935 matrículas na EJA da rede estadual de ensino.
Reunião da Cece discutiu proposta de mudança temporária de endereço do Neeja devido a troca do telhado / Foto: Júlia Urias/CMPA
Mais de 38 anos na reinserção de jovens, adultos e idosos
O Neeja Paulo Freire está localizado no bairro Auxiliadora, na zona Norte da Capital, e atua há mais de 38 anos na reinserção de jovens, adultos e idosos no ensino básico de educação. Único instituto educacional exclusivo para alfabetização para adultos em Porto Alegre, atende alunos de 38 bairros da zona Norte e também de 12 cidades da região Metropolitana.
Em janeiro, a escola foi alvo de um assalto que danificou a estrutura do telhado de um dos prédios. Após o incidente, o Neeja Paulo Freire sofreu com as chuvas do mesmo mês, passando por reforma emergencial. Em fevereiro, os professores foram surpreendidos pelo comunicado da diretora da unidade sobre a necessidade de mudança do núcleo para o antigo prédio escolar da rua Felipe de Oliveira, alegando necessidade de reformas internas no prédio antigo.
Luta pela permanência
A comunidade escolar foi informada da mudança no dia 5 de fevereiro e desde então tem se mobilizado para evitar a mudança. Sílvio conta que no dia 19 de fevereiro uma comissão se reuniu com a secretária Rachel Teixeira, onde foram apresentadas propostas, como a de fazer a reforma por partes. A comunidade escolar já realizou manifestações contra a mudança e entregou um abaixo-assinado com 10 mil assinaturas à Seduc e ao Ministério Público.
Encaminhamentos
Ao final da reunião, os parlamentares presentes se puseram à disposição para encaminhar à Seduc e à Secretaria de Obras Públicas do Estado um ofício solicitando os prazos para a reforma e os laudos técnicos do prédio. Também encaminharam que será pedida uma reunião com a Defensoria Pública para oferecer uma alternativa de transporte público que facilite a mobilidade dos estudantes para o prédio provisório.
Os educadores reforçaram que defendem a manutenção do prédio, mas exigem que sejam traçados e apontados os prazos para entrega da reforma e retorno ao prédio que, segundo eles, tem "memória afetiva, educativa e cultural", para que os alunos possam retornar ao seu local de pertencimento.
Edição: Marcelo Ferreira