A resistência ativa em 2024, lembrando os 60 anos do golpe, começa em 8 de março
Mensagem no grupo da Comissão Ampliada nacional do Movimento Fé e Política: “Na noite de 27 de fevereiro de 2024, a Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo, e demais organizações populares, reuniram-se em plenária virtual e tiraram como encaminhamento o seguinte calendário de lutas: Em defesa da democracia, sem anistia, punição aos golpistas. Em memória dos 60 anos do golpe.
Encaminhamentos: 8 de março, Dia Internacional de Luta das Mulheres, com mobilização pelo Brasil todo. 14 de março, 6 anos do assassinato de Marielle Franco. 23 de março, Dia nacional de Mobilização: 60 anos do golpe, em defesa da democracia, sem anistia para os golpistas, contra o genocídio na Palestina, com mobilização nas capitais e concentração em Salvador, São Paulo e Porto Alegre. Antes do Ato: realizar plenárias das Frentes nos Estados.
Abril de Lutas. Primeiro de Maio: Mobilização do Dia das Trabalhadoras e dos Trabalhadores.”
Entrei no Seminário Seráfico dos franciscanos em Taquari, RS, no início de 1963, com 11 anos de idade, saído da Linha Santa Emília, Venâncio Aires, interior do interior do Rio Grande do Sul. Naqueles tempos, o pouco que eu sabia vinha da gaúcha Rádio Guaíba: escutar as Copas de futebol, Brasil vitorioso em 1958 e 1962 na Suécia e no Chile, e ouvir os discursos de Leonel Brizola na Campanha da Legalidade, pela posse do vice-presidente eleito Jango, João Goulart.
Escrevi artigo em 2014, “1º de Abril de 1964”, nos 50 anos do início da ditadura militar: “Dois acontecimentos marcaram o segundo semestre de 1963, repercutindo diretamente nos seminaristas em Taquari (e se repercutiram fortemente ali, repercutiram também nos católicos em geral): a vinda do Pe. Peyton ao Brasil e o assassinato do presidente Kennedy, primeiro presidente norte-americano que era católico. Segundo Hugh Willford, a visita do Pe. Peyton ao Brasil em 1963 teve também um sentido anticomunista e contou com o apoio da CIA, no contexto da Guerra Fria. E John Kennedy, o presidente popular, o católico de descendência irlandesa, é assassinado na mesma época. Comoção geral no Seminário, lembro do nosso choro no pátio largo. Era como se alguém de casa tivesse sido assassinado.”
Tudo tronitruava, via rádio Guaíba, nos amplos corredores do Seminário de Taquari, com minha presença, no centro de Taquari, nas atividades e sermões do Pe. Peyton. Neste contexto, aconteceu o golpe em 31 de março/1º de abril. Nos corredores do Seminário, a voz de Carlos Lacerda ribombava nos corredores: “O comunismo está chegando. É preciso prevenir-se contra ele.”
Estamos em 2024, nos 60 anos do golpe militar de 1964. A democracia continua ameaçada. Por isso, a mobilização social e a organização popular continuam fundamentais nos tempos atuais. A direita escravocrata brasileira sempre ameaça, quando não destrói, a democracia, toda vez que os mais pobres entre os pobres, as trabalhadoras e os trabalhadores ocupam espaços de poder, ou conseguem avançar em direitos e dignidade de vida.
Aconteceu no final dos anos 1950 e início dos anos 1960. Houve um golpe militar e a ditadura estendeu-se por décadas. Uma grande mobilização via Diretas-Já e por uma Constituinte livre, soberana e exclusiva garantiu, depois de muita luta, a Constituinte e as primeiras eleições diretas para presidente, depois de muitos anos, em 1989.
A resistência ativa em 2024, lembrando os 60 anos do golpe e as duas décadas de ditadura militar, começa em 8 de março, Dia Internacional da Mulher. As mulheres sempre tiveram presença ativa em todos estes momentos da história, embora em espaços muito menores do que deveria ser, não só pelo seu número na sociedade, mas principalmente por sua especial e mais que lúcida contribuição na luta por direitos e democracia.
Hoje, 2024, a cada dia, as mulheres, jovens, negras, indígenas, das periferias, ocupam espaço, estão presentes, atuantes, na rua e nos espaços institucionais. Mas precisam avançar muito mais, ter muito mais protagonismo político e social. Março e abril de 2024 prometem ser quentes, muito quentes, feliz e finalmente, com a presença das companheiras mulheres.
Maiza Lemos, mulher negra e poeta, moradora da Lomba do Pinheiro, declamou um poema seu esta semana, na abertura da Feira de Economia Popular Solidária das Mulheres Negras, na Praça XV, centro de Porto Alegre. O poema está no livro ´Letras e linhas por elas´: “O Lugar da Mulher. Da musa inspiradora/ à rainha do lar./ Da protegida à protetora./ Onde é o teu lugar?/ Na Anita, heroína,/ a Maria do Lampião./ Na garota lá da esquina,/ ou pilotando o fogão./ Onde é o teu lugar?/ De Amélia, tão cantada,/ ou Madre de Calcutá./ Teu lugar é tua estrada,/ tua meta é o teu lugar./ Onde é o teu lugar?/ Na rainha da beleza,/ na alegria ou na tristeza,/ no poder ou no pomar./ Teu lugar é, com certeza,/ onde você quiser estar.”
Na boa luta, com fé e coragem, em março e abril de 2024, 60 anos do golpe e da ditadura militar, ESPERANÇAR.
Viva as mulheres! Viva a democracia!
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko