Uma manifestação de trabalhadores e estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), na manhã desta segunda-feira (4), em frente à reitoria no Campus Centro, em Porto Alegre, protestou contra a suspensão da paridade de votos na escolha da reitoria da instituição. O despacho assinado pelo reitor Carlos André Bulhões, na sexta-feira (1º), atropela a decisão do Conselho Universitário (Consun) aprovada em 2023.
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A conquista da paridade foi fruto da luta de estudantes e trabalhadores da Ufrgs por maior democracia interna. Aprovada em 23 de novembro de 2023 pelo Consun, órgão máximo, normativo e deliberativo da instituição, a paridade assegura que a partir das eleições para reitoria deste ano o peso dos votos de estudantes, docentes e Técnico-Administrativos em Educação, terão o mesmo peso. Antes, o peso era de 70% para os docentes e 15% para outros segmentos.
“Suspender a paridade não é qualquer coisa! É uma luta de mais de 30 anos”, enfatiza a coordenadora-geral do Sindicato dos Técnico-Administrativos em Educação da Ufrgs, UFCSPA e IFRS (Assufrgs), Tamyres Filgueira. A entidade esteve à frente do ato nesta manhã, junto com o Diretório Central dos Estudantes da Ufrgs (DCE-Ufrgs), a Associação dos Pós-Graduandos da Ufrgs (APG) e a União Estadual dos Estudantes (UEE-RS).
Bulhões justifica a decisão a partir de um ofício do Ministério da Educação (MEC), recebido pela universidade em janeiro, que lista instruções para envio da lista tríplice na escolha da reitoria. O documento diz que “em caso de consulta prévia à comunidade universitária, prevalecerão a votação uninominal e o peso de 70% para a manifestação do pessoal docente em relação à das demais categorias”.
A Assufrgs ressalta que, conforme o estatuto da universidade, a decisão final é do Consun, e não do reitor. Tamyres afirma que os trabalhadores não vão recuar na defesa da paridade. “Não tenho dúvidas que só tem uma saída para que a gente faça com que a paridade permaneça no próximo processo eleitoral: é cruzar os braços, é parar essa universidade! Paridade fica! Quem sai, é esse reitor interventor bolsonarista”, assegurou.
Estudante de Políticas Públicas e coordenador do DCE Ufrgs, Matheus Fonseca afirma que, na prática, a reitoria não quer paridade na próxima consulta universitária. “Nós sabemos que essa reitoria sempre foi inimiga de tudo que fosse democrático na universidade. Agora nós temos uma tarefa muito importante: mobilizar o conjunto da universidade e defender a paridade. O absurdo tá exposto, Bulhões quer se manter com os entulhos da ditadura”, critica.
Reitoria tem pedido de destituição em análise no MEC
O reitor Carlos André Bulhões Mendes, junto de sua vice, Patrícia Pranke, estão à frente da Reitoria da Ufrgs desde 2020, quando o então presidente Jair Bolsonaro escolheu a chapa menos votada da listra tríplice indicada pelo Consun. Desde então, a comunidade universitária tem se manifestado contra o gestão, que afirmam ser "interventora".
Bulhões e Pranke já tiveram destituição recomendadas pelo conselho duas vezes: em agosto de 2021, que alegou uma reforma administrativa irregular na universidade, com pedido arquivado pelo Ministério da Educação (MEC); e em dezembro de 2023, alegando diversas atitudes que comprovam falta de gestão democrática da reitoria, como censura à comunicação institucional e desrespeito às decisões dos conselhos superiores.
Edição: Marcelo Ferreira