Ubu Tropical é a nova encenação de rua da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz e estreia neste domingo (3), às 17h no Parque da Redenção, próximo ao Monumento ao Expedicionário. Os bufões do grupo de teatro porto-alegrense com mais de 45 anos de estrada vão contar a história do Pai Ubu, símbolo do cinismo, destruição e estupidez. O espetáculo é fruto de pesquisa dos atuadores e atuadoras e de residentes do projeto Arte Pública, Criação e Formação.
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Em cena estarão as peripécias do personagem grotesco e cruel que, incitado por Mãe Ubu, assassina o Rei da Polônia e coroa a si mesmo, iniciando uma longa série de atrocidades que incluem traições, roubos, corrupção e assassinatos. Personagem ambicioso, covarde e irracional, o legendário Pai Ubu relembra, em chave humorística, conforme destaca a Tribo de Atuadores, o que o Brasil viveu nos últimos anos.
A personagem Pai Ubu foi criada pelo francês Alfred Jarry, que viveu entre 1873 e 1907. Precursor do teatro contemporâneo, foi fundador de uma nova concepção estética e ideológica de onde beberam as vanguardas do século XX, como dadaístas, surrealistas, o teatro do absurdo, e grande parte do humor grotesco atual. Jarry desenvolveu uma interessante saga com as peças Ubu Rei, Ubu Cornudo, Ubu Acorrentado e Ubu na Colina, entre outras, de comédia bufa e as vezes, escatológica e absurda.
"Texto é absurdamente atual"
A atuadora Tânia Farias, que neste espetáculo divide a parte técnica e contrarregragem com Clélio Cardoso e Paulo Flores, conta que Ubu Tropical surgiu a partir de um objeto de pesquisa do Ói Nóis que iniciou desde pouco antes do início da pandemia. A ideia era pensar, a partir da série de textos do Alfred Jarry, sobre o caráter cíclico da história do país, que retornava a um ambiente político autoritário.
“Um período tão terrível que nós vivemos, com o desgoverno do inominável inelegível, responsável por tantas mortes evitáveis durante a pandemia e, enfim, talvez por um dos períodos mais grotescos que a gente tenha vivido depois da ditadura militar. A gente queria pensar essa figura, esses conservadores, autoritários, grotescos, violentos que vêm aparecendo na América Latina, mas não só. A gente a gente vê o avanço da extrema-direita em todo o mundo”, comenta.
Segundo Tânia, para concretizar esse estudo cenicamente, o grupo fez um grande processo de pesquisa, com oficinas sobre a relação dos textos do dramaturgo francês com o Tropicalismo e o conceito modernista de antropofagia de Oswald de Andrade. Ao estudar Pai Ubu, se perguntaram se seriam necessárias alusões diretas.
“A certa altura a gente se deu conta que o texto é absurdamente atual, que ele por si só expõe todas essas relações de poder, ao mesmo tempo, esteticamente essa ideia grotesca, essa personagem do Bolsonaro, homem bruto, grosseiro que profere todas as barbáries e, ainda assim, tem uma claque que o aplaude, que o reconhece e o define como seu mito”, explica.
Fruto do projeto Arte Pública, Criação e Formação
O estudo prosseguiu apresentando nas ruas a intervenção cênica Parada Ubuesca, e em 2022 criou e produziu o filme curta metragem “Ubu Tropical”. “Agora a gente está encerrando esse ciclo de estudos sobre a personagem Pai Ubu com a estreia do espetáculo o Ubu Tropical, que é parte do projeto Arte Pública, Criação e Formação, que reuniu 12 residentes, que se somaram aqui na Terreira aos atuadores e atuadoras do Ói Nóis, num processo pedagógico de construção de um espetáculo”, complementa Tânia.
Conforme adianta a atuadora ao Brasil de Fato RS, o novo espetáculo não vai parar por aí. Além tomar as ruas da capital gaúcha neste domingo, a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz quer levá-lo para todo o Brasil.
Edição: Katia Marko