Duas palavras-chave se colocam nos difíceis tempos atuais no mundo: Fraternidade e Paz
“Vós sois todos irmãos e irmãs” diz o lema da Campanha da Fraternidade 2024, que acontece há 60 anos, desde 1964, sob as bênçãos da CNBB, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, e de Dom Helder Câmara, Secretário Geral da CNBB naqueles tempos.
O objetivo geral da CF/24 é: “Despertar para o valor e a beleza da fraternidade humana, promovendo e fortalecendo os vínculos da amizade social, para que, em Jesus Cristo, a paz seja realidade entre todas as pessoas e povos.”
Duas palavras-chave se colocam nos difíceis tempos atuais no mundo, na América Latina e Caribe e no Brasil: FRATERNIDADE E PAZ. Diz o Texto-Base da CF/24: “Às vésperas da festa de São Francisco de Assis de 2020, o Papa Francisco lançou a Carta Encíclica Fratelli Tutti, na qual, inspirado pela vida do Santo, e pela reflexão conjunta com o Imã Ahmad Al-Tayeb e por numerosas cartas e documentos recebidos de pessoas e grupos de todo o mundo, apresenta o seu projeto de fraternidade, baseado na amizade social e no amor político, tendo o diálogo como caminho necessário para a cultura do encontro” (nº 15 do Texto-Base da CF/24).
Os tempos são mesmo muito difíceis. No mundo, as guerras matam milhares, especialmente crianças, mulheres e civis, e não há gestos concretos, a não ser os de Lula e do Papa Francisco, para abrir o diálogo e buscar a paz. Na América Latina e Caribe, as crises sociais, econômicas, políticas e climáticas espalham-se por diferentes países. No Brasil, as emergências climáticas espalham-se por todas as regiões, junto com a violência e os assassinatos cotidianos de jovens negros, indígenas, mulheres e povo LGBTQIA+, misturados ao ódio e intolerância presentes na sociedade brasileira e nas comunidades.
Por isso, o Papa Francisco escreveu e alertou na sua profética Encíclica Fratelli Tutti: “Há também um amor ´imperado’: traduz os atos de caridade que nos impelem a criar instituições mais sadias, regulamentos mais justos, estruturas mais solidárias. Por isso, é um ato de caridade, igualmente indispensável, o empenho com o objetivo de organizar e estruturar a sociedade de modo que o próximo não se venha a encontrar na miséria. É caridade acompanhar uma pessoa que sofre, mas é caridade também tudo que se realiza – mesmo sem ter contato direto com essa pessoa - para modificar as condições sociais que provocam o sofrimento. Alguém ajuda um idoso a atravessar um rio, e isto é caridade primorosa; mas o político constrói-lhe uma ponte, e isto também é caridade. É caridade se alguém ajuda outra pessoa fornecendo-lhe comida, mas o político cria-lhe um emprego, exercendo uma forma sublime de caridade que enobrece a ação política” (Fratelli Tutti, nº 186).
Diz ainda o Papa Francisco: “Aproximar-se, expressar-se, ouvir-se, olhar-se, conhecer-se, esforçar-se por entender-se, procurar pontos de contato: tudo isso se resume no verbo ‘dialogar’. Para nos encontrar e ajudar mutuamente, precisamos dialogar (Fratelli Tutti, nº 198). “O diálogo entre as gerações, o diálogo no povo, porque todos somos povo, a capacidade de dar e receber, permanecendo abertos à verdade. Um país cresce quando dialogam de modo construtivo as suas diferentes riquezas culturais: a cultura popular, a cultura universitária, a cultura juvenil, a cultura artística e a cultura tecnológica, a cultura econômica e a cultura da família, e a cultura dos meios de comunicação” (Fratelli Tutti, nº 199).
Ainda diz o Papa Francisco: “O percurso para a paz não implica homogeneizar a sociedade, mas permite-nos trabalhar juntos” (nº 228). “Existe uma ´arquitetura´ da paz, na qual intervêm as várias instituições da sociedade, cada uma dentro de sua competência. Mas há também um ‘artesanato´ da paz que nos envolve a todos” (nª 231). “A promoção da amizade social implica não só a aproximação entre grupos sociais distanciados a partir dum período conflituoso da história, mas também a busca dum renovado encontro com os setores mais pobres e vulneráveis” (nº 233). “Aqueles que pretendem pacificar uma sociedade não devem esquecer que a desigualdade e a falta de desenvolvimento humano integral impedem que se gere a paz. Na verdade, ‘sem igualdade de oportunidades, as várias formas de agressão e de guerra encontrarão um terreno fértil que, mais cedo ou mais tarde, há de provocar a explosão. (nº 235). “A verdadeira reconciliação não escapa do conflito, mas alcança-se dentro do conflito, superando-o através do diálogo e de negociações transparentes, sinceras e pacientes” (Fratelli Tutti, nº 244).
São palavras do Papa Francisco em 2020, há quatro anos, antes da pandemia e das guerras. Estamos em 2024 e o quadro mundial só tem se agravado. Por isso, a Campanha da Fraternidade/2024, ‘FRATERNIDADE E AMIZADE SOCIAL, VÓS SOIS TODOS IRMÃOS, TODAS IRMÃS’, são proféticas ontem, hoje e serão amanhã.
Esta Campanha da Fraternidade não diz respeito apenas aos cristãos católicos. Mas convoca todas e todos que acreditam que as palavras, os gestos e as ações de Fraternidade e Paz são mais que urgentes e necessárias. E convoca todas aquelas e todos aqueles de boa vontade, que, unidas-os, abraçadas-os no ESPERANÇAR de Paulo Freire, querem construir uma Sociedade do Bem Viver. Em 2024, ninguém solta a mão de ninguém.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko