Rio Grande do Sul

PRIVATIZAÇÃO

Sindiágua acusa TCE de inércia no processo de anulação da venda da Corsan

Sindicato critica demora do Tribunal de Contas do Estado na análise do processo que investiga irregularidades

Para o presidente do Sindiágua, Arilson Wünsch, a maioria dos conselheiros quer evitar o desgaste e a responsabilização de decidir pela manutenção do processo de privatização - Foto: Divulgação/Corsan

O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgoto do Estado do Rio Grande do Sul (Sindiágua) publicou Apedido, nesta quarta-feira (21), na capa do jornal Correio do Povo, questionando a demora do Tribunal de Contas do Estado (TCE) na análise do processo que investiga irregularidades na privatização da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan).

“A 1ª Câmara do TCE/RS decidiu pela anulação do leilão ocorrido em 20 de dezembro de 2022 por maioria (2×1), mas o Pleno do Tribunal, composto por sete conselheiros, permanece em silêncio, adotando uma postura de “deixa como está para ver como é que fica”, diz o texto.

Para o presidente do Sindiágua, Arilson Wünsch, a maioria dos conselheiros quer evitar o desgaste e a responsabilização de decidir pela manutenção do processo de privatização que tem várias irregularidades.

A entidade questiona também a parcialidade de um fórum com quadros próximos ao governo do estado, protagonista da privatização.

Técnico ou político?

Órgão máximo de fiscalização do Poder Executivo, o TCE/RS tem o atual Tribunal Pleno composto por Marco Peixoto (presidente), Iradir Pietroski, Alexandre Postal, Estilac Xavier, Cezar Miola e Renato Azeredo. Apenas os dois últimos são quadros técnicos de carreira, os demais são indicações políticas.

O relator do processo – com a prerrogativa de pautar a reunião do Pleno – é o conselheiro Iradir Pietroski. Ex-deputado estadual pelo PTB por cinco mandatos, foi indicado ao posto em 2010 pela governadora Yeda Crusius (PSDB), partido do atual governador Eduardo Leite.

De acordo com a assessoria de imprensa do TCE/RS, o Órgão não vai se manifestar sobre o conteúdo do Apedido. Com relação ao processo, informa que há diferentes etapas e prazos regimentais a serem cumpridos sem previsão de prazo para o julgamento no Pleno.

Valor subestimado da Corsan

Assim como a CEEE foi vendida num leilão por R$ 100 mil para a Equatorial, o valor de venda da Corsan e as projeções subestimadas de lucros futuros são motivo dos recursos para sua venda.

Único concorrente, o Consórcio Aegea comprou por R$ 4,151 bilhões. Estudo técnico demonstrou que avaliação econômico-financeira da companhia era de R$ 7,26 bilhões, prejuízo estimado ao Estado de mais de R$ 3 bilhões.

Os cálculos subestimados de receitas futuras já foram comprovados.

“O lucro projetado para todo o ano de 2023 de R$ 320 milhões, foi alcançado já no primeiro trimestre, fechando o ano com R$ 1 bilhão, mostrando os equívocos dos cálculos”, pontua Antônio Castro, advogado do Sindiágua.

Antes mesmo do leilão, a entidade protocolou em cartório documento prevendo o vencedor, no caso a Aegea, por entender que a empresa tinha informações privilegiadas da estatal ao comprá-la, numa aquisição apontada como “sob medida”.

Legistas do erário ou atuar previamente?

A nota pública de hoje pede ações preventivas dos órgãos de fiscalização para evitar maiores danos aos usuários, como ocorre com a CEEE-Equatorial.

O ex-Procurador-Geral no Ministério Público de Contas (MPC), Geraldo da Camino, deixou o cargo em setembro após 15 anos e disse que os órgãos de fiscalização do Estado não devem se tornar “legistas do erário”.

Para o presidente da entidade, Arilson Wünsch, há um conjunto de omissões de órgãos que tem a obrigação legal de fiscalizar previamente e atuar sobre os erros do Poder Executivo.

“Será inadmissível, depois de todos os alertas já feitos por diferentes órgãos como o MPC, que o TCE/RS assuma um discurso falacioso de que ‘agora é tarde’, que ‘já não há mais o que fazer’ e que o ‘prejuízo de uma reversão do leilão será ainda maior’, alerta o documento.

Procurado pelo Extra Classe o governador decidiu por não se manifestar a respeito.

Edição: Extra Classe