É a masculinidade tóxica que impera, onde apenas uma forma de ser homem é considerada ideal
É carnaval. Sol, calor, álcool e alegria. Corpos que vibram ao som da música. A comemoração é interrompida por um toque nos órgãos genitais. Um homem gay constrange Paulo com seu suposto “excesso de libido”. Ele é homem, né?! Então supostamente tudo é autorizado.
Paulo o empurra, os amigos chamam sua atenção: “Olha o corpo dele! Quando você vai pegar alguém assim? Para de ‘se fazer’, bicha!” Então, a vítima se constrange. Paulo se culpa e sente que está levando tudo excessivamente a sério. Mas o fato ocorrido é só mais um exemplo de um comportamento corriqueiro entre homens gays.
Um beijo forçado, um toque, um apalpar pra satisfazer a si próprio sem que a vítima tenha dado consentimento é reconhecido como crime de importunação sexual, conforme o artigo 255 do código penal, com pena de reclusão de 1 a 5 anos. Mas parece que, mesmo sendo um comportamento passível de punição, sua recorrência não é impedida.
A importunação sexual entre homens gays é legitimada pela macroestrutura social machista que permeia discursivamente todos nós. Nessa estrutura, o gênero masculino é construído a partir de frases como “homem não chora”, “homem é hipersexualizado”, “homem não leva desaforo pra casa”, “é agressivo”, “é dominador” e assim por diante. A questão é que, mesmo homens gays, são homens - sempre é bom lembrar - e crescem ouvindo prescrições machistas sobre como devem ser e agir no mundo.
É a masculinidade tóxica que impera, onde apenas uma forma de ser homem é considerada ideal. E mais uma vez: homens, apesar de sua orientação sexual, continuam sendo homens. É preciso estar atento às violências submetidas ao corpo do outro. Tratar o outro como objeto de satisfação sexual é um comportamento tipicamente masculino, independente da orientação sexual!
E Paulo, que se sente deslocado desse discurso fálico e perverso que endossa a apropriação de corpo do outro enquanto objeto, ainda paga o preço por não se submeter à lógica vigente. Homens gays tóxicos, melhorem.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko