Rio Grande do Sul

SAÚDE PÚBLICA

Número de casos de dengue no RS em 2024 é 18 vezes maior do que no mesmo período de 2023

Primeira morte é confirmada no estado; apesar de crescimento de casos, RS ficou de fora da primeira fase da vacinação

Brasil de Fato | Porto Alegre |
A dengue é uma doença infecciosa febril aguda causada por um vírus pertence à família Flaviviridae, do gênero Flavivírus - Foto: Fiocruz

Nas quatro primeiras semanas de 2024 já foram registrados 1.595 casos de dengue no Rio Grande do Sul. No mesmo período de 2023, foram 88. O aumento representa um número 18 vezes maior entre um ano e o outro, de acordo com dados do Painel da Dengue da Secretaria Estadual de Saúde (SES). Segundo o balanço, o RS conta, nesta segunda-feira (5), com 2.314 confirmações, o que representa um aumento de 692 casos na última semana.

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Desde que o painel foi criado, em 2015, o mês de janeiro com maior número de casos havia sido em 2022, com 303. A chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica do Centro de Vigilância em Saúde (Cevs), Roberta Vanacôr Lenhardt, alerta que não há mais sazonalidade na circulação do mosquito Aedes Aegypti, transmissor da doença. 

"Os dados demonstram que há ocorrência de casos confirmados de dengue durante todos os meses do ano, o que antes ocorria somente nos períodos de calor. Porém, atualmente a presença do evento climático El Niño, com chuvas volumosas associadas a altas temperaturas, predispõe ainda mais para o surgimento e manutenção de mais criadouros do mosquito vetor, chamando a atenção para a importância do cuidado com o meio ambiente, tanto por parte da sociedade, como dos gestores públicos", acentua Roberta.

Primeira morte do ano no estado confirmada

Dos 497 municípios do RS, 466 estão em situação de infestação, de acordo com a SES. Tenente Portela é a cidade com maior número de casos confirmados da doença neste ano. É de lá a primeira por dengue no RS do ano. A pasta confirmou nesta segunda-feira (5) que a paciente, que faleceu em 31 dce janeiro, é uma mulher de 71 anos, moradora da cidade, que tinha doença pré-existentes.

Um dos maiores municípios da região Noroeste do estado e pertence à 2ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), é um polo de atendimento de saúde para os demais municípios do entorno. Conforme o painel de casos da dengue, acessível em dengue.saude.rs.gov.br, são 805 casos confirmados em Tenente Portela até esta segunda-feira (5). A cidade Barra do Guarita, da mesma região, encontra-se em segundo lugar, com 292 casos confirmados.

Historicamente, as semanas 16 e a 18 (mês de abril) são as que concentram o pico do número de casos no RS. Neste ano, o alto número já foi atingido nas semanas 4 e 5.

Segundo a bióloga do Centro Estadual de Vigilância em Saúde, Valeska Lizzi Lagranha, com as chuvas ocorrem enchentes nos municípios, que acumulam entulhos. "Se não são retirados pelos moradores em qualquer chuva acumula água de novo. E isso vira um criadouro para o mosquito desenvolver seus ovos e larvas", analisa Valeska. Segundo ela, as regiões que necessitam uma maior atenção são a Noroeste (onde está Tenente Portela) e a Norte do estado.

Infetação do mosquito é crítica em 85% dos bairros de Porto Alegre

Dos 46 bairros com monitoramento constante da presença do mosquito Aedes aegypti em Porto Alegre, 39 tinham nível crítico de infestação na semana encerrada em 27 de janeiro de 2024 - percentual de 84,7%. Outros quatro bairros estão em estado de alerta, dois têm infestação moderada e apenas um tem quadro considerado satisfatório. 

A classificação é feita semanalmente pela Vigilância em Saúde, através do Monitoramento Integrado do Aedes (MI-Aedes). Para isso, 910 armadilhas, que capturam fêmeas adultas do mosquito, estão espalhadas pela cidade e permitem a elaboração de indicadores sobre a infestação do inseto que, além da dengue, transmite a zika e a chikungunya.

Até esta segunda-feira (5), Porto Alegre registrou 28 casos de dengue, segundo a Secretaria Estadual da Saúde. O número representa alta de mais de cinco vezes em relação ao mesmo período de 2023, quando foram cinco infecções confirmadas.

Bairros da Capital com nível de infestação entre 21 e 27 de janeiro de 2024:

  • Crítico: Mário Quintana, Passo das Pedras, Jardim Leopoldina, Vila Ipiranga, Jardim Sabará, Bom Jesus, Petrópolis, Auxiliadora, Azenha, Medianeira, Teresópolis, Santa Tereza, Sarandi, Santa Rosa e Lima, Rubem Berta, Parque Santa Fé, Costa e Silva, Chácara das Pedras, Vila Jardim, Jardim Carvalho, Santana, Vila Nova, Partenon, Jardim do Salso, Higienópolis, Menino Deus, Nonoai, Cavalhada, Glória, Tristeza, Jardim Itu, Passo da Areia, Santo Antônio, Cidade Baixa, Montserrat, Três Figueiras, Jardim Europa, Jardim Lindóia e Aparício Borges

  • Alerta: Camaquã, Boa Vista, Vila João Pessoa e Vila São José

  • Moderado: Jardim Botânico e Bela Vista

  • Satisfatório: São Sebastião

Distribuição da vacina

O governo federal anunciou que iniciará, a partir desta semana, a distribuição da vacina contra a dengue para 521 municípios selecionados pela pasta. Inicialmente, a vacina será aplicada na população de regiões endêmicas. O Ministério da Saúde aguardava a tradução para o português da bula do imunizante Qdenga, uma exigência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ao fabricante, o laboratório japonês Takeda.

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, disse neste sábado (3) que o governo estuda ampliar a oferta de vacinas contra a dengue no país. A informação foi repassada durante a abertura do Centro de Operações de Emergências (COE) contra a dengue, em Brasília. Segundo ela, foram realizadas reuniões com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Instituto Butantã para tratar do tema.

“Todo o nosso esforço será para ampliar essa oferta [de vacinas]”, disse a ministra.

O Brasil é o primeiro país do mundo a oferecer o imunizante no sistema de saúde pública. A primeira remessa com cerca de 757 mil doses chegou ao Brasil em 20 de janeiro. O lote faz parte de um total de 1,32 milhão de doses fornecidas pela farmacêutica responsável pela Qdenga. Outra remessa, com mais de 568 mil doses, está com entrega prevista para fevereiro. A previsão é que o país receba 5,2 milhões de doses este ano. Para 2025, a pasta já contratou outras 9 milhões de doses.

Mesmo com a ampliação, a ministra destacou que a oferta do imunizante não trará impactos imediatos para o combate à doença.

“Elas [as vacinas] significam muito, até porque adquirimos vacinas para 2024 e 2025 e todo o nosso esforço será para ampliar essa oferta, mas não vai ter um impacto nesse intervalo inicial de poucos meses”, apontou.

Em razão de uma quantidade limitada de doses a serem fornecidas por parte do próprio laboratório, a vacinação contra a dengue vai priorizar crianças e adolescentes de 10 a 14 anos de idade, faixa etária que concentra o maior número de hospitalizações depois dos idosos.

Pessoas com mais de 60 anos não têm indicação para receber a dose em razão da ausência de estudos clínicos.

A previsão do ministério é que as doses adquiridas possam imunizar cerca de 3,2 milhões de pessoas ao longo de 2024.

Apesar do crescimento no número de casos, o Rio Grande do Sul ficou de fora da primeira fase da vacinação contra a dengue em 2024, calendário de imunização divulgado no último dia 25 de janeiro. Segundo o Ministério da Saúde, o cenário epidemiológico da doença será novamente analisado para avaliar a possibilidade de incluir o RS nas estratégias de vacinação para 2025. A vacina contra a dengue, no entanto, também é disponibilizada na rede privada de saúde.


 
 

 

 

Edição: Marcelo Ferreira