A apresentadora da TV Pampa, Ali Klemt, foi indiciada pela polícia civil gaúcha após preconizar a eliminação dos palestinos na Faixa de Gaza pelo exército de Israel. “Hoje, sinceramente, não tem outra forma, a não ser, realmente, dizimando uma população que acha que matar aleatoriamente tá tudo certo”, comentou no programa Atualidades Pampa que foi ao ar em 10 de outubro do ano passado. O indiciamento aconteceu através da Delegacia de Combate à Intolerância, de Porto Alegre.
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A ocorrência foi registrada pela Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal). Para a delegada Tatiana Bastos, que presidiu o inquérito, o caso configuraria “injuria racial”, crime hoje equiparado ao racismo. Mas a tipificação final quem dará será o Ministério Público do RS, também se manifestando sobre a propositura de ação penal.
Acreditando em fake news
“Para nós pegar, bebês, matar bebês, decapitar bebês, algo tão insano que não pode acontecer”, disse Klemt na mesma ocasião. Ela acreditou na fake news disseminada pela rede norte-americana CNN de que o grupo Hamas teria decapitado ou degolado crianças.
Em uma rede social, Klemt voltaria a abordar o tema no dia 15 de outubro de 2023. “Há momentos em que, sinceramente, eu questiono o que estamos fazendo aqui”, postou. “E um desses momentos foi a notícia da decapitação de 40 bebês em Israel. Vamos de novo: um crime doloso, executado de forma consciente e deliberada, que aniquilou, de forma cruel, quatro dezenas de bebês. De-ca-pi-ta-dos”, agregou, enfatizando cada sílaba.
Após o estardalhaço mundial provocado pela informação errada da CNN, a âncora e correspondente da rede em Israel, Sara Sidner, pediria desculpas pela notícia falsa que teria partido de fontes israelenses.
Segundo o relatório policial, Klemt, embora confirmando ter defendido “dizimar uma população”, alegou que não se referia aos palestinos mas aos integrantes do Hamas. No entanto, a delegada entendeu que a apresentadora estava sim tratando do povo palestino e não do grupo autor do ataque de 7 de outubro.
“Não há inocentes em Gaza”
O diretor jurídico da Fepal, Nasser Judeh, reparou que a federação está acompanhando muitos casos similares dentro ou fora do Rio Grande do Sul. Um deles é o da comentarista Débora Srour, do programa Hora Israelita, veiculado até o ano passado pela rádio Band/RS.
Após o ataque do Hamas, Srour reproduziu discurso de ódio contra os palestinos por duas vezes. Na primeira, chamou os palestinos de "animais", dizendo que "não há civis inocentes do lado de Gaza". Também propôs que o exército de Israel fosse "mortífero" em Gaza, sem respeitar qualquer proporcionalidade. "Se eles se comportam como animais, então Israel tem de lidar com eles como animais", recomendou.
“Ódio mortal”
Na segunda vez, entrando no programa desde Jerusalém, assegurou ter "muito mais direito a essa terra, onde os avós dos meus avós estão enterrados, e os avós deles, do que árabes que saíram da Arábia e do Egito, e se mudaram para cá no último século". Opinou haver “ódio mortal" dos árabes direcionado aos judeus e alimentado "desde o berço" com uma "sede de sangue insaciável".
Com a repercussão, o programa, que estava havia 77 anos no ar, foi retirado da grade da emissora. O caso Srour está sendo avaliado pela mesma delegacia.
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Aline Klemt foi procurada por Brasil de Fato RS para dar sua versão mas, até o momento em que fechávamos esta edição, não tivemos retorno. De qualquer modo, estamos abertos a ouvir e registrar seus argumentos.
Edição: Marcelo Ferreira