Oscar Romero é o primeiro salvadorenho a ser elevado aos altares, hoje São Oscar Romero
À lutadora, sonhadora e inspiradora do Curso Oscar Romero, Íria Maria Balzan
“Podem matar-me, mas que fique bem claro que a voz da justiça ninguém pode calar.”
Oscar Romero nasceu em Ciudad Barrios, El Salvador, de família humilde, em 1917. Foi ordenado bispo católico de San Salvador em 1974 e Arcebispo em fevereiro de 1977. Em março de 1977, foi assassinado seu amigo padre Rutilio Grande, junto com dois camponeses, o que iluminou sua mensagem e seus compromissos com o povo pobre e sofrido.
Por ter aderido aos ideais da não violência, chegou a ser comparado a Gandhi e Luther King. Nas homilias, denunciava as violações dos Direitos Humanos em El Salvador, com manifestação pública de solidariedade às vítimas da violência política.
Defendia dentro da Igreja católica a opção preferencial pelos pobres. “A missão da Igreja é identificar-se com os pobres”, disse em 11 de novembro de 1977. Na véspera da sua morte, disse: “Em nome de Deus e desse povo sofredor, cujos lamentos sobem aos céus todos os dias, peço-lhes, suplico-lhes, ordeno-lhes: cessem a repressão.”
Dom Oscar Romero foi assassinado quando celebrava a missa, em 24 de março de 1980, por um atirador da elite do exército salvadorenho, treinado na Escola das Américas.
Oscar Romero é o primeiro salvadorenho a ser elevado aos altares, o primeiro arcebispo martirizado da América, o primeiro a ser declarado mártir depois do Concilio Vaticano II, o primeiro santo nativo da América Central. O Papa Francisco canonizou Dom Oscar Romero, hoje São Oscar Romero. A Igreja luterana também participou da cerimônia com a presença do bispo salvadorenho Medardo Gomez.
De 8 a 11 de janeiro de 2024, realizou-se a 24ª edição do Curso Oscar Romero no Instituto Magnificat em Santa Maria, com mais de 50 participantes, vindo de todo Rio Grande do Sul. O tema geral do Curso foi: Entre avanços e recuos: decolonialismo, patriarcalismo, CEBS e amizade social.
Oscar Romero iluminou os dias do Curso com sua frase: “Viver em comunidade não é questão de opção, mas sim de vocação. O cristianismo, por vocação, exige a formação da comunidade.”
A teóloga luterana Sabrina Senger, o teólogo padre Francisco Aquino e o professor Lúcio Hammes, com permanente participação e diálogo, e à luz de Oscar Romero, fizeram a reflexão sobre o Brasil, as Américas e o mundo, tão dilacerados nestes tempos. E alimentaram a esperança, para construir, coletiva e solidariamente, a sociedade do Bem Viver.
O colonialismo é histórico, mas a justiça de gênero é caminho à vida digna. O imperialismo, o patriarcado e o machismo, o liberalismo econômico, o capitalismo estão presentes nas mentes, nos governos, nas políticas. Mas o povo de Deus não se entrega e produz alternativas e futuro.
A Igreja é sacramento, sinal de mudança. O Papa Francisco devolveu a Igreja ao Evangelho e aos pobres. A Encíclica Fratelli Tutti junta, ineditamente, a economia, a política, cultura e o meio ambiente. A lógica da fraternidade está presente quando se diz e proclama, com unidade na ação, ´ninguém solta a mão de ninguém, todas irmãs, todos irmãos’.
A educação popular do cristão e educador popular Paulo Freire enfrenta o colonialismo, o patriarcalismo e constrói a emancipação de continentes, povos, os mais pobres entre os pobres, trabalhadoras e trabalhadores. Lutadoras e lutadores, sonhadoras e sonhadores do Reino de e de um mundo novo com paz, igualdade e justiça estão vivos, muito vivos.
Foram assumidos dois compromissos pelos participantes do 24º Curso Oscar Romero, a inspirar todas e todos em 2024: “1. Iniciar grupos de reflexão, fortalecer os que já existem, incentivando maior participação de jovens a partir de diálogos na perspectiva de realidades locais. 2. Usar as mídias sociais para divulgar o Curso Oscar Romero e a causa da beatificação de Sepé Tiaraju, ocupando os espaços nas rádios comunitárias e associações de bairros, visando resgatar a temática dos povos originários.”
2024 será um ano de Formação na Ação. Não há tempos impossíveis para quem conhece e enfrenta o colonialismo e o patriarcalismo. A amizade social nas palavras do Papa Francisco é luz que brilha e fortalece. A educação popular libertadora e conscientizadora está sempre presente na boa luta e no esperançar.
São Oscar Romero vive!
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko