Mas será um ano de mobilização e luta, com diálogo, com unidade, ninguém soltando a mão de ninguém
Estamos caminhando para uma guerra mundial, talvez nuclear, ainda em 2024. Não há sinais concretos do fim das guerras entre Rússia e Ucrânia, e no Oriente Médio, Hamas e Israel, com envolvimento crescente de outros países da região. As mortes, especialmente de crianças, mulheres e civis, acontecem de forma crescente todos os dias, deixando o mundo inteiro em crise, e o futuro da humanidade talvez por um fio.
Hoje só há dois líderes mundiais que, por sua força política e voz profética, podem abrir o diálogo para o fim das guerras, para a paz, mais que urgentes e necessários: Papa Francisco e Lula. 2024 não pode ou, principalmente, não deveria mais ser mais um ano de conflitos, de ódio e intolerância entre povos, países e continentes. Lula e Francisco estão chamados, ou precisam ser convocados para uma intervenção mais conjunta e direta.
As mudanças climáticas, com suas trágicas consequências vão continuar atormentando o Brasil e o mundo em 2024. Quantas mortes! Quantos prejuízos materiais! Quantas famílias ainda fora de casa! Quantas comunidades praticamente destruídas! O cuidado com o meio ambiente e a Casa Comum são decisivos já em 2024, com garantia de vida e de ar para respirar para as futuras gerações.
A América Latina e o Caribe estão em ebulição. Basta ver os acontecimentos por estes dias no Equador, com respingos no Peru e outros países, as incertezas na Argentina, para citar apenas alguns países latino-americanos e caribenhos, onde o futuro e a democracia estão ameaçados.
E o Brasil? Que será do Brasil? Há notícias boas, alvissareiras, de um novo tempo com esperança. Mas nada está definitivamente consolidado, inclusive ante os acontecimentos e o quadro internacional.
As políticas de participação social e popular, o retorno dos conselhos populares, as diferentes conferências nacionais com grande participação e envolvimento de diferentes setores da sociedade, a retomada da PNEPS-SUS - Política Nacional de Educação Popular em Saúde, assim como as de soberania e segurança alimentar e nutricional, de agroecologia e produção orgânica, de economia popular e solidária, de assistência social, entre outras muitas, estão acontecendo. Mas, em boa parte, ainda estão caminhando bastante devagar, ante as urgências e exigências da conjuntura, enquanto o tempo urge e ruge.
As eleições municipais de outubro podem ser um momento importante de recuperação e afirmação da democracia, de construção de políticas públicas participativas com diálogo, de fortalecimento dos direitos do povo, especialmente dos mais pobres entre os pobres, e da classe trabalhadora como um todo. Mas as políticas e os ideais ultraneoliberais e o neofascismo não estão derrotados, inclusive no processo eleitoral. A unidade do campo democrático-popular é fundamental para a vitória, com programas de governo enfrentando a fome, a miséria, a desigualdade, a injustiça em todos os níveis, e processos de participação social e popular, como o Orçamento Participativo.
De toda forma, 2024 começou a mil por hora. As mobilizações por democracia em 8 de janeiro foram expressivas em todo Brasil. Em Porto Alegre, por exemplo, o Ato pela Democracia foi chamado para a sede do Sindicato dos Bancários. Houve necessidade, felizmente, de ir para a rua, por causa da quantidade de pessoas presentes. O discurso do presidente Lula no dia 8 de janeiro em Brasília foi poderoso, a favor do povo, da soberania, da democracia.
No início de janeiro, o Curso Oscar Romero - bispo assassinado em El Salvador por sua defesa dos direitos dos pobres e da democracia, teve mais de 50 participantes em Santa Maria, vindos de quase todo Rio Grande do Sul, com o tema “ENTRE AVANÇOS E RECUOS: DECOLONIALISMO, PATRIARCALISMO, CEBs e AMIZADE SOCIAL”. Foi um momento de estudo e debate mais que oportuno, preparando a Campanha da Fraternidade/2024, cujo tema é “Fraternidade e Amizade Social”, a partir da Encíclica Fratelli Tutti do Papa Francisco, com o lema “Vós sois todos irmãos e irmãs”.
As eleições dos representantes da sociedade civil para o CMDUA - Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano e Ambiental de Porto Alegre, marcadas em período nada favorável para a participação popular pelo governo municipal conservador, começaram a acontecer, com muitas mobilizações. E o campo democrático-popular, apesar das dificuldades, foi vitorioso na região Centro de Porto Alegre, a mais importante, derrotando o poder imobiliário e as articulações das forças de direita e conservadoras.
As eleições municipais de outubro, quando é fundamental a unidade do campo democrático-popular para ser vitorioso, serão um momento muito importante de reconstrução da democracia. Mas antes das eleições, especialmente no primeiro semestre, a luta popular, a disputa de espaços democráticos, o trabalho de base nas comunidades das periferias, a construção de um programa de governo de baixo para cima serão decisivos para uma vitória consistente, derrotando o ultraneoliberalimo capitalista e o neofascismo ainda muito vivos.
2024 será um ano difícil, muito difícil. Mas será, com certeza, um ano de mobilização e luta, com diálogo, com unidade, ninguém soltando a mão de ninguém. Não haverá descanso. O ESPERANÇAR freireano estará no horizonte cotidiano de lutadoras e lutadores, sonhadoras e sonhadores da Sociedade do Bem Viver.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Marcelo Ferreira