Sejamos passarinhos fazendo barulho nas janelas, anunciando o que virá e o que vamos fazer acontecer
O passarinho bate suas asas,
seu bico, suas patinhas na janela da casa da família.
Aparece ora numa, ora outra, ora na terceira,
uma janela de cada lado da ampla cozinha
em Santa Emília,
Venâncio Aires,
interior do interior do Rio Grande do Sul.
Sem medo, chama a atenção de todo mundo,
com a firmeza das patas, do bico e das asas,
não deixando ninguém quieto,
ninguém indiferente,
o olhar de todas e todos posto nele,
admirando sua garra,
sua beleza,
sua desenvoltura,
sua determinação,
seu destemor e coragem
na hora do café da manhã, do almoço,
ou do sagrado chimarrão em terras gaúchas,
na Capital Nacional do Chimarrão.
O passarinho,
um único e sempre apenas ele,
parece querer dizer alguma coisa,
ou muitas coisas,
passar uma mensagem nos últimos dias de 2023
e primeiros dias de 2024.
Será sobre a paz, necessária e urgente?
Será sobre a natureza em crise?
Será sobre a beleza da(s) família(s) unida(s)
na despedida de um ano difícil
e no alvorecer incerto de outro?
Será um aviso
de que é preciso ter cuidado,
muito mais cuidado com as-os mais próximas-os,
mais paciência com todas e todos,
um olhar mais atento para com todos os seres vivos
e, principalmente, com a Casa Comum?
O passarinho é sinal dos tempos,
gesto povoado de alegria,
testemunho dos bons tempos que virão, ou não,
na velha, mais que antiga, centenária cozinha da família?
Brilham suas luzes,
sua voz profética,
seu gesto de amor e encanto,
sua palavra sobre o futuro com esperança.
O passarinho está vivo.
Nós, felizmente, estamos vivos.
Como ele, resistimos todo ano de 2023.
Estamos prontos para o que der e vier,
resistiremos em 2024,
o passarinho como exemplo, agitando suas-nossas patas,
afiando seu-nosso bico,
abrindo suas-nossas asas para o mundo,
todas e todos com ele, cheios de fé e coragem.
O poema foi escrito às 18h30 do dia 29.12.2023, olhando o passarinho na janela, tentando entender e transmitir seu recado de vida, esperança e futuro.
Um acontecimento inusitado, inacreditável, surpreendente, jamais visto na casa da família, deixou todo mundo de boca aberta, orelhas em pé, sem entender as razões, tampouco seu significado, nos últimos dias de 2023 e primeiros dias de 2024. E estamos falando de uma família que mora à beira de um matinho, casa cercada de árvores, cheia de bichos, pássaros de todos os tipos que aparecem de um jeito ou de outro o tempo todo o ano inteiro. Um passarinho começou a aparecer todos os dias nas três janelas da ampla cozinha, ora numa, ora noutra, cada janela numa das paredes da grande cozinha da centenária cozinha.
Aparecia nas janelas batendo as asas nos vidros, bico fazendo barulho, de vez em quando também com as patas, chamando a atenção enquanto se tomava o chimarrão, no café da manhã, na hora do almoço. O passarinho ficava olhando para a gente, não se sabe se pedindo um tempo de cuidado, ou à procura de perdão, ou simplesmente dando o ar da graça para dizer ´estou vivo, vocês também´.
Como interpretar, em dias com sol, outros nublados, alguns com chuva, depois de um ano cheio de turbulências climáticas, entre outras mil coisas?
2023 não foi fácil, todas e todos mais que sabem e viveram. Nem do ponto de vista pessoal, eu começando e terminando o ano com problemas de saúde, a vida cada vez mais difícil no planeta terra, a paz cada vez mais distante, a natureza ameaçada, as pessoas atordoadas, as comunidades sem saber o futuro, o Brasil saindo de uma tempestade, mas continuando no meio de ondas de ódio, intransigência, preconceitos e pouco diálogo. Todo mundo esperava que terminasse logo, o quanto antes, o fatídico e complicado 2023.
2024 não promete ser muito diferente ou melhor. Mil dúvidas e incertezas pela frente, cercam almas, mentes e corações, as guerras não só continuam quanto tornam-se cada dia mais implacáveis e perigosas, as políticas públicas e a participação popular, embora estejam em recuperação e tenham avançado no Brasil, continuam devagar. O horizonte continua turvo. Ninguém sabe com certeza, ou arrisca dizer, como se chegará no final de 2024, se vivos, ou mais ou menos vivos, se com mais esperança, mais direitos, mais dignidade, mais democracia.
O passarinho na janela da cozinha de casa é luz. Está sozinho batendo o bico nos vidros, chamando a atenção de quem o pode ver e ouvir. Mostra estar vivo, diz ser capaz de voar de uma janela a outra, sopra seu ar de ternura para todas e todos, faz barulho, canta, resiste, anuncia o amanhã.
Sejamos passarinhos fazendo barulho nas janelas em 2024, anunciando para todo mundo o que virá e o que vamos fazer acontecer. E dizendo, TAMO VIVO!
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Marcelo Ferreira