No ano de 2023, 64 policiais civis foram exonerados dos seus cargos na Polícia Civil gaúcha. O aumento representa um crescimento de 300%, quando comparado a 2020 e é o maior da história da instituição. É o que aponta levantamento realizado pelo Sindicato dos Escrivães, Inspetores e Investigadores de Polícia do Rio Grande do Sul (Ugeirm), que considera o dado como "uma febre no organismo" que sinaliza que a instituição "está ficando doente".
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Em dezembro de 2018, ao final da implantação da tabela de subsídios da Polícia Civil gaúcha, a carreira de policial civil era uma das mais cobiçadas nos concursos para o serviço público, recorda o sindicato. De lá para cá, essa realidade mudou consideravelmente. Nesses cinco anos, a categoria teve apenas 6% de reposição salarial, contra uma inflação de 58%.
Baixos salários, precariedade e sobrecarga
Conforme a entidade, o achatamento salarial da Polícia Civil é uma forma de sucatear a instituição, levando os melhores profissionais a pedir exoneração e buscar outras carreiras do serviço público. Outro fator central que tem levado ao aumento assustador das exonerações, é a desmotivação causada pelas condições precárias de serviço, combinada com uma grande sobrecarga de trabalho. O déficit de efetivo, que é agravado pelo grande número de exonerações, e a grande quantidade de operações policiais e o número excessivo de horas trabalhadas, têm levado a categoria ao adoecimento físico e mental.
O vice-presidente da Ugeirm, Fabio Castro, alerta para o grave momento por que passa a Instituição. "Essas exonerações significam mais do que a perda de valorosos colegas, que escolhem largar a Polícia Civil em busca de melhores condições de trabalho. Os números que estamos publicando mostram que a Polícia Civil está entrando em um caminho extremamente perigoso."
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O sindicalista relembra que no início da década de 2010, a Polícia Civil passou por um processo de valorização e qualificação do seu quadro funcional. A implantação da tabela de subsídios trouxe pessoas qualificadas para os concursos e motivação para os servidores que já estavam na instituição. "O resultado disso, foi a queda constante nos índices de criminalidade e o reconhecimento da sociedade como um todo. Ao achatar os salários da polícia e negar a valorização desses servidores, o governo envereda por um caminho que jogará por terra todos os avanços conseguidos na última década”, comenta Fabio.
Já o presidente da Ugeirm, Issac Ortiz, aposta que a situação só pode ser alterada com a valorização dos profissionais. Para ele, a saída é "valorizar o trabalho policial, reconhecendo e repondo as grandes perdas salariais da categoria, além de uma política contínua de progressão na carreira, com promoções periódicas e melhora nas condições de trabalho".
Ortiz defende ainda que é preciso reverter os retrocessos na aposentadoria policial, "reconhecendo que o trabalho policial é uma atividade de risco, que precisa ser tratada da mesma forma que as outras carreiras policiais, com uma aposentadoria com paridade e integralidade. O dirigente ressalta que essas 64 exonerações "são um aviso que precisa ser ouvido pelo governador Eduardo Leite”.
Edição: Marcelo Ferreira