No final de novembro foi realizado na Universidade Federal do Pampa (Unipampa, Campus Bagé) um evento que colocou em destaque o potencial de produção de energia elétrica através de parques eólicos na Metade Sul do RS.
O Brasil de Fato RS conversou com dois especialistas que participaram dessa atividade para compreender a viabilidade do tema e o espaço que pode ocupar nos projetos de Transição Energética Justa, que estão sendo propostos pelo Polo de Inovação Energética e Ambiental do Pampa Gaúcho.
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O engenheiro Ronaldo Custódio, que já foi diretor de Engenharia, de Operação e Presidente da Eletrosul, hoje atuando junto das empresas Faex Energy e Cymi Renováveis, é direto ao afirmar o potencial eólico do território: “A Metade Sul tem um potencial muito grande, o melhor do estado do RS, que por sua vez tem o melhor potencial eólico do Brasil”.
Conforme explicou, especificamente na região da Campanha, onde o evento foi realizado, o potencial é calculado entre 43 a 44 megawatts. “Isso é maravilhoso, se fosse um estado independente seria o segundo melhor potencial do Brasil”.
Para exemplificar, Custódio chama o território de “mina de vento” e cita Santana do Livramento como exemplo, “com o parque eólico que está em implantação neste momento, será o segundo município com maior potencial instalado no RS”, afirmou. Para ele está claro que o potencial eólico pode representar uma forte ferramenta de desenvolvimento para o estado.
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"Tudo está identificado, mapeado e registrado no Atlas Eólico, produzido em 2014, com detalhamento, o potencial município por município", acrescenta Custódio. Ele explica que o documento a que faz referência pode ser utilizado como instrumento de planejamento em cada município.
“Talvez o que falte para isso se tornar realidade seja estruturar uma política estadual de desenvolvimento, que utilize o grande potencial de vento do RS”, aponta. “Existe uma capacidade importante de consumo e uma capacidade fabril relevante, o estado tem um parque industrial representativo e qualificado, a indústria metalmecânica gaúcha é uma das melhores do Brasil.”
Segundo ele, esse potencial pode ser juntado e se tornar uma política de Estado que traga o desenvolvimento forte da energia eólica no RS.
Dados apresentados por Custódio, a partir do Atlas Eólico do RS, indicam que o estado tem potencial de geração de energia elétrica a partir de parques eólicos calculada em 102,8 gigawatts. Em comparação a outras unidades federativas, o estado fica a frente da Bahia (70,1 GW), Minas Gerais (39,0 GW) e Rio Grande do Norte (29,1 GW) que despontam como potenciais mais favoráveis.
Quanto ao potencial no estado do RS, a Metade Sul fica em destaque, tendo a projeção de 43 Gigawatts na região Sudoeste (Campanha); 38 Gigawatts na região Sudeste (que engloba o Litoral Sul); 11 Gigawatts na Região Metropolitana de Porto Alegre (que engloba Litoral Norte); 5 Gigawatts na região Centro-Ocidental; 2,8 na região Nordeste; 2 Gigawatts na região Noroeste; e 0,03 Gigawatts na região Centro-Oriental.
Projeto da Unipampa está compilando e organizando informações estratégicas para o setor
Enoque Dutra Garcia, também engenheiro, professor da Unipampa e coordenador do Projeto BEMSPampa (Balanço Energético da Metade Sul – Bioma Pampa) concorda com as afirmações do convidado e destaca que é preciso ser considerado esse referencial nas ações e projetos que buscam o desenvolvimento regional.
Acerca do BEMSPampa, Garcia explicou que se trata de um projeto que investiga os recursos energéticos do Bioma Pampa para levantamento de dados do potencial energético da região, que vai levar à composição de um Atlas para disponibilização das informações consolidadas.
“O objetivo é investigar recursos do Bioma Pampa coincidente com a mesorregião Metade Sul Rio Grandense, realizar o levantamento de informações geoelétricas a partir do desenvolvimento do potencial energético regional, contribuir para a transição energética regional e gerar conhecimento científico”, afirmou.
“Fizemos um evento relacionado ao potencial energético eólico da região e também para trazer a primeira divulgação do resultado parcial do projeto do balanço energético da Metade Sul e agora começar a fazer os testes com os participantes que fizeram as suas manifestações para buscar os feedbacks e ir melhorando a plataforma”, explicou.
Garcia destacou ainda como ponto positivo do evento o interesse dos participantes em se manifestar, trocar ideias. “Ficamos muito satisfeitos principalmente com o interesse despertado sobre o tema e a possibilidade de posicionar a Unipampa nessa discussão em torno da transição energética.”
Para o professor também foi positivo os referenciais alcançados em outra direção, despertando o interesse de empresários e autoridades acerca do potencial eólico, bem como colocar a Universidade nesse debate para aproveitar a mão de obra e os profissionais que estão envolvidos na parte acadêmica;
O encontro foi realizado na Unipampa campus Bagé, no dia 24 de novembro, e contou ainda com a participação do Grupo de Estudos Avançados em Engenharia de Energia (GrEEn), Curso de Engenharia de Energia da Unipampa, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs). As ações do Balanço Energético da Metade Sul – Bioma Pampa podem ser acompanhados através do site https://sites.unipampa.edu.br/green/projeto-bemspampa/
Edição: Katia Marko