Rio Grande do Sul

Coluna

A Lomba não se entrega! Grita, resiste, luta!

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Moradores afetados pela falta de água paralisaram o trânsito em frente a Prefeitura de Porto Alegre reivindicando a normalização do abastecimento - Foto: Jorge Leão
Hora de todas as comunidades fazerem a luta, gritarem com unidade, não pararem a mobilização

“Boletim da Associação Comunitária da Vila São Pedro da Lomba do Pinheiro. No início do ano de 1980: 1. Havia algumas vilas situadas entre Porto Alegre e Viamão, que não tinham nenhuma infraestrutura. 2. As pessoas caminhavam quase 2 kms para pegar o ônibus. 3. Pagavam muito caro a passagem. 4. Passavam que nem macacos sobre uma ponte velha de madeira. 5. Aguardavam há muitos anos a vinda da água, sem nenhuma esperança de um dia conseguirem todas estas reivindicações.”

Continua o Boletim da Associação, de 1980: “Você sabe reconhecer estas vilas? E o que aconteceu nelas para que esses problemas fossem resolvidos? Nestas vilas havia uma Associação Comunitária que buscava melhorar os seus trabalhos junto aos moradores. E essa Associação resolveu o seguinte: 1. Levar a luta por um objetivo até a vitória. 2. Defender os interesses dos moradores em qualquer situação (também moradores de outras vilas). 3. Procurar ampliar a participação dos moradores. 4. Tomar todas as decisões importantes e de interesse dos moradores em Assembleia Geral, onde todos possam dar a sua contribuição. 5. Levar um trabalho junto com as Associações e Comissões de outras vilas.”

Segue o Boletim Informativo, 1980: “E que vitórias conseguimos? 1. Ônibus passando pelo Beco da Taquara, por dentro das vilas. 2. Ruas patroladas. 3. Passagem a CR$ 10.00. 4. Construção da ponte da rua São Pedro. 5. Instalação da Rede de Água. 6. Sede para reuniões e máquina de escrever.”

Uma pergunta fundamental no Boletim Informativo, e suas respostas, em 1980: “Mas como conseguimos todas estas vitórias? 1. Através das Assembleias Gerais, onde se tomavam todas as decisões. 2. Através das reuniões realizadas todas as segundas-feiras para planejar o trabalho. 3. Através dos Boletins e Convites, entregues de casa em casa. 4. Através dos Representantes de Rua. 5. Através do apoio dos grupos da comunidade. 6. Através das Comissões que enfrentaram os prefeitos e os órgãos públicos sem medo. 7. Através da imprensa, que usamos para denunciar o que acontece em nossas vilas.”

O Boletim continua: “Apesar de toda esta luta ainda temos muitos problemas a serem resolvidos: 1. Falta mais e melhores ônibus. 2. Falta luz na rua. 3. A passagem vai subir. 4. Falta esgoto. E o que mais você acha que falta? Então, participe de nossas reuniões todas as segundas-feiras, às 20h30, na Rua São Pedro, 244. No dia da avaliação, você comparece para criticar, elogiar, dar sugestões.”

Finalmente, diz o Boletim da Associação Comunitária da Vila São Pedro da Lomba do Pinheiro, em 1980: “Queremos agradecer a todos que participaram de nossas lutas: Comissão de Moradores da parada 10; CPM do Colégio Dona Rafaela; Comissão de Moradores da Vila Santa Helena; Associação Comunitária da Vila Pinhal; Comissão de Moradores da Vila Santa Helena; Ascovipa, Associação de Moradores da Vila Panorama. Nossa união foi decisiva para as vitórias alcançadas. Desejamos a todos um ano novo muito feliz, onde juntos possamos alcançar novas vitórias.”

Em 1980, os moradores da Lomba do Pinheiro, através do seu Boletim Informativo, dão aula de luta, unidade e mobilização, para melhorar a vida de moradoras e moradores, em tempos em que a Lomba do Pinheiro era parte do município de Viamão, parte de Porto Alegre, todas e todos na periferia.

No final de 2023, mais de 40 anos depois, as notícias e manchetes são: “Moradores afetados pelo desabastecimento de água reivindicam medidas efetivas em POA. Na manhã desta sexta-feira, 22.12, moradoras e moradores realizam um protesto em frente à sede da Prefeitura da Capital” (Maria Helena dos Santos e Jorge Leão, Brasil de Fato RS, 22.12.23).

 “Bairros da Capital enfrentam falta de luz e água em meio à forte onda de calor. Prefeitura recorreu a caminhões-pipa enquanto diz conversar com a CEEE Equatorial para a normalização da energia” (Sul 21, 18.12.23).

A Lomba, onde morei nos anos 1970 e 1980, na rua São Pedro, 110, parada 13, Vila São Pedro, mais algum tempo na Vila Santa Helena, parada 12, não para e não se entrega. Em 1980, as lutas levaram à vitória. Em 2023 e 2024, com o Conselho Popular da Lomba do Pinheiro, o Núcleo de Reflexão Política, o Cursinho Popular KiLomba, as Associações de Moradores, as CEBs, o povo organizado exige respeito, direitos, dignidade. E levarão de novo à vitória.

Importante e necessário lembrar que, nos anos 2000, como falou Guilherme Barbosa, ex-Diretor do DMAE, na manifestação de 22 de dezembro de 2023 em frente à Prefeitura de Porto Alegre: “Anos atrás, fruto dos governos populares e do OP, Orçamento Participativo, a Lomba não tinha mais problema de água.” “A falta de água é só mais uma ponta aparente da ´invisível´, mas criminosa má gestão do prefeito de Porto Alegre” (Blog do Luiz Muller, 21.12.2023).

Hora de todas as comunidades fazerem a luta, gritarem com unidade, não pararem a mobilização, como fez a Lomba em 1980, faz em 2023, e fará em 2024, junto com as comunidades do Partenon, Restinga e Porto Alegre inteira. Tudo acontecendo com permanente Formação na Ação, organização e emancipação popular, conscientização freireana, com muito diálogo, ninguém soltando a mão de ninguém: por direitos, por condições dignas de vida, por participação popular, por democracia.

Viva 2024! Na boa luta, ESPERANÇAR.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato. 

Edição: Katia Marko