Desde a fundação da sua entidade de classe, os bancários investiram na organização e formação
“Amo o amor que se reparte em beijos, leite e pão.
O amor que pode ser eterno e pode ser fugaz.
Amor que quer liberdade para voltar a amar.”
Pablo Neruda
Caros leitores e leitoras,
Com muita satisfação, estamos inaugurando a participação do SindBancários de Porto Alegre e Região Metropolitana neste espaço do Brasil de Fato. Nossa ideia é compartilhar os assuntos relacionados à categoria e abordar temas de interesse da classe trabalhadora de modo geral. Assim, não poderia ser diferente a pauta da estreia. Na noite do 18 de janeiro de 1933, numa histórica reunião realizada no Clube Caixeral, nascia o Sindicato dos Bancários. São muitas as histórias.
Os primeiros bancos reconhecidos oficialmente surgiram na Suécia, em 1656. Na Inglaterra, em 1694 na França, em 1700 e no Brasil, o BB em 1808. No dia 12 de janeiro de 1861, Dom Pedro II decreto a fundação da Caixa Econômica e Monte de Socorro, hoje CEF. Em 1930, o Brasil contava com 37,6 milhões de habitantes, afundados na miséria resultante da crise econômica mundial. Os salários reduzidos à metade. Em 1933, o nazismo propunha às mulheres alemãs os célebres três KKK: Kind, Kirche, Küche; criança, igreja e cozinha.
No ano de fundação do Sindicato, a ditadura de Getúlio Vargas estava sendo consolidada. No canetaço, o ditador decreta o "Reajustamento" por conta da crise mundial e o Banco do Brasil devolve centenas de fazendas de café cujos donos estavam endividados; e põe mais dinheiro nas mãos dos fazendeiros. Também se valeu das medidas centralizadoras. Entre elas a dissolução do Congresso e das Assembleias, Câmaras municipais e a substituição dos governadores por interventores nomeados pelo próprio Vargas. A ditadura recebeu o nome de Estado Novo. As semelhanças entre as ditaduras de Getúlio Vargas, Adolf Hitler e Benito Mussolini já foram apontadas por muitos historiadores. O próprio nome Estado Novo foi tirado de outra ditadura europeia da época, instituída por Salazar em Portugal, país que se manteve oficialmente neutro durante a Segunda Guerra. Em 1945, Getúlio Vargas foi deposto pelas Forças Armadas.
Fita amarela
Um recorte político no ano em que nasceu o Sindicato, na literatura, artes, feminismo e samba. Gilberto Freyre publica Casa & Senzala; até hoje o autor é acusado de não ter assumido “a visão negra e escrava da história do Brasil”. Para muitos, uma bobagem. Os Sertões, de Euclides da Cunha, também foi espinafrado, um gaiato e iconoclasta, diziam. Foi criado o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos. Um ano depois, comerciários e bancários também conquistaram seus Institutos.
O paulista Caio Prado Júnior pública “Evolução Política do Povo Brasileiro”, considerado a primeira tentativa de análise marxista da nossa história. O modernista, Oswald de Andrade, publica “Serafim Ponte Grande”, uma novela proletária. Considerado mais político ainda é o romance de Patrícia Galvão - Pagu - “Parque Industrial”, que saiu sob o pseudônimo de Maria Lobo. O sucesso do carnaval foi “Fita Amarela”, de Noel Rosa: “Quando eu morrer. Não quero choro nem vela. Quero uma fita amarela, gravada com o nome dela”.
Mulheres em luta
Três de maio de 1933 é o dia das eleições para a Assembleia Constituinte, a primeira eleição em que as mulheres participam. “Uma conquista feminina inegável, fazendo com que o Brasil se transformasse num dos países pioneiros na concessão do voto para as mulheres”, escreve Mônica Karawejczyk no Correio. Na praça da Sé, em São Paulo, Mário Pedrosa é ferido a bala, num confronto entre integralistas e trotskistas. Arthur Ramos publica "O Negro Brasileiro", renovando os estudos de antropologia no Brasil. O compositor popular Lamartine Babo grava a marcha "Quem foi que inventou o Brasil"? Até hoje tem gente querendo saber o nome e quem é ele.
Por conta das lutas contra os opressores e defesa dos interesses dos bancários e dos trabalhadores, o sindicato sempre foi perseguido. Algumas das armas chamavam de intervenções. A primeira ocorreu em 1946, na queda de Vargas. Novamente, em 1964, quando do Golpe Militar. Outra intervenção foi em 1968, quando os militares sacaram o Ato Institucional 5, também chamado “draconiano” AI-5. Em 6 de setembro de 1979, em meio à maior greve dos bancários porto-alegrenses, ocorreria o quarto e último ataque, que durou 10 meses e cinco dias. A ação interventora cassou os dirigentes Aquiles Notti, Câncio Vargas, Felipe Nogueira e do, então presidente do Sindicato, Olívio Dutra, ex-governador do Rio Grande do Sul e ex-ministro das Cidades do governo Lula.
Ladeira remodelada
Desde a fundação da sua entidade de classe, os bancários investiram na organização, na formação política e na construção da unidade sindical. A base era estadual, mas, com o surgimento de novos sindicatos, o movimento ampliou. De modo que, desde 1990, o sindicato de Porto Alegre agregou 14 municípios vizinhos (Alvorada, Barra do Ribeiro, Cachoeirinha, Canoas, Charqueadas, Eldorado do Sul, Esteio, Gravataí, Guaíba, Nova Santa Rita, São Jerônimo, Sapucaia do Sul, Sertão Santana e Viamão), resultando no nome atual: Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região.
Toda a estrutura diretiva, de serviços e equipamentos para uso dos bancários e da comunidade, a exemplo dos auditórios, salão de festa, biblioteca, estúdio de áudio e vídeo, cinema e espaço cultural estão em um único lugar: na Casa dos Bancários. O local, que antigamente era chamado de Sede da Ladeira, foi restaurado e remodelado e se tornou uma referência das lutas sindicais e das ações do SindBancários na Capital, rua General Câmara,424, Centro Histórico da capital.
Nossas mãos
Em recente pronunciamento, o presidente do SindBancários, Luciano Fetzner, afirmou que a categoria segue muito ligada com as mudanças no mundo do trabalho e suas consequências no dia a dia dos bancários e bancárias. Luciano, que é dado a leituras e aos estudos de temas sociais, recomenda aos trabalhadores e trabalhadoras de todas as categorias que prestem atenção, reflitam e compartilhem suas impressões, seus pontos de vistas “sobre os fatos e propostas que circulam no mundo real”. O presidente diz que “nos tempos difíceis as verdades costumam ser cruéis”. Ele lembra que mentiras, avanços e retrocessos fazem parte da história. “Ela segue seu caminho em passadas curtas e lentas. Mas não podemos perder as esperanças”, acentua.
Luciano defende que é preciso acelerar a reconstrução do país, centrado nas necessidades do povo trabalhador. “É a nossa luta, dos sindicatos, movimentos sociais, daquelas pessoas que querem reconstruir o Brasil sem racismo, preconceitos, desemprego, discriminações e desigualdades sociais. Nós, do SindBancários, estamos neste caminho e seguiremos juntos com a classe trabalhadora, construindo a nossa história com as próprias mãos”, finalizou o presidente.
Texto: Moah Sousa / Assessoria do SindBancários
Fontes: Aos Tranco e Barrancos, Darcy Ribeiro; Arquivo/Memória, SindBancários
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko