A vida real é dura, mas com uma grande potência de criação! Que venha 2024!
Hoje acordei cansado. Provavelmente, você também. Fim de mais um ano. Respiramos o alívio pós-pandêmico em meio a temporais, enchentes e recordes de calor e frio. Muitos dizem que o mundo está acabando. O mundo não, talvez só a espécie humana mesmo. Pessimista? Talvez nem tanto. Ao som de 'Hoje é um novo dia de um novo tempo, que começou...', te convido a pensarmos juntos sobre algumas coisas.
Para além das inúmeras alterações climáticas que temos acompanhado, o próprio fato de existir anda bastante complicado. Tenho e escuto constantemente a sensação de que caminhamos à beira do abismo. Sabe aquela cena em que a ponte de madeira balança, range, tem pedaços faltando e se você pisar em falso 'já era'? Pois então, quase isso. Trêmulos, olhamos para baixo e nos apavoramos com a possibilidade de errar.
O erro se tornou assombroso, a falha, imperdoável. Os olhos miram no copo meio vazio, no erro ortográfico, na espinha do rosto, na palavra engasgada. Em que momento nos tornamos caçadores de defeitos? Como canta Glória Groove, em 'A queda': 'E nessa corda bamba quem vai caminhar sou eu / E venha ver os deslizes que eu vou cometer / E venha ver os amigos que eu vou perder / Não 'to cobrando entrada, vem ver o show na faixa / Hoje tem open bar pra ver minha desgraça'.
Estamos sempre na corda bamba, sempre tentando proteger nosso castelo de ideais. A péssima notícia é que os ideais são como cristais: reluzentes, agradavelmente sonoros, mas que dificilmente suportam uma longa viagem sem acabarem lascados. E o que é viver se não acabar lascado? Machucado? Frustrado? Em falta?
Ok, ok, pessimista demais para um fim de ano, né?! Talvez eu devesse desejar amor, paz e saúde. Desejo isso, mas também quero deixar a mensagem de que são dessas faltas que a vida impõe que surgem os desejos. O querer algo a mais, alguma coisa diferente, um movimento inovador. É na tentativa de sair do caos que criamos a alegria no viver. Sim, criamos. A alegria não vem por 'geração espontânea'; precisamos levantar, tirar a poeira da roupa, lavar os joelhos ralados e construir o novo.
É fácil? Não. E o universo não cuidará disso. Vai depender de você mesmo. Não adiantará usar branco, assoprar canela, acender incenso, comer grãos de uva ou pular ondas. Eu sei que é confortável transferir a responsabilidade das nossas vidas para o além. Mas faça um esforço, você precisa ser mais protagonista. E sim, é errando que se aprende. É saber que viver é uma aposta e que a falha é inerente a toda existência. Se cobre menos.
Por fim, que neste novo ano possamos criar possibilidades de construção. E que seja a partir da concepção de que a vida real é dura, mas com uma grande potência de criação! Que venha 2024.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko