Liderança rural de destaque no Norte do Brasil e um dos fundadores da Centra Única dos Trabalhadores, o sindicalista Avelino Ganzer faleceu nesta quarta-feira (13), aos 75 anos. Ele lutava há sete meses contra um câncer raro e agressivo na medula óssea. Estava internado há um mês em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde sofreu uma parada cardíaca.
Os 40 anos da Central Única dos Trabalhadores e das Trabalhadoras
Natural de Iraí, interior do Rio Grande do Sul, Ganzer partiu para a Transamazônica, no Pará, em 1972, com o sonho de encontrar um chão para trabalhar e daí sustentar e criar a família. Lá tornou-se liderança rural, atuando na defesa dos direitos dos trabalhadores, e foi uma resistência contra a ditadura militar, que o perseguiu e tentou por diversas vezes, prendê-lo.
Mais tarde, Ganzer foi um dos fundadores da CUT e seu primeiro vice-presidente na década de 1980. O sindicalista também ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores (PT) e foi organizador do Grito da Terra Brasil.
O presidente da CUT Nacional, Sérgio Nobre, usou suas redes sociais para lamentar a morte de Ganzer e disse que a central está de luto. “Esse trabalhador rural é símbolo da luta pela democracia, pela classe trabalhadora, pelo campo. Dirigente histórico do movimento sindical”, escreveu.
Em nota, o PT manifestou “profundo pesar pelo falecimento do companheiro” e “apoio e solidariedade aos familiares, amigos e companheiros de jornada de Avelino Ganzer neste momento de extrema dor e tristeza”. segundo o partido, a liderança foi “um incansável defensor e lutador pela reforma agrária no Brasil”.
Em artigo escrito pelo ex-deputado estadual constituinte no RS, Selvino Heck, em 2010, quando era assessor especial do Presidente da República e membro da coordenação nacional do Movimento Fé e Política, ele destacou o trabalho de Ganzer no sindicalismo de Santarém, que considera na orgnaização de trabalhadores.
“Tanto no ABC quanto em Santarém construía-se uma nova concepção de sindicalismo baseado nos princípios do que viria a ser mais tarde a CUT – Central Única dos Trabalhadores: sindicalismo livre da interferência do Estado, classista e de base; autonomia dos sindicatos frente aos partidos políticos; democracia interna das instâncias de base e da futura Central; internacionalismo sem alinhamento; e socialismo como objetivo final da luta sindical”, escreveu na época.
A luta de Ganzer
A CUT relembra que o sindicalista lembrou sua própria luta na construção da central, em artigo publicado em 2017, no site do Instituto Paulo Fonteles, de Direitos Humanos. No texto, Ganzer lembrou do período de chegada em Itaituba, Pará. Foi quando a chefia do Incra colocou várias famílias num mesmo alojamento coberto com a folha de babaçu e chão batido que ficava localizado às margens direita do rio Tapajós.
“Passados alguns dias, colocaram a gente em cima de carrocerias de caminhão e saímos pela Transamazônica afora mais de 200 km. Chegando no local, os técnicos saíam de seus carros confortáveis e diziam: é aqui que vocês serão fazendeiros etc., lembrando que não tinha casa, comida e nem água para consumo, era mata virgem e nós com toda família nos sujeitávamos a aquela realidade, pois não tínhamos nenhuma consciência, quem não sabe é como quem não vê, acreditando num futuro melhor.”
Em novembro deste ano, na cerimônia em homenagem aos 40 anos da CUT na Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), foi lembrada a atuação de Ganzer para que os dirigentes paraenses conseguissem participar do 2° Congresso Nacional da CUT.
“As enormes distâncias e desafios, marcaram essa trajetória, inclusive a perda de companheiros a caminho do 2° Congresso Nacional, fez com que o companheiro Avelino Ganzer, vice-presidente nacional, à época solicitasse o rateio solidário, que foi aprovado, para possibilitar que trabalhadores do Brasil inteiro pudessem se deslocar com maior segurança para as plenárias nacionais e participar dos espaços de decisão", lembrou a CUT-PA.
Velório e enterro
O velório será aberto ao público nesta quarta-feira, terminando na manhã desta quinta (14) com o enterro. A despedida será em Murinim, em Benfica, no Pará.
* Com informações da CUT
Edição: Marcelo Ferreira