Em 2020 a comunidade acadêmica da Ufrgs escolheu na consulta à reitoria, um projeto de reitoria. Naquela consulta a totalidade dos votos apontava que as professoras Karla Maria Müller e Claudia Wasserman eram as escolhidas pelo conjunto dos estudantes, dos professores e dos técnicos. Foram 8.947 votos ao total, 4.264 votos a mais que a segunda colocada.
:: Conselho universitário da Ufrgs aprova impeachment de reitor e vice nomeados por Bolsonaro ::
Na época, a Ufrgs contava com um sistema de peso desigual entre alunos, professores e técnicos que fez com que a chapa representada por Rui Vicente Oppermann e Jane Fraga Tutikian fosse a vencedora considerando que o voto dos professores tinha 75% de peso enquanto os alunos e técnicos 15%. O projeto menos votado na consulta, representado por Carlos André Bulhões Mendes e Patrícia Helena Lucas Pranke obteve na consulta apenas 1.860 votos.
Ironicamente o projeto menos votado na consulta foi apadrinhado por Bibo Nunes e escolhido por Bolsonaro para manifestar a política bolsonarista da austeridade fiscal e da precarização da vida dentro da Ufrgs. Como? Acontece que apesar da consulta à comunidade, da votação e participação nas eleições, o Ministério da Educação e o governo federal recebeu a “lista tríplice” com a indicação dos três concorrentes no processo e suas respectivas votações, ficando a cargo do presidente da República escolher quem nomear. Desde 2003 o governo nomeava aquele que havia sido manifestado vencedor em eleição respeitando a democracia das universidades. Bolsonaro usou a lista tríplice, um entulho da ditadura, para colocar a Ufrgs sob uma intervenção bolsonarista.
A gestão ilegítima de Bulhões inaugurou um tempo sombrio na universidade. Com grades e seguranças, Bulhões se encastelou na Reitoria e em três anos de gestão nunca foi visto pela Ufrgs.
A reitoria interventora trabalhou de forma intensa para manifestar a política bolsonarista quando apresentou um conjunto de ações que buscavam aprofundar a crise dos estudantes, e, sobretudo, dos estudantes cotistas e trabalhadores. O período pandêmico foi marcado por um duro enfrentamento com Bulhões que defendia um Ensino Remoto Emergencial sem um plano de assistência e permanência que dialogasse com os estudantes que haviam perdido bolsas, estágios e empregos e viviam em razão da paralisação das atividades situações de vulnerabilidade socioeconômica. Foi preciso, a partir da Gestão Lutar e Mudar as Coisas, mobilização permanente para que os auxílios estivessem garantidos.
No retorno às aulas, Bulhões atentou contra a saúde e vida da comunidade acadêmica, desrespeitou o Comitê Covid da universidade, que apontou a necessidade de um passaporte vacinal para o retorno em segurança. Apenas um dia depois, o gabinete do reitor, Carlos André Bulhões, informou que não adotaria o passaporte da vacina.
A luta pela Casa do Estudante no Litoral Norte foi desdobrada pela reitoria em perseguição política que busca cercear alunos e trabalhadores da universidade e criminalizar o movimento estudantil, sindical e social. Diga-se de passagem que o espaço reivindicado pelos estudantes do Litoral Norte foi cedido de forma arbitrária a PROIR, pró-reitoria de Inovação e Relações Institucionais, criada pelo interventor Carlos Bulhões, sem o aval do Conselho Universitário.
A implementação de um plano de austeridade fiscal fez com que a vida dos estudantes, sobretudo cotistas, piorasse ainda mais, aumentasse a evasão num projeto de tornar a universidade pública um elemento antagônico do nosso povo. Mas resistimos e mobilizamos, construímos solidariedade e costuramos forças para permanecer na universidade e derrotar os entulhos do Bolsonarismo que ocupam de forma ilegítima a Reitoria da Ufrgs.
Desde que o DCE tomou posse buscamos aglutinar esforço e força com as entidades da universidade, construir a capacidade de avançar na paridade e na destituição e inaugurar um tempo mais democrático na Ufrgs. Saímos vitoriosos de ambos os processos pois apostamos em um projeto politicamente independente de governos e de reitorias, e ainda mais conscientes que a luta não terminou, que é ainda mais preciso mobilizar e fazer luta para efetivar a destituição.
Após a aprovação do parecer pela destituição, fica ao Conselho Universitário a tarefa de enviar formalmente ao Ministério da Educação o parecer, para que o MEC e o conjunto do governo federal acate e faça a exoneração. Na última semana o DCE, a Assufrgs e o Andes-Ufrgs esteviveram em Brasília para reunir com o Ministério da Educação e entregar uma cópia do parecer de destituição, e manifestamos que cabe ao MEC acatar a decisão do Conselho Universitário da Ufrgs e zelar pela autonomia universitária.
O MEC, assim que receber formalmente o processo, precisa analisar com a maior brevidade e encaminhar a exoneração de Bulhões e Pranke. Seguiremos mobilizados, seremos pontas de lanças até que a intervenção seja varrida. Por fim, a nossa Gestão à frente do DCE não se intimidará em fazer luta, nossa gestão tem, inclusive, mais de 1.000 votos do que tiveram os interventores.
* Estudante de Políticas Públicas e coordenador do DCE Ufrgs
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Marcelo Ferreira