O racismo está presente nas estruturas sociais-institucionais, percebido pela falta de oportunidades
No mês de novembro, celebra-se a Consciência Negra, pois no dia 20 de novembro relembramos a morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares. Trata-se de um momento privilegiado para recordar as lutas dos movimentos negros pelo fim da opressão resultado dos ecos da escravidão. O objetivo aqui é visibilizar e conscientizar a população sobre a importância do combate ao racismo para a construção de uma sociedade livre de preconceitos e mais igualitária, independente de raça/cor.
O estudo é elaborado a partir dos microdados disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na sua Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar Continua (PNADCt), para o segundo trimestre, nos anos de 2019, 2020, 2021, 2022 e 2023, com o recorte metodológico para a Região Metropolitana de Porto Alegre, composta por 34 municípios.
Busca-se de forma exploratória conhecer as características das pessoas Brancas e Não Brancas, ocupadas pela posição na ocupação, assim como a distribuição da renda pelo critério de Classificação Econômica Brasil. Espera-se poder visualizar no sentido de problematizar a contribuição das comunidades Não Brancas, assim como se colocar em diálogo com o gestor público, o setor produtivo (empresários e trabalhadores), com a sociedade organizada e a comunidade acadêmica. A expectativa é encontrar leitores atentos, ao mesmo tempo, em que se possa contribuir para o aumento do bem-estar de toda a comunidade.
A quantidade de pessoas ocupadas, por posição na ocupação, por raça/cor, na Região Metropolitana de Porto Alegre:
- No ano de 2019 o total de pessoas ocupadas era de 2.089 mil, que se reduz nos anos 2020 e 2021, mas em 2022 ultrapassa o patamar de 2019.
Tanto o total de pessoas ocupadas Brancas quanto o total de pessoas Não Brancas acompanham o movimento de ocupação e desocupação, mas pode-se verificar na Figura 1 que as proporções variam mais nos Não Brancos, sobretudo quando nos referimos a categoria sem carteira de trabalho assinada.
Na figura 1 pode-se ver a variação de pessoas ocupadas, Brancas, Não Brancas e o total, por posição na ocupação, na Região Metropolitana de Porto Alegre 2023/2019 (Base 100 = 2019), a intenção e é observar a transformação da variável ao longo do tempo.
Figura 1 – Variação de pessoas ocupadas, Brancas, Não Brancas e o total, por posição na ocupação, na Região Metropolitana de Porto Alegre 2023/2019 (Base 100 = 2019)
Pode-se ver que o Total Geral cresceu 8% (desconta-se 100 e multiplica-se, por 100, para chegar no percentual), enquanto os ocupados Brancos 2% e os ocupados Não Brancos 37%. A maior variação ocorreu no setor privado sem carteira de trabalho assinada, (18% - Brancos) e os Não Brancos em 62%.
Quando se olha a proporção, em percentual, da quantidade de pessoas ocupadas, por posição na ocupação, por raça/cor, na Região Metropolitana de Porto Alegre nos anos de em 2019 até 2023, percebe-se que os Brancos ao longo do tempo de estudo ganham espaço na posição Conta-própria, no setor privado sem carteira assinada, Empregador e Doméstico sem carteira de trabalho assinada. Nas posições Setor privado com carteira de trabalho assinada e doméstico com carteira de trabalho assinada apresentam um recuo.
Já os trabalhadores Não Brancos crescem proporcionalmente tanto no Setor privado com e sem carteira de trabalho assinada como trabalhadores domésticos sem carteira de trabalho assinada. Aumenta a sua participação proporcional na posição conta própria, empregador, e mantêm-se com doméstico com carteira assinada.
Ao observar-se a quantidade de pessoas ocupadas, por Estrato Socioeconômico, por raça/cor, na Região Metropolitana de Porto Alegre nos anos de 2019 até 2023, utilizou-se Critério de Classificação Econômica Brasil, disponível em https://www.abep.org, onde o extrato A compreende pessoas que percebem (+ R$ 10.361,48), o B1 (de R$ 5.755,23 até R$ 10.361,48), o B2 (de R$ 3.276,77 até R$ 5.755,23), o C1 (de R$ 1.965,88 até R$ 3.276,76), o C2 (de R$ 900,61até R$1.965,87) e a DE percebem até R$ 900,60.
A partir disto nota-se que no total da distribuição das pessoas ocupadas, por Estrato Socio Econômico, as classes C2 (de R$ 900,61 até R$ 1.965,87) e a DE que percebem até R$ 900,60, tiveram queda, enquanto as outras cresceram. Quando se olha as pessoas Brancas ocupadas o extrato A, o B1 e B2 tiveram uma variação positiva. Ao olhar as pessoas Não Brancas ocupadas percebe-se que os estratos foram o A, o B1, o B2 e o C1.
Na figura 2 pode-se ver a variação quantidade de pessoas ocupadas, por Estrato Socioeconômico, por raça/cor, na Região Metropolitana de Porto Alegre do ano de 2023 sobre o ano de 2019, quer-se com a ilustração observar como variou as pessoas ocupadas quanto ao Estrato Socio Econômico.
Figura 2 – Variação quantidade de pessoas ocupadas, por Estrato Socioeconômico, por raça/cor, na Região Metropolitana de Porto Alegre do ano de 2023/2019 (Base 100 =2019)
Observa-se que no total geral a que teve maior aumento foi a B1 com 58% (desconta-se 100 e multiplica-se, por 100, para chegar no percentual), o mesmo ocorrendo nos ocupados Brancos com 60%. Já nos ocupados Não Branco o estrato B2 foi o que se destacou com 153%. Os extratos DE e C2 foram os que houve retração. Nota-se também que no total, ao longo do tempo, o estrato A, B1, B2, C1 ganharam espaço. Nos ocupados Brancos são os estratos A, B1 e C2. Já nos ocupados Não Brancos ganha espaço B2, e C1.
O racismo, uma destas facetas, está presente nas estruturas sociais-institucionais a qual é percebida, entre outros, pela falta de oportunidades e a baixa remuneração. Estas diferenças gritantes entre cor e estrato socioeconômico deve ser melhor investigada, pois há explicações diversas que formam a base desta diversidade. Já há uma constatação importante que ela não é exclusivamente devido à falta de oportunidade de formação. Mas também devemos considerar que nossa sociedade é preconceituosa o que prejudica as mulheres e as pessoas não brancas.
Acredita-se que este assunto não se esgota aqui. Quer-se com estas informações iniciar o debate. Boa discussão para nós!
* Moisés Waismann, economista. Doutor em Educação. Professor da UniLasalle e pesquisador do Observatório das Metrópoles, Núcleo Porto Alegre. Judite Sanson de Bem, economista. Doutora em História. Professora da UniLasalle e pesquisadora do Observatório das Metrópoles, Núcleo Porto Alegre.
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor e da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko