O livro-reportagem “Nós não caminhamos sós – histórias de isolamento no antigo Leprosário Itapuã” (Editora Sulina), da jornalista e escritora Ana Carolina de Oliveira, será lançado com um bate-papo, nesta sexta-feira (24), às 19h, na livraria Taverna, no Centro de Porto Alegre. A publicação é resultado de dois anos de pesquisa sobre a história do hospital, da doença e da vida das pessoas que foram isoladas no leprosário depois do diagnóstico de lepra - doença hoje em dia curável e chamada de hanseníase.
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que em 2023 a hanseníase continua presente em 120 países, com 200 mil novos casos notificados todos os anos, enquadrando a doença milenar como uma condição tropical negligenciada. No Brasil, são 30 mil novos casos da doença, colocando o país como o segundo maior em número de casos, perdendo apenas para a Índia.
Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), essa negligência acontece porque alguns órgãos tomadores de decisão e segmentos da indústria farmacêutica não enxergam a doença, sua prevenção e tratamento como prioridade. A hanseníase tem cura e pode ser tratada de forma gratuita nas unidades de saúde no Brasil. O tratamento é via oral e feito com a combinação dos medicamentos dapsona, rifampicina e clofazimina.
Sobre o livro-reportagem
A narrativa do livro parte das histórias de duas mulheres que em comum tinham apenas o diagnóstico de lepra e ambas tiveram a vida atravessada por esta política segregacionista de profilaxia da doença. No período antes da descoberta da cura, os doentes sofriam pelos sintomas da doença e pelo preconceito na sociedade. A lepra, nome antigo da hanseníase, é uma doença contagiosa, causada pelo bacilo Mycobacterium leprae, afetando nervos e pele. Entre os anos de 1940 e 1985, mais de 2,4 mil pessoas foram segregadas compulsoriamente no Leprosário Itapuã, uma minicidade construída artificialmente para isolá-los no município de Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre.
"Com inteligência e sensibilidade, a autora nos coloca diante de uma sociedade a um só tempo simples e complexa: simples porque resolve seus problemas, complexa porque, ao resolvê-los, revela vidas que foram roubadas em plenitude. É como denuncia e reage à indiferença e à injustiça social a que foram submetidos os habitantes do Leprosário Itapuã, reconstituindo as trajetórias de Eva e Marleci", afirma a escritora Jane Tutikian. O trabalho de dois anos envolveu entrevistas e pesquisa para reconstruir o passado da instituição de saúde. O título reproduz a frase escrita no pórtico do hospital: "nós não caminhamos sós".
O livroreportagem busca registrar como era a vida no local, resgatar o histórico da doença - conhecida como a mais antiga da humanidade - e recordar a mobilização da sociedade gaúcha para a construção do leprosário. "Tudo isso é contado aqui com mão segura, após pesquisa documental e reportagem certeira, por Ana Carolina de Oliveira. Seu texto é tão primoroso quanto pode ser, pela fluência da frase e por uma outra virtude, superior ainda, a extrema discrição com que as palavras se comportam para dar protagonismo a quem de fato importa aqui, os internados em Itapuã, especialmente Eva e Marleci", avalia o escritor Luís Augusto Fischer.
Lançamento na Livraria Taverna
O bate-papo na Livraria Taverna (Rua dos Andradas, 736 – Casa de Cultura Mario Quintana, Centro de Porto Alegre) contará com a presença da autora Ana Carolina de Oliveira, da jornalista Mariana Oselame e de Magda Chagas, coordenadora do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase de Porto Alegre e Região Metropolitana (Morhan MetroPoa). Estará em pauta o processo de construção o livro-reportagem e a atual situação do hospital, que está em processo de fechamento pelo governo do estado. O lançamento tem apoio do Morhan e do Morhan MetroPoa, e é realizado pela Livraria Taverna e pela Editora Sulina.
Edição: Marcelo Ferreira