Nesta sexta-feira (10), na Feira do Livro de Porto Alegre, o Movimento Feminista Inclusivass lançou a 2° edição do Projeto Histórias Contadas, que reúne relatos de sobreviventes de feminicídio no Rio Grande do Sul. O projeto iniciou em agosto com o objetivo ampliar o debate na sociedade, rede de enfrentamento e Legislativo sobre feminicídio, e conta com o apoio do Fundo Elas+ e parceria do Coletivo Feminino Plural. Além disso, a atividade integra os 21 dias de ativismo pelo fim da violência contra mulheres.
As ações incluem atividades em comunidades da Capital e a promoção de conversas que possam pautar um projeto de lei que assegure o atendimento público e gratuito de atenção e cuidado específico para sobreviventes de violência. Ao longo do projeto, através do processo de escuta acolhedora, foram registradas experiências vividas por mulheres que sofreram tentativas de feminicídio.
O debate foi antecedido pela performance “Do luto à luta – Sobreviventes de Feminicídio”, da artista visual carioca de multilinguagens Marta Moura. Carol Santos, coordenadora do projeto, e Marta conduziram o bate papo. A iniciativa contou com o apoio da jornalista Clarinha Glock e o próximo passo será a publicação dos depoimentos em um livro, com a participação da filósofa e escritora Márcia Tiburi, entre outras.
“Queremos chamar a atenção para o fato de que as sobreviventes deste crime sofrem duplamente: pela tentativa de homicídio e pelo preconceito que sofrem devido às marcas, por vezes visíveis, que levam em seus corpos”, diz Carol Santos, que também é uma das fundadoras do Movimento Feminista Inclusivass.
Em Porto Alegre, o grupo tem promovido atividades nos movimentos de mulheres e de pessoas com deficiência, em comunidades e fóruns institucionais. Carol se tornou cadeirante após uma tentativa de feminicídio. “Sofri essa tentativa aos 19 anos, em 2000. Um tiro pelas costas me deixou paraplégica e me tornei uma mulher com deficiência. No dia que aconteceu tudo, ele também tirou a vida do meu namorado e, logo em seguida, ele se suicidou. Eu passei 13 anos me culpando, carregando esse sentimento de culpa, de ter envolvido outra pessoa nessa história”, lembra a ativista.
Ela explica que só parou de se culpar quando conheceu o Coletivo Feminino Plural, em uma intervenção onde mulheres se deitavam simbolizando as vítimas do feminicídio. “Naquele ato ali eu pedi para participar. A atividade foi adaptada para que eu pudesse também fazer a minha participação e ali eu conheci o coletivo. Através daquela atividade, naquele momento com as mulheres, eu consegui perceber muita coisa, que eu não era a culpada dessa história, mas sim a vítima”, relata.
A criação do Movimento Inclusivass foi justamente a forma de incluir maior acessibilidade e visibilidade para mulheres com deficiência no debate contra a violência de gênero. “E através dessa vivência, das tantas barreiras, que a gente passa enquanto sobrevivente, essa invisibilidade, a falta de uma política pública de cuidado dessas mulheres, a gente acabou criando o Projeto Histórias Contadas”, explica.
“O Estado tem preferido contabilizar os corpos do que dar suporte e atenção para quem fica, para as sobreviventes do feminicídio”, acrescenta. Na primeira edição do projeto, ela conta que as atividades visaram a ampliação do debate na sociedade e no movimento de mulheres e o acolhimento das histórias de quem sobreviveu às tentativas do crime.
Os relatos garantiram o início do processo de construção de um livro, que segue com a segunda parte do projeto. “A gente continua dando sequência para levar o tema das sobreviventes, mas já numa perspectiva da gente buscar um projeto de lei. A gente já tá se encaminhando para esse espaço de buscar por uma por uma uma legislação que cria uma política pública de atenção para essas mulheres, esse tem sido o foco do nosso projeto”, finaliza.
Edição: Sul 21