Rio Grande do Sul

Vida das Mulheres

Inclusivass lança 2ª edição de projeto que conta histórias de sobreviventes do feminicídio

Projeto 'Histórias Contadas' foi apresentado nesta sexta (10), na Feira do Livro de Porto Alegre

Sul 21 |
“O Estado tem preferido contabilizar os corpos do que dar suporte e atenção para quem fica, para as sobreviventes do feminicídio” - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Nesta sexta-feira (10), na Feira do Livro de Porto Alegre, o Movimento Feminista Inclusivass lançou a 2° edição do Projeto Histórias Contadas, que reúne relatos de sobreviventes de feminicídio no Rio Grande do Sul. O projeto iniciou em agosto com o objetivo ampliar o debate na sociedade, rede de enfrentamento e Legislativo sobre feminicídio, e conta com o apoio do Fundo Elas+ e parceria do Coletivo Feminino Plural. Além disso, a atividade integra os 21 dias de ativismo pelo fim da violência contra mulheres.

As ações incluem atividades em comunidades da Capital e a promoção de conversas que possam pautar um projeto de lei que assegure o atendimento público e gratuito de atenção e cuidado específico para sobreviventes de violência. Ao longo do projeto, através do processo de escuta acolhedora, foram registradas experiências vividas por mulheres que sofreram tentativas de feminicídio. 

O debate foi antecedido pela performance “Do luto à luta – Sobreviventes de Feminicídio”, da artista visual carioca de multilinguagens Marta Moura. Carol Santos, coordenadora do projeto, e Marta conduziram o bate papo. A iniciativa contou com o apoio da jornalista Clarinha Glock e o próximo passo será a publicação dos depoimentos em um livro, com a participação da filósofa e escritora Márcia Tiburi, entre outras.

 “Queremos chamar a atenção para o fato de que as sobreviventes deste crime sofrem duplamente: pela tentativa de homicídio e pelo preconceito que sofrem devido às marcas, por vezes visíveis, que levam em seus corpos”, diz Carol Santos, que também é uma das fundadoras do Movimento Feminista Inclusivass. 

Em Porto Alegre, o grupo tem promovido atividades nos movimentos de mulheres e de pessoas com deficiência, em comunidades e fóruns institucionais. Carol se tornou cadeirante após uma tentativa de feminicídio. “Sofri essa tentativa aos 19 anos, em 2000. Um tiro pelas costas me deixou paraplégica e me tornei uma mulher com deficiência. No dia que aconteceu tudo, ele também tirou a vida do meu namorado e, logo em seguida, ele se suicidou. Eu passei 13 anos me culpando, carregando esse sentimento de culpa, de ter envolvido outra pessoa nessa história”, lembra a ativista.

Ela explica que só parou de se culpar quando conheceu o Coletivo Feminino Plural, em uma intervenção onde mulheres se deitavam simbolizando as vítimas do feminicídio. “Naquele ato ali eu pedi para participar. A atividade foi adaptada para que eu pudesse também fazer a minha participação e ali eu conheci o coletivo. Através daquela atividade, naquele momento com as mulheres, eu consegui perceber muita coisa, que eu não era a culpada dessa história, mas sim a vítima”, relata.


Carol Santos / Foto: Arquivo Pessoal

A criação do Movimento Inclusivass foi justamente a forma de incluir maior acessibilidade e visibilidade para mulheres com deficiência no debate contra a violência de gênero. “E através dessa vivência, das tantas barreiras, que a gente passa enquanto sobrevivente, essa invisibilidade, a falta de uma política pública de cuidado dessas mulheres, a gente acabou criando o Projeto Histórias Contadas”, explica.

“O Estado tem preferido contabilizar os corpos do que dar suporte e atenção para quem fica, para as sobreviventes do feminicídio”, acrescenta. Na primeira edição do projeto, ela conta que as atividades visaram a ampliação do debate na sociedade e no movimento de mulheres e o acolhimento das histórias de quem sobreviveu às tentativas do crime. 

Os relatos garantiram o início do processo de construção de um livro, que segue com a segunda parte do projeto. “A gente continua dando sequência para levar o tema das sobreviventes, mas já numa perspectiva da gente buscar um projeto de lei. A gente já tá se encaminhando para esse espaço de buscar por uma por uma uma legislação que cria uma política pública de atenção para essas mulheres, esse tem sido o foco do nosso projeto”, finaliza.

Edição: Sul 21