A plataforma De Olho nos Ruralistas lançou nesta quinta-feira (19) o documentário SOS Maranhão, sobre os conflitos de terra no estado ouvindo seis pessoas que estão juradas de morte. São líderes indígenas, quilombolas e pescadores incluídos no Programa Estadual de Proteção a Defensores e Defensoras de Direitos Humanos do Maranhão.
O filme está disponível no canal do grupo no Youtube.
Hoje, 114 pessoas estão ameaçadas de morte no Maranhão, abarcando também ambientalistas e camponeses. Entre 2011 e 2020, o estado registrou o maior número de conflitos no campo no país: 1.772 ocorrências, segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Invasões pelo agronegócio
Com apoio da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (Cese), o média-metragem apresenta um cenário de devastação e ameaça pelas quais passam essas comunidades.
“O Matopiba se aproxima onde estão as comunidades: é onde está a água, onde está a preservação, onde está o rio”, explica Ivo Fonseca, cofundador da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq). “Para os latifundiários, essas áreas são estratégicas”.
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Na última década, o Matopiba - fronteira agrícola que reúne 337 municípios do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia - tem sido palco de invasões violentas por empresas do agronegócio.
Devastação equivale a 13 vezes o tamanho de São Luís
Ao mesmo tempo, no norte maranhense, comunidades tradicionais sofrem com a chegada de grandes projetos de infraestrutura, que buscam ampliar a capacidade de exportação de grãos e minérios, através dos portos de Itaqui e São Luís.
Apenas entre janeiro de 2019 e julho de 2023, o Maranhão perdeu 767 mil hectares de vegetação. É o equivalente a 13 vezes a área de sua capital, São Luis, de acordo com dados da plataforma MapBiomas.
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Conta-se no filme, por exemplo, o drama da Terra Indígena Arariboia que, desde 2000, teve 25 mil hectares desmatados. Fazendeiros e madeireiros pressionam as divisas do território, onde vivem mais de cinco mil Guajajara, além dos indígenas isolados Awá-Guajá.
Mãos decepadas
Os Gamella também contam sua história de ameaças, que remontam a década de 1960. O povo Gamella iniciou a retomada do território em Viana (MA) durante 2014. Porém, em abril de 2017, um grupo de 30 pessoas, liderado por fazendeiros e políticos da região, atacou a comunidade num episódio de horror, deixando dezenas de feridos, inclusive com mãos decepadas.
A comunidade do Cajueiro, em São Luís, e o quilombo de Santa Rosa dos Pretos, em Itapecuru-Mirim, sofrem a pressão dos grandes projetos como a ampliação do porto de São Luís, que a Cosan pretende retomar em 2024, e as obras de duplicação da BR-135, com obras anunciadas pelo governo federal.
Edição: Marcelo Ferreira