Desde o dia 23 de setembro, a BR 293, que interliga Pelotas a Bagé e Santa do Livramento, na chamada região da Campanha, no Sul do Rio Grande do Sul, está com o trânsito interrompido para veículos e pedestres na altura do KM 151, entre Hulha Negra e Candiota, nas proximidades do Rio Jaguarão. A base da pista cedeu e o asfalto rachou e ruiu, impedindo a passagem. Um verdadeiro calvário se abateu para a população das localidades no entorno – incluindo os assentados da reforma agrária nos municípios de Candiota e Hulha Negra –, bem como para motoristas, em especial caminhões mais pesados que executam a logística de transporte da produção pela via.
Já foram realizadas reuniões envolvendo prefeitos da região, vereadores e deputados com a superintendência do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) no estado. Para a autarquia, o ritmo das obras está cumprindo o cronograma previsto. Já os usuários denunciam a situação como insustentável e pedem por maior agilidade, clamando inclusive por intervenção superior, a partir do Ministério dos Transportes.
"A situação é grave em muitos sentidos, está simplesmente insuportável e as pessoas estão a beira de uma revolta, tal o sofrimento a que estão submetidas", desabafa Frei Sérgio Antônio Görgen, liderança vinculada à Via Campesina, e residente no Assentamento Conquista da Fronteira, em Hulha Negra. Görgen tem comparecido quase diariamente no trecho interrompido para conferir no local o andamento da obra e tem compartilhado em suas redes sociais vídeos que demonstram poucos operários e poucas máquinas trabalhando na implantação do desvio paralelo à pista, por onde o trânsito deveria se deslocar.
Segundo ele, os trabalhos estão ocorrendo há mais de 20 e não há avanços significativos. "Agora vemos manifestações indicando que serão necessários mais 20 dias ainda para que se efetive a solução paliativa que é o desvio, enquanto isso o trânsito pesado está utilizando as estradas vicinais de Hulha Negra e Candiota, atravessando os assentamentos em vias que não têm estrutura para acolher esse tipo de transporte. Isso está destruindo os acessos dos assentados e demais produtores rurais locais e causando estrados nos pavimentos urbanos das duas cidades, muitas vezes chegando a interromper o trânsito por conta de atolamentos e problemas mecânicos", relata Görgen.
Se a situação para o transporte de cargas está complicada, uma vez que as rotas alternativas impõem aumento significativo de quilometragem e tempo de deslocamento para os caminhoneiros, outro ponto que chama atenção são as dificuldades de acesso dos trabalhadores que se deslocam de Bagé e imediações em direção a Candiota e outras cidades na sequência. Inicialmente foi construída uma passarela de madeira que permitia que se atravessasse a pé o trecho que está comprometido, mas mesmo essa passarela acabou sendo interditada e o acesso foi bloqueado inclusive para pedestres.
“Essas pessoas estão sendo massacradas na sua rotina, o seu deslocamento por outros caminhos acresce em mais de duas horas diariamente para acessar seus locais de trabalho, isso é desumano”, aponta Görgem. Para ele, inclusive, a situação está produzindo um desgaste desnecessário em relação ao governo federal, uma vez que a população está observando a morosidade no andamento da obra e diariamente cresce a insatisfação.
Para quem se desloca de Pelotas para Bagé e Santana do Livramento, a orientação é utilizar a BR 392, por Canguçu/Santana da Boa Vista, acessando a BR 153 em Caçapava do Sul. Para quem se desloca de Bagé sentido Pelotas/Rio Grande, deve-se acessar a BR 153 em Bagé e seguir até Caçapava do Sul para acessar a BR 392, sentido Pelotas.
Contraponto do DNIT
O Brasil de Fato RS entrou em contato com o superintendente do Dnit no RS, engenheiro Hiratan Pinheiro da Silva, e questionou acerca do andamento das obras de construção do desvio. Fazendo referência a uma reunião realizada com lideranças locais, ele afirmou que “isso já foi explicado aos prefeitos e vereadores que estavam na comitiva. Já anunciamos todos os dias que irá ser concluído, dependendo das condições climáticas, em 20 dias”. Conforme Hiratan, “os prefeitos, o deputado Mainardi e os vereadores que estão acompanhando possuem as informações atualizadas. Praticamente todos os dias estão em reuniões diversas sobre o tema”.
Após a conversa com o superintendente, foi solicitada à assessoria de imprensa da autarquia mais detalhes sobre o andamento da obra. Como resposta o BdF recebeu a seguinte nota:
“O Dnit informa que o desvio da BR-293, km 151, em Candiota, segue em andamento, porém, a previsão é que o serviço seja concluído em, aproximadamente, 20 dias. O desvio tem 540 metros de distensão total. O volume de pedras e materiais é de, pelo menos, 3 mil metros cúbicos. Atualmente, os trabalhos que estão sendo feitos são: terraplenagem e preparação do suporte do desvio. Logo após, será feito um bueiro para passagem de água no local. Ressaltamos que a autarquia está cumprindo o cronograma.”
Quanto à problemática da destruição das estradas vicinais em Candiota e Hulha Negra, o superintendente foi breve e direto: “O Dnit só aplica recursos em rodovias federais sob jurisdição do governo federal sem concessão”.
Uma vez que o Dnit é uma autarquia ligada ao governo federal, vinculada ao Ministério dos Transportes, a redação tentou contato com o ministro Renan Filho, através da sua assessoria de imprensa, porém até o momento não obtivemos retorno. O espaço para manifestação fica garantido e a matéria será editada se novas informações forem compartilhadas com a equipe ou se surgirem novas manifestações dos gestores.
Edição: Marcelo Ferreira