Rio Grande do Sul

ORIENTE MÉDIO

Defesa da Palestina leva Luciana Genro à Comissão de Ética da Assembleia Legislativa

Seis deputados de siglas da direita alegam quebra de decoro, enquanto parlamentar do PSOL vê calúnia

Brasil de Fato | Porto Alegre |
A deputada estadual Luciana Genro (PSOL) recebeu uma bateria de críticas nas redes sociais, foi afastada sem explicações de um programa de TV e tornou-se alvo de uma denúncia à Comissão de Ética da Assembleia Legislativa - Foto: Paulo Garcia / Agência ALRS

Depois de discursar em defesa da resistência palestina, a deputada estadual Luciana Genro (PSOL) recebeu uma bateria de críticas nas redes sociais, foi afastada sem explicações de um programa de TV e tornou-se alvo de uma denúncia à Comissão de Ética da Assembleia Legislativa/RS movida por seis parlamentares.

“É uma posição articulada pela extrema direita para intimidar as vozes mais firmes e coerentes na defesa da Palestina. Fazem isso associando a defesa dos palestinos a uma suposta adesão ao terrorismo ou ao Hamas”, interpreta.

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“O que vejo é que fazem isso para deixar Israel de mãos livres para poder fazer o morticínio que está fazendo agora. Como se as vidas palestinas valessem menos do que as vidas judias.” Para ela, agem “como se a ação do Hamas pudesse ser usada como justificativa para o genocídio. É esse discurso que eles querem calar, que eu e outras pessoas estamos fazendo”.

“Tenho parentes que morreram em Auchswitz”

Após a postagem inicial da parlamentar choveram ataques nas redes e, em seguida, ela foi comunicada que seria afastada do programa Atualidade Pampa, da TV Pampa, de Porto Alegre. Oficialmente, não lhe foi comunicada a razão do afastamento, mas ela supõe que o motivo estaria vinculado às manifestações a respeito do conflito no Oriente Médio. “Informalmente soube que foi uma exigência de organizações israelitas que exerceram pressão sobre o dono da Pampa, (Otávio) Gadret” (*).  No dia 10, em pronunciamento na Assembleia, ela retomou o assunto.

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“Não venham dizer que eu sou contra os judeus porque eu sou de uma família judia. Tenho parentes que morreram em Auschwitz. Então não me venham com conversa de discriminação”, argumentou. E atacou os colegas que subiram à tribuna para protestar apenas em nome de Israel. “É ignorância ou má fé de quem vem aqui falar em direitos humanos para os israelenses e se esquece dos direitos humanos dos palestinos?”, indagou.

“Não tenho nada a ver com o Hamas”

Repudiando as insinuações de apoio à ações terroristas, respondeu: “Não tenho nada a ver com o Hamas, nenhuma afinidade ideológica com o Hamas. E, aliás, se alguém disser que eu sou a favor do Hamas, eu vou processar”.

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O que parece ter criado certo desconforto entre os deputados foi a menção de Luciana ao poder da comunidade judaica no Sul. “Muitos estão se aproveitando dessa situação - opinou - para fazer demagogia com a comunidade judaica, que é muito mais poderosa do que a comunidade palestina no Brasil, especialmente aqui no Rio Grande do Sul, que tem meios de comunicação, que tem construtoras, que tem empresas, que tem dinheiro, que financia notas pagas para defender os seus interesses.”

Dois dias depois, seis deputados de siglas situadas à direita apresentaram denúncia à Comissão de Ética, alegando quebra de decoro por parte da parlamentar. São eles Felipe Camozzato (NOVO), Rodrigo Lorenzoni (PL), Capitão Martim (Republicanos), Guilherme Pasin (PP), Adriana Lara (PL) e Prof. Cláudio Branchieri (Podemos). Na visão do grupo, Luciana não poderia comparar a resistência palestina ao levante dos judeus contra os nazistas no gueto de Varsóvia em 1943.

Para a deputada, a representação “não para em pé” e, inclusive, configuraria “crime de calúnia”.

(*) Brasil de Fato RS pediu um posicionamento à TV Pampa, mas, até o momento de fechamento da matéria, não recebeu nenhum retorno.


Edição: Katia Marko