Rio Grande do Sul

EDUCAÇÃO PÚBLICA

Documento confirma que escola de Porto Alegre não precisa fechar para revitalização de muro

Comunidade escolar teme que interdição total anunciada pela Seduc visa ceder terreno à especulação imobiliária

Brasil de Fato | Porto Alegre |
O fechamento da escola Euclides da Cunha poderia afetar não somente os cerca de cem estudantes e suas famílias, mas também oito alunos acolhidos pelo projeto Pão dos Pobres - Foto: Christofer Dalla Lana

A mobilização da comunidade escolar do bairro Menino Deus, em Porto Alegre, comprovou na manhã desta quarta-feira (11) que a Escola Estadual de Ensino Fundamental (E.E.E.F) Euclides da Cunha não precisa fechar as portas enquanto as obras de revitalização de um muro situado no interior do terreno estiverem em andamento.  

Durante visita de técnicos e representantes da 1ª Coordenadoria Regional de Educação (1ª CRE) e da Secretaria de Obras Públicas (SMOP) à sede da escola para avaliar a condição estrutural do muro, a diretora Fabiana Silva apresentou um auto assinado em 25 de agosto por um fiscal da SMOP. O documento recomenda a interdição parcial do local, com “o isolamento da área por tapume e avisos visuais orientando sobre o risco de áreas restritas”. 

O registro oficial contraria as alegações da 1º CRE de que o prédio deveria ser totalmente interditado, com as aulas interrompidas e os alunos transferidos para três escolas. A medida já havia sido anunciada pelo governo do estado como definitiva, por meio de solicitações de preferências de realocação dos alunos enviadas para a direção. Contudo, o anúncio contrariou as constantes reivindicações pela manutenção das aulas, diante do temor de que a escola seja fechada permanentemente.

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Para a diretora-geral do 39º núcleo do Cpers, Neiva Lazzarotto, o documento apresentado desconstrói a justificativa alegada pelo governo para a interrupção das aulas no prédio. Ela avalia se a suposta falta de conhecimento da titular da 1º CRE, Márcia da Silva Garcia, sobre as condições do auto não seria uma forma de facilitar a entrega do terreno para a especulação imobiliária.  

“A existência desse auto de interdição parcial de isolamento feito por tapumes no local em que o muro apresenta risco de queda é a certezade que a Secretaria de Educação e a 1ª CRE querem fechar a escola. Além disso, houve uma orientação para a diretora remanejar os alunos. A real intenção é entregar esse valioso terreno à especulação imobiliária”, pontua Neiva. 

A comunidade informou pessoalmente o subsecretário de Planejamento da Secretaria de Obras, Vinícius da Silveira Piccini, e a diretora-adjunta da pasta, Alessandra Godinho, que, caso não ocorra a implementação dos tapumes e o cancelamento da transferência dos alunos até a próxima segunda-feira (15), haverá uma grande mobilização em frente ao Palácio Piratini na terça (11). 

Além do 39º núcleo do Cpers, a visita de avaliação foi acompanhada pela presidenta da Comissão de Educação, Cultura, Desporto e Turismo da Assembleia Legislativa, Sofia Cavedon (PT), e por um grupo de pais, professores e representantes de entidades e de associações comunitárias da região. 

Comunidade organiza abaixo-assinado pela sobrevivência da escola 

Diante das ameaças que pairam sobre a sobrevivência da instituição de ensino, um grupo de pais está realizando um abaixo-assinado junto à comunidade local. A professora aposentada Pecilia Gomes, avó de um adolescente que estuda na escola, é uma das mais engajadas na causa. Para coletar novas assinaturas, ela fica de prontidão nas proximidades da escola buscando novas adesões. A busca por um ensino público de qualidade para todos é a sua principal motivação. 

“Eu estou lutando não somente pelo meu neto, mas por todas as crianças que não podem pagar uma escola particular. Quem manda fazer isso aí (transferir alunos no final do ano letivo), jamais soube o que é precisar de uma escola pública ou ter dificuldades de renda. Não basta tirar os alunos de uma escola e largar em qualquer escola e eles vão se adaptar. As crianças já têm vínculo com os professores”, afirma. 

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O fechamento da escola Euclides da Cunha poderia afetar não somente os cerca de cem estudantes e suas famílias, mas também oito alunos acolhidos pelo projeto Pão dos Pobres. Uma das pessoas que realizam o trabalho de acompanhamento das crianças e adolescentes é a assistente social Glória Rosa. 

“Atendemos crianças que perderam tudo e estão em situação de total vulnerabilidade. São crianças sem família que foram abandonadas e podem sofrer um novo abandono. Essa é uma escola extremamente acolhedora, pois temos alunos em outras cujo acolhimento não se compara ao que é realizado por lá”, destaca. 

A Associação de Moradores do Menino Deus também integra a mobilização e segue reivindicando a normalidade das aulas e permanência dos alunos no prédio. “A gente tem que reclamar e ir para a rua. Botar a nossa cara e defender os nossos filhos”, afirma a dirigente da entidade, Márcia Regina Godoy.

O Brasil de Fato RS solicitou à Seduc posição sobre a questão. Não houve retorno até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto.


Edição: Marcelo Ferreira