Rio Grande do Sul

FEIRA DO LIVRO

São Leopoldo distribui mais de 30 mil vale-livros para estudantes e professores do município

Ação busca criar leitores e leitoras engajados desde a infância, visando uma sociedade 'justa, democrática e inclusiva'

Brasil de Fato | Porto Alegre |
A estimativa é que mais de 50 mil pessoas já passaram pela 37ª Feira do Livro de São Leopoldo, sendo mais de 30 mil estudantes - Foto: Thales Ferreira

No Brasil apenas pouco mais da metade das pessoas têm o hábito de ler: 52% (ou 100,1 milhões de pessoas) dedica-se à leitura. Para incentivar a leitura, a prefeitura de São Leopoldo, na região Metropolitana de Porto Alegre, através da Secretaria Municipal de Educação (Smed), distribuiu mais de 30 mil de vale-livros, no valor de R$ 60 para estudantes, professores, estagiários e trabalhadores terceirizados das escolas, para serem usados durante a 37ª Feira do Livro da cidade, que encerra neste domingo (1º).

“Tem crianças que não têm como comprar um livro e com este incentivo elas têm opções de livros de boa qualidade”, afirma a moradora do bairro Duque de Caxias Cindel Silva Oliveira, 28 anos, que visitou a eira, realizada na Praça da Biblioteca. Cindel foi acompanhada de suas filhas Nathaly, 6 anos, e Angel, 8, nesta segunda-feira (25). “Angel está aprendendo a ler e conta histórias para a irmã”, comenta.

A ação faz parte do programa São Léo Mais Livros, instituído pela Lei 9.692 de 11 de novembro de 2022.

Em entrevista ao Brasil de Fato RS o escritor e jornalista Rafael Guimaraens pontuou que no Brasil 44% da população não lê e 30% nunca comprou um livro na vida. “O estímulo à leitura só pode ser feito através de políticas consistentes de acesso, redução do preço de capa, estímulo a programas de leitura nas escolas e comunidades, incentivo a bibliotecas, promoção de eventos”, comentou.


A feira também conta com apresentações artísticas / Foto: Thales Renato Ferreira/PMSL

Neste sentido, explica o secretário da Smed, Ricardo da Luz, surgiu o programa São Léo Mais Livros, transformado em lei. “Transformamos em uma lei exatamente para que ela não seja uma política de governo e sim uma política de Estado, que tenha continuidade independente do governo que estiver. Como educadores sabemos, que você não colhe resultados na educação de um ano para o outro, nem de dois, às vezes nem de três. As políticas públicas de educação precisam de tempo para ter resultado”, afirma Ricardo, que também é professor da rede estadual. 

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Contrapartida para bibliotecas de escolas

O programa também beneficiará o acervo bibliográfico literário das 45 escolas de educação infantil credenciadas com o município. Uma contrapartida dos vales trocados durante a 37ª Feira do Livro Ramiro Frota Barcelos retornará como exemplares de livros para as bibliotecas. 

A assessora de assuntos intersetoriais da Smed e organizadora da Feira do Livro, Renata de Mattos, explica que 5% de toda a venda será revertida para o acervo das escolas conveniadas. Metade do valor será revertido em livros para 16 escolas comunitárias e os outros 50% para as 29 escolas privadas. "O livreiro não vai entregar isso em dinheiro para a Smed, mas em livros, cujos títulos são indicados pela curadoria literária. As escolas vão receber as pulseiras e depois vão fazer a troca", diz.

Democratizar a leitura 

O programa São Léo Mais Livro se soma a mais um programa existe na cidade, o programa LeiturAção, onde as escolas escolhem um autor ou uma autora no início do ano, são adquiridos livros desse autor e as crianças trabalham com esse material. Há também visita dos autores. “Quando nós instituímos o Vale Livro, estamos imaginando um processo em que a criança depois de ter conhecido o livro, ter entendido a importância dele, ter participado com a autora, ela já esteja empoderada para fazer a sua escolha daquilo que gosta de ler”, expõe o secretário.

Renata destaca que o programa São Léo Mais Livro junto com o projeto LeiturAção são formas positivas de trazer a boa literatura para dentro da escola e familiarizar os estudantes com a prática literária e o gosto pela leitura. “A partir da indicação de livros de autores presentes nas escolas e todo o trabalho fomentado pelas professoras, que trabalham na biblioteca das escolas, fazem um trabalho muito importante para que o gosto da leitura seja despertado desde a primeira infância”, expõe. 

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Sobre a questão do Vale Livro, tanto Ricardo quanto Renata ressaltam que o objetivo maior é a fomentação de leitores e não meramente uma ação comercial. "Não queremos criar consumidor de livro, queremos criar leitores e leitoras engajados, responsáveis, comprometidos. Incentivo para a formação de leitores e de escritores", pontua Ricardo.


Ação busca criar leitores e leitoras engajados / Foto: Thales Renato Ferreira/PMSL

Cidade de leitores 

Para a organizadora da Feira do Livro, o processo de escrita e de leitura contribui para a humanização. “É a partir da leitura, de conhecer personagens, de se inspirar nelas, de se colocar no lugar das personagens, que se cria a reciprocidade, se cria a empatia, que são fundamentais para uma sociedade ser justa, igualitária, democrática, inclusiva”, frisa.

“Todo mundo nos pergunta quanto custa um programa desses. Mas pergunta maior é quanto custa não fazer? Qual é o custo de uma sociedade que não lê? Qual é o custo de uma sociedade que não oferece aquilo que é bom? Que mostra um horizonte de possibilidades? Os espetáculos que a gente traz fazem essas reflexões. Eles mostram para os estudantes, principalmente da periferia, que a educação, o livro e a escola podem ser transformadores na vida deles. E como eles podem e devem também transformar a escola a partir da sua presença, da sua ação, da sua cultura, da sua música, que são essenciais para a gente crescer como sociedade”, complementa. 

Conforme explica Renata, o lema da feira, nas vésperas da cidade completar 200 anos, é "Uma cidade viva conta as suas histórias". Para ela, “uma cidade viva reconhece todos os povos, todas as etnias que a formaram. Reconhece os acertos e os erros nessa trajetória da formação histórica da cidade. Para que tudo que venha pela frente seja melhor, que garanta mais qualidade e e que inclua cada cidadão e cada cidadã dentro da cidade”. 


"Qual é o custo de uma sociedade que não lê?" / Foto: Thales Ferreira

Sobre a feira

Estima-se que mais de 50 mil pessoas já passaram pela 37ª Feira do Livro de São Lopoldo, sendo mais de 30 mil estudantes. Cerca de 60 mil livros já foram vendidos. A programação, das 8h às 21h, até domingo (1º), com atrações literárias, música, teatro e dança para públicos diversos de todas as idades. A feira conta com a participação de 30 livreiros e editoras com obras infantis, juvenis e para o público adulto. Ainda conta com espaço de alimentação da economia solidária.  

"Quando tu vem para uma Feira e assiste um bom espetáculo de teatro ou de dança, tu caminha de mãos dadas com os teus colegas, tu ri, tu brinca, tu tem a oportunidade de escolher o livro que tu tem interesse em ler, é uma festividade. Isso cria uma memória afetiva sobre uma feira do livro, o sentido da literatura, que isso não se apaga. Isso faz com que a cultura da leitura fique implementada, registrada no código genético da nossa cidade", afirma Renata.

O evento é uma realização da Prefeitura de São Leopoldo, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Relações Internacionais (Secult) e da Secretaria Municipal de Educação (Smed). Co-realização do Sesc-Fecomércio São Leopoldo e apoio do Sicredi, do Sebratel e do Semae.

Feiras em outras cidades

Novo Hamburgo, cidade vizinha de São Leopoldo, realizará sua 39ª Feira Regional do Livro entre os dias 9 a 15 de outubro na Praça do Imigrante. Entre os dias 27 de outubro a 15 de novembro, ocorre a 69ª Feira do Livro de Porto Alegre. 

*Com informações da Superintendência de Comunicação da Prefeitura de São Leopoldo.


 
 

 

 

Edição: Marcelo Ferreira