Desde o início de setembro o Rio Grande do Sul tem sido marcado por episódios de chuvas intensas e consequentemente enchentes que causaram 49 mortes e afetaram 106 municípios gaúchos. Em uma das regiões mais atingidas, a cidade do Arroio do Meio, no Vale do Taquari, tem funcionado uma cozinha solidária em parceria entre o Seminário Sagrado Coração de Jesus, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e o Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do Rio Grande do Sul (Consea-RS).
:: Cozinha solidária do MST já entregou 10 mil marmitas em Encantado ::
A tragédia climática que atingiu o estado deixou desalojados 22.203 pessoas, e até o momento 713 desabrigados. Ao mesmo tempo, uma rede de solidariedade se formou, unindo diversos movimentos sociais, entes públicos e a sociedade civil como um todo.
“Para além da destruição, das perdas, das coisas tristes que a gente percebeu, a gente pôde sentir imediatamente uma grande onda de solidariedade. Mas se percebia que ninguém pensou que as pessoas tinham perdido tudo e não tinham como preparar seus alimentos. Houve muita doação de gêneros alimentícios, mas eles não poderiam ser preparados pela falta de equipamentos, principalmente as famílias com situações mais críticas econômicas. Nesse sentido, o Conselho conseguiu identificar que era necessário uma força tarefa para montar cozinhas coletivas”, explica o presidente do Consea-RS, Juliano Ferreira de Sá.
Conforme pontua Juliano, o Movimento Sem Terra já tinha montado a cozinha em Encantado, que acabou sendo referência para a região, mas havia outras regiões que estavam descobertas, distantes de Encantado. “Construímos uma articulação com diversas frentes. Fomos apresentado para Padre Alfonso, responsável pela paróquia de Arroio do Meio, e que abriu as portas do Seminário pra acolher as pessoas voluntárias e para que a gente montasse uma cozinha lá”.
A cozinha feita em parceria entre o Seminário, MAB, MTST e Consea serviu até o momento 15.600 marmitas. Em funcionamento desde o dia 11 de setembro, a cozinha chegou a produzir 1.700 alimentações por dia. De acordo com Juliano a cozinha seguirá atuando. “Foi o acertado com a prefeitura essa semana, o apoio da administração pública, que inclusive vai arrumar uma ajuda de custo para as pessoas responsáveis pela organização da cozinha. Além disso estamos contando com apoio de voluntários e voluntárias”, expõe.
Para a próxima semana está sendo projetado servir almoço e janta.
Empenho dos Voluntários
“O empenho e a dedicação dos movimentos sociais em produzir as marmitas nos dá muito orgulho, trabalhando às vezes por 16 horas ininterruptas para conseguir produzir a alimentação. Mesmo com o seminário tendo cedido seu espaço a falta de equipamentos dificultava a operação. Mas apesar de todas as dificuldades, juntamente com voluntários da comunidade até as 10 horas da manhã estávamos com quase toda a produção de marmitas prontas, esperando para os carros da prefeitura buscarem para a distribuição”, relata Caio Belolli de Almeida, coordenador estadual do MTST e da cozinha solidária da Azenha.
:: Organizações se reúnem para socorrer pequenos agricultores atingidos pelas enchentes no RS ::
Segundo relata Caio, no restante da iniciativa a prefeitura não teve participação. “A todo momento tínhamos ameaças de que o projeto seria encerrado, mesmo não sendo construído pela prefeitura. As cozinhas solidárias são de extrema importância para a população, fazendo um trabalho que o Estado não faz. As cozinhas resgatam a dignidade das pessoas”, afirma.
Conforme reforça o coordenador, o trabalho da cozinha solidária que está sendo feito em Arroio do Meio, especificamente no seminário, é de extrema importância para a população da periferia que foi mais atingida. “As pessoas estão muito ocupadas reconstruindo suas casas, as que ainda a possuem, pois muitas pessoas perderam totalmente suas moradias", complementa.
Brigada do MAB vem ajudando comunidades afetadas / Foto: Coletivo de Comunicação MAB RS
Rede de Solidariedade
Há pouco mais de uma semana, em conjunto com outros voluntários no Seminário Sagrado vem atuando a Brigada do MAB. Voluntários de diferentes estados do Brasil estão se unindo à ela, entre eles os atingidos por Mariana e Brumadinho. “A união desses voluntários destaca a solidariedade nacional em tempos de crise, e a importância da luta conjunta por prevenção e reparação de danos causados por desastres climáticos - sejam eles naturais ou provocados pelo ser humano, afirma Grasiele Berticelli, da coordenação estadual do MAB.
Além de atuar na corresponsabilidade pela cozinha, o MAB tem atuado na ajuda da reconstrução das áreas atingidas. “A mensagem 'Só a luta muda a vida!' tem ressoado entre os voluntários e a comunidade afetada, enfatizando a importância das soluções coletivas na busca por justiça e melhoria das condições de vida das pessoas atingidas, que segue crítica.”
Conforme salienta Grasiele, o trabalho das Brigadas tem sido essencial para ajudar comunidades a se recuperar de desastres naturais e na conscientização da gestão de recursos hídricos e prevenção de desastres. “Este é um momento em que a solidariedade nacional e a ação coletiva mostram seu poder transformador. Vamos juntos apoiar e fortalecer essa causa em prol das comunidades afetadas e da construção de um futuro mais resiliente.”
Além dos movimentos sociais, cozinheiros e cozinheiras a Univates,Universidade do Vale do Taquari, e a Unisinos, colocaram professores, professoras, alunos, alunas, tanto dos cursos de Gastronomia como Nutrição, para ajudar a pensar a parte de elaboração dos cardápios de forma equilibrada.
“O empenho e a dedicação dos movimentos sociais em produzir as marmitas nos dá muito orgulho, trabalhando às vezes por 16 horas ininterruptas para conseguir produzir a alimentação" / Foto: Coletivo de Comunicação MAB RS
Edição: Katia Marko