Mais que nunca a palavra é Esperançar. Construir o futuro, construir a sociedade do Bem Viver
Estou vivo, felizmente. Comecei 2023 usando uma sonda por vários meses e acabei no hospital no início do ano. Apenas raspagem de próstata, não câncer, felizmente. Bem atendido via SUS e por alguns dias no Hospital Sebastião, Venâncio Aires, RS, minha terra. Tudo resolvido, a vida continua. Mas foram alguns meses praticamente fora do ar, depois dos anos de isolamento por causa da pandemia, o mundo e o Brasil correndo ao redor, eu em Santa Emília, interior do interior, na casa da família, muito bem cuidado, mas quase sem sair de casa.
Há mortes quase a cada semana, velórios, com vários artigos e textos dedicados a amigas, amigos, companheiras, companheiros que partiram muito precocemente, um retrato deste difícil ano de 2023. E estamos apenas em setembro.
E há a violência de todos os dias e em quase todos os lugares, os assassinatos, as perseguições, os confrontos, perigo constante, pessoal e coletivo. Tudo acontecendo em meio ao ódio, à intolerância, aos preconceitos de todos os tipos, diariamente.
E não se podem esquecer a chuva, os ciclones, as tempestades, no Rio Grande do Sul e em outras partes do Brasil, acendendo o alerta geral. As consequências da crise e das mudanças climáticas estão no centro da vida das comunidades. Enquanto isso, o cuidado com a Casa Comum não está no centro dos governos, infelizmente, nem na cabeça das pessoas, embora, dados os acontecimentos e suas consequências, esteja crescendo.
A guerra está às portas, não só entre Ucrânia e Rússia, mas, em suas diferentes formas, em diversos lugares no mundo, também nas periferias das grandes cidades. A paz não é a preocupação principal de países e organismos internacionais, e sim a produção de armas.
As ditaduras permanecem, não só as políticas, mas também as econômicas, com a brutal e crescente desigualdade, enquanto a democracia anda aos trancos e barrancos. Basta ver o exemplo de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, outrora referências para o mundo, com o OP, o Orçamento Participativo, o FSM, os Fóruns Sociais Mundiais, ´um outro mundo possível´. Hoje, lamentavelmente, são modelos de privatizações, os vendilhões destruindo empresas públicas e o meio ambiente, derrubando árvores e acabando com parques históricos.
Tudo isso mexe com a cabeça, a alma, o coração. Que ano é esse, em pleno século XXI? Um 2023 cheio de dor, sofrimento, mortes, violência, fome e ausência de paz!!!
Ainda bem que temos no Brasil o governo Lula, o Brasil de novo presente e atuante no mundo, como aconteceu esta semana, com o histórico discurso de Lula na Assembleia da ONU, seus encontros com os presidentes Biden, Zelensky, na defesa dos direitos dos trabalhadores, na busca da paz e na defesa da Amazônia, do meio ambiente e da natureza.
O PPA, Plano Plurianual Participativo, a retomada da PNEP SUS, Política Nacional de Educação Popular em Saúde, e de outras políticas públicas com participação social, a tomarem forma aos poucos, ainda que mais lentamente do que se gostaria. A retomada do Consea, Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, com a realização da Conferência de SSAN em dezembro, a recente realização da Conferência Nacional de Saúde, a de Saúde Mental em breve, a retomada da Planapo, Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica e da sua Comissão nacional, a CNAPO, o recomeço da Economia Popular Solidária, do SUAS, Sistema Único de Assistência Social, e sua Conferência, entre tantas outras coisas, dão alento e esperança.
A Plenária das Lutas Populares, acontecida estes dias e com mais de centena de participantes de todo Brasil, é boa novidade, sob coordenação da Articulação das Lutas e Movimentos Sociais, presença e participação de movimentos sociais e populares, movimento sindical, ONGs, Pastorais, Frentes, partidos de esquerda. A Plenária e a Articulação preparam grande mobilização nacional para o dia 3 de outubro, data dos 70 anos da Petrobrás, garantindo o povo na rua, com trabalho de base e muita Formação na Ação.
A Teologia da Libertação e a Pastoral da Juventude estão completando 50 anos em 2023. O CAMP, Centro de Assessoria Multiprofissional, e a CUT festejam seus 40 anos, o MST fará em 2024 seus 40 anos oficiais. Todos mais que vivos, presentes, atuantes em 2023.
O pior ano de minhas/nossas vidas, eu no meio de meus 72 e quebrados? Talvez sim, talvez não.
Na semana em que Paulo Freire completa 102 anos, em 19 de setembro, mais que nunca a palavra é ESPERANÇAR. Construir a esperança, construir o futuro, construir a sociedade do BEM VIVER. Coletiva e solidariamente.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko