Lula assumiu a liderança do Sul global na luta por democracia e pela alteração do modelo de economia
Lula se aproxima do fim do primeiro ano de seu mandato com uma espécie de coroamento da política internacional estabelecida. Baseada no ativismo em defesa de causas em favor de uma nova correlação de forças entre países ocidentais e Sul global, essa política nas relações internacionais esteve assentada na afirmação de pautas importantes que formam um verdadeiro programa para uma nova governança global.
Uma nova composição para o Conselho de Segurança da ONU, fortalecimento do BRICS e do Banco dos BRICS, nova UNASUL, finalização do acordo Mercosul e União Europeia, a retomada do Prêmio Camões da Língua Portuguesa, a cúpula da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa, a COP, a Cúpula da Amazônia, o G20, o G77, encontros com os presidentes cubano, Miguel Díaz-Canel, e venezuelano, Nicolás Maduro, a retomada do diálogo com países africanos e com países do Oriente Médio, encontro com Joe Biden, presidente dos EUA, a abordagem sobre a guerra na Ucrânia, a defesa da paz, a retomada do combate à fome e à crise climática, o acordo de cooperação com os EUA para proteção dos trabalhadores. Enfim, um conjunto muito assertivo de temas, em grande parte desconfortável para os sete países mais ricos do Ocidente, tiveram o efeito de reestabelecer um novo peso dos países emergentes e periféricos na balança das relações entre Estados.
O ativismo do presidente Lula tornou possível, a uma série muito relevante de governos e Estados, romperem o isolamento que a política conservadora e imperialista dos países do G7 os havia imposto. Esse é o caso de Cuba, Venezuela, Angola. Também permitiu a governos que sofrem instabilidades de vários tipos, como Colômbia, Chile e Argentina, ampliarem seu espaço de trânsito político. Lula, com essa agenda, assumiu a liderança do Sul global na luta por democracia e pela alteração do modelo de economia e de relações internacionais.
A participação de Lula na 78ª sessão da Assembleia Geral da ONU teve efeito demarcatório em relação ao período de Jair Bolsonaro e suas pautas reacionárias. Sua intervenção e a extensa agenda cumprida desde sua posse – em verdade desde sua eleição, ainda em 2022 – tiveram o efeito de corrigir os rumos da política internacional do Brasil. Correção sintetizada na palavra de ordem “o Brasil voltou”. Palavra que se refere não somente ao ambiente formal das relações entre países, mas à agenda civilizatória da democracia, da sustentabilidade, da justiça social e dos direitos humanos, princípios fundamentais do campo progressista.
Desta forma, a política externa de Lula tem uma alta potência para impactar a correlação de forças no cenário doméstico brasileiro. Funciona como uma espécie de legitimação do combate que se faz ao reacionarismo e ao bolsonarismo. Afinal, o mundo que deseja democracia e justiça não deve estar errado na aposta que faz em Lula.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Katia Marko