Cerca de uma centena de ambientalistas se manifestaram neste domingo (17) em defesa do Anfiteatro Pôr-do-sol, ameaçado de destruição pelo prefeito Sebastião Melo (MDB). Em seu lugar, Melo quer colocar uma concessão à iniciativa privada para transformar a área em ambiente comercial com espaços para empreendimentos.
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Além disso, protestaram contra o projeto da Marina da Orla, também chamada de Marina Pública, junto ao trecho 2 da orla do Guaíba, que tem 134,4 mil metros quadrados e 850 metros de extensão. A Prefeitura de Porto Alegre quer construir essa marina pública e um centro de eventos, com lojas e outros negócios.
A Secretaria Municipal de Parcerias disse que o projeto ainda está em estudos e passará por diversos órgãos competentes até a sua definição final. "Estão previstas audiências e consultas públicas, conforme prevê a legislação, e todo o projeto será amplamente discutido com a sociedade", afirmou a pasta em nota enviada à imprensa nesta segunda-feira (18).
“A cidade tem muitos espaços para eventos, tanto na rede hoteleira, quanto outros particulares e não precisa desta área verde para ofertar mais salas, bares ou restaurantes”, argumentou a vice-presidente da Agapan, a bióloga Simone Portela de Azambuja, ao lembrar que aquela área é pública e servirá, assim que a estrutura for restaurada, para eventos abertos à comunidade.
Um dos organizadores, professor do Departamento de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e membro do Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGá), Paulo Brack, abriu as manifestações conclamando os presentes a se unirem na defesa do patrimônio ambiental de Porto Alegre. De acordo com o ativista, a luta será para defender cada espaço do complexo que compreende desde a Estância da Harmonia até o Beira Rio.
“Nós não desistimos ainda da Estância da Harmonia. E não iremos permitir que esse espaço, onde lideranças de todas as áreas, desde o Fórum Social Mundial têm-se apresentado, dialogando com toda a cidade, se transforme em cimento”, defendeu.
O vereador Pedro Ruas, líder do PSOL na Câmara de Vereadores, participou do ato, denunciando a sanha privatista do chefe do Executivo municipal. Ruas ressaltou que a luta não será simples e que exigirá muita atenção. “Tenho esperanças de que possamos vencer essa luta. Quero vencer com vocês. Mas pode ser que só as próximas gerações tenham sucesso. Mas fica a nossa participação, nosso exemplo e esforço”, concluiu.
A integrante da Associação dos Juristas pela Democracia Pérola Sampaio conclamou os presentes a ampliarem os seus contatos para “essa e outras atividades na defesa dos direitos que toda a sociedade têm. Até mesmo o Quilombo Kédi, onde descendentes de diversas famílias quilombolas vivem, está sendo atacado por uma construtora, lamentou a ativista. “Não podemos abrir mão do direito ao ambiente natural e nem as nossas terras, por menores que sejam, são as que as pessoas têm”, disse Perola.
O cartunista Carlos Henrique Latuff de Sousa, conhecido internacionalmente como Latuff, participou do protesto e ofereceu um cartaz para ajudar na divulgação dos atos. O chargista, de origem libanesa e portuguesa, destacou que esse fato que vem ocorrendo em Porto Alegre é universal. “Muitos governos desistiram de administrar, preferindo lucrar com a venda ou concessão de empresas e bens públicos extremamente importantes”.
Ambientalistas e parlamentares protestam em defesa do espaço público / Foto: Jurema Josefa
O encontro em defesa do Anfiteatro iniciou às 15h e contou com a participação de diversas entidades, entre elas a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), Igré Amigos da Água, Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGá), União pela Vida (UPV) e Eco Pelo Clima.
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Músicos e políticos como a deputada Sofia Cavedon e o deputado Miguel Rossetto (PT), a vereadora Niara (Coletivo Culau PCdoB) e Jonas Reis (PT) também participaram do evento que se estendeu até o começo da noite. Foram plantadas três mudas de árvores e erguida uma faixa no alto do anfiteatro. Ao todo, 17 entidades (associações, ongs, sindicatos) participaram do ato.
Edição: Katia Marko