A primeira live da série "Mudanças Climáticas e Eventos Extremos: Estamos preparados?" foi ao ar na noite desta quarta-feira (13). As convidadas foram a socióloga, ecofeminista e ex-pesquisadora da FEE Naia Oliveira e a jornalista ambiental, facilitadora de grupos, consultora em comunicação, editora e produtora de conteúdos Sílvia Marcuzzo, que se dedica à cobertura de pautas ambientais desde 1993, além de ter trabalhado em vários órgãos governamentais e do terceiro setor da área.
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O programa irá ao ar pelo canal do Brasil de Fato RS e Brasil de Fato no Youtube, quinzenalmente, debatendo a cada quarta-feira, às 19h, um novo assunto. Com apresentação da jornalista e editora do Brasil de Fato RS Katia Marko e a advogada especialista em desastre e meio ambiente Fernanda Damacena.
A questão norteadora da roda de conversa foi “Desastres são naturais”?
"Eu diria que desastres são socioambientais. E, nós estamos muito acostumados a tratá-los como eventos, mas desastres são processos. Quando pensamos num processo de desastres, nós estamos diante de uma série de circunstâncias onde devemos observar o que está por trás do desastre, que é algo mais profundo e que diz respeito àquilo que nós conhecemos bem, que é a desigualdade da divisão de recursos, que é o problema da desordenação urbana, a falta de fiscalização ambiental, do desrespeito às normas ambientais, do nível de insegurança que vivem as pessoas, isso tudo, e mais outros exemplos, colocam a população em uma situação de maior vulnerabilidade e essa vulnerabilidade é que expõe as pessoas as chuvas, ao vento, a tempestade", afirmou a advogada Fernanda Damacena ao introduzir o debate.
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A socióloga Naia Oliveira comentou que as pessoas dizem que "esses acontecimentos já existiam", e realmente, "eles já vêm de muitos anos, são milenares. Agora temos que observar que eles atualmente sofreram um aumento de frequência e de intensidade muito grande. E, qual o motivo desse aumento? Daí, eu vou concordar com a Fernanda que é o nosso sistema sócio econômico político capitalista que vem desenvolvendo uma relação com o meio ambiente, com a natureza, que é agressiva, nós não respeitamos todos os recursos naturais que estão dispostos nessa relação que a gente estabelece".
Naia destacou que nós seres humanos nos vemos separados dessa natureza. "Acho que nós temos, para além desses desastres desnaturais, concordo com o professor Carlos Nobre quando ele traz esse termo, outros desastres que estão relacionados que é a fome e que são as questões dos refugiados. A fome é algo que fico mais indignada, pois atinge as pessoas mais vulneráveis."
Além disso, salienta, que nós temos todo um sistema agrícola que fugiu de uma cultura agrícola para hoje o agronegócio que é altamente agressivo aos nossos recursos naturais, tanto ao solo como a água. "É realmente muito impactante e esse evento que estamos vivenciando, ou melhor, também não gosto de me referir a essa situação como evento, esse desastre que estamos passando e que atingiu principalmente o Rio Taquari e Antas, nós podemos dizer que tem relação com a lavoura de soja, de milho, de batata, que compactou o solo, que erodiu, e que criou assolamento", comentou a pesquisadora.
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Já para a jornalista Sílvia Marcuzzo, as ações dos governos ainda estão aquém da urgência do problema do clima. "O assunto é tão complexo, as questões envolvendo mudanças climáticas cada vez que nós estudamos, cada vez que a gente sabe mais a gente vê que está tudo interligado, então é um assunto muito difícil e ao mesmo tempo ele envolve uma necessidade de compreensão de várias coisas que a maior parte das pessoas não tem interesse ou não estão conectadas com o que está acontecendo", lamenta.
Sílvia acredita que o maior desafio da humanidade é a crise climática e em como ela vem nos mostrando que nós vamos ter que nos ligar em várias coisas que ao longo dos outros anos a humanidade veio colocando pra debaixo do tapete. "Aí está o nosso modo de desenvolvimento, o nosso modo de consumo, nós estamos sendo bombardeados nas telas por informações para consumir de maneira desenfreada."
:: Alfabetização climática já ::
"O que estamos vivendo aqui no Rio Grande do Sul resulta também de uma característica geográfica muito peculiar que é justamente a nossa localização, por estarmos mais próximos da massa de ar que vem da Antártida, algo que já era para nossos governantes, tanto dos municípios como do governo do estado, estarem mais atentos, até porque há muito tempo a gente vem falando sobre isso", destaca.
Segundo a jornalista ambiental, a mudança climática talvez seja uma oportunidade tanto da sociedade quanto dos governos enxergarem a gravidade do problema de fato. "Mesmo sendo uma evidência científica, tem gente que não acredita, alguns ainda espalham fake news, acham que isso sempre aconteceu, as pessoas acreditam naquilo que elas conseguem concatenar as ideias, por isso precisamos pensar em alfabetização climática já", defende Sílvia.
Confira o programa na íntegra
Edição: Katia Marko