Subiu para 36 o número de mortes* em decorrência dos temporais que atingiram o Rio Grande do Sul nesta segunda-feira (4). Este é o maior desastre natural no estado nas últimas quatro décadas, superando os 16 óbitos por conta do ciclone extratropical de junho. Em coletiva de imprensa nesta quarta-feira (6), ministros do governo Lula relataram "cenário de guerra e destruição. O governador Eduardo Leite (PSDB) disse que vai decretar estado de calamidade pública e que estão cancelados os desfiles do 7 de setembro.
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Durante a manhã, a comitiva de ministros do governo federal chegou no estado e seguiu para Lajeado, onde sobrevoaram as áreas afetadas, no Vale do Taquari e Serra gaúcha. Entre os locais está o município de Muçum, com cerca de 80% das residências debaixo d’água, teve 100% dos comércios destruídos e onde foram registradas 15 mortes em uma única casa.
Após sobrevoar as áreas junto com o governador, os ministros Waldez Góes, da Integração e do Desenvolvimento Regional, e Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social, e o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto, garantiram, na coletiva de imprensa, que serão enviadas aeronaves para apoiar nos resgates, cestas básicas e recursos financeiros para ajudar o estado.
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Segundo a comitiva, para a liberação do apoio financeiro, as prefeituras precisam apresentar um plano de trabalho para reconstrução e recuperação de estruturas. “Cada prefeitura identifica sua necessidade. Há um tipo de plano de trabalho emergencial que pode ser liberado em até 48 horas”, explicou Pimenta.
Leite disse que “é a maior tragédia natural de que se tem registro no Rio Grande do Sul”. O ministro Góes relatou “um cenário de guerra e de destruição total” e destacou a necessidade de sinergia entre todas as esferas de poder e voluntários para restabelecer a esperança e a normalidade.
O governador gaúcho contou que recebeu ligação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e mensagens do vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB). Ao anunciar o cancelamento dos desfiles do 7 de setembro, justificou com o clima de consternação pelas mortes provocadas pelas enchentes. O cancelamento, segundo ele, possibilita a concentração de forças nas ações de resgate e auxílio à população atingida.
“Agora é o momento de arregaçar as mangas e dar tudo que a gente pode, fazer todo o esforço necessário para atender às pessoas, dar conforto e assistência às famílias, desde saúde até alimentação e vestuário. Precisamos restabelecer as condições mínimas de sobrevivência e tudo o que for necessário para que essas pessoas possam se reerguer”, apontou.
Ainda há pessoas desaparecidas
Até o início da tarde desta quarta-feira (6), a Defesa Civil estadual contabilizou 75 municípios atingidos, 2.299 pessoas desabrigadas e 3.084 desalojadas. Estima-se em 43.887 o número total de afetados. As 36 mortes* confirmadas até agora foram nas cidades de Muçum (14), Roca Sales (9), Ibiraiaras (2), Lajeado (3), Estrela (2), Cruzeiro do Sul Mato Castelhano (1), Encantado (1), Santa Tereza (1) e Passo Fundo (1).
* Atualizado às 19h15 de 06/09/23 após novo boletim da Defesa Civil do RS
Moradores de diversas cidades relatam cenários de destruição e há dezenas de pessoas desaparecidas. O município de Estrela, onde passa o Rio Taquari, subiu que repentinamente, a prefeitura lançou comunicado de procura de pessoas desaparecidas que, até o meio da tarde desta quarta, tinha mais de 30 nomes.
Em Roca Sales, também banhado pelo Rio Taquari, as águas destruíram casas, lojas e prédios públicos. Em informe publicado no Instagram, a prefeitura pediu que os moradores subissem nos telhados e se agasalhassem para aguardar os resgates que viriam somente na manhã de hoje. A prefeitura também está na procura por desaparecidos.
Diversos trechos de rodovias do RS estão bloqueados devido às chuvas dos últimos dias. Nesta quarta-feira (6), são 18 rodovias com bloqueios totais ou parciais.
Estado terá novas tempestades
Segundo boletim da MetSul Metereologia, uma nova instabilidade deve chegar ao território gaúcho nesta semana. Uma frente quente começa a se formar na noite de hoje e vai trazer uma onda de tempestades de granizo e vendavais com chuva forte durante a quinta-feira (7). Na sexta-feira (8), uma frente fria atinge o estado, impulsionada por um ciclone no Leste da Argentina, trazendo mais chuvas e temporais.
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Segundo a MetSul, há risco de temporais fortes a severos com danos, especialmente na Metade Norte gaúcha, no Oeste catarinense e paranaense e no Mato Grosso do Sul no deslocamento da frente fria no final da quinta e durante a sexta. Uma vez que a frente vai se deslocar rapidamente e em forma de linha, há um elevado potencial de vento forte com possibilidade de vendavais fortes a intensos com danos em algumas cidades.
A Defesa Civil de Porto Alegre emitiu alerta de possibilidade de inundações na região ribeirinha da Capital, especialmente no Bairro Arquipélago e na zona Sul. A elevação do nível do Guaíba ocorre em decorrência do alto volume hídrico que escoa do sistema Jacuí/Taquari. A orientação é que a população evite transitar na rua, abrigue-se em local seguro e, caso habite imóvel sob risco de inundação, procure abrigo temporário junto a familiares ou prefeitura. Em caso de dúvidas e emergências, ligue para a Defesa Civil (199) ou Corpo de Bombeiros (193).
Conab doará 5 mil cestas básicas
Durante missão de solidariedade e ajuda do governo federal, nesta quarta, o presidente da Conab, Edegar Pretto, confirmou que o governo federal vai doar 5 mil cestas de alimentos para ajudar as famílias atingidas pelas fortes chuvas e enchentes. Ele afirmou que toda a estrutura da Companhia foi mobilizada, por orientação do presidente Lula.
“A Conab tem condições de fazer essa operacionalização das cestas, que foram adquiridas com o orçamento do Ministério do Desenvolvimento Social. Então, esse básico da alimentação para as famílias já está garantido. Nós faremos a entrega onde tiver pessoas em situação de vulnerabilidade, especialmente àquelas que estão fora de suas casas nesse momento”, disse Pretto.
As cestas virão de unidades armazenadoras de Montes Claros, em Minas Gerais, já que o estoque de alimentos da Conab no RS foi usado recentemente para ajudar vítimas de ciclone anterior no estado. Conforme Pretto, neste primeiro momento serão entregues 3 mil cestas e, posteriormente, as outras 2 mil. Cada uma contém 21,5 Kg de alimentos e é composta por arroz, feijão, açúcar, farinha de trigo, fubá, macarrão, óleo de soja, leite em pó, sal e sardinha.
MAB alerta para descaso do estado com barragens
O Movimento dos Atingidos por Barragem lançou nota alertando para o estado das cerca de 9 mil barragens no território gaúcho, dos quais boa parte está abandonada ou sem a manutenção adequada, segundo o Relatório de Segurança de Barragens. “Mesmo assim, o atual governador, Eduardo Leite (PSDB), revogou a Política Estadual de Direitos das Populações Atingidas por Barragens, única política pública que previa ações de prevenção e reparação de áreas atingidas”, critica.
Conforme o movimento, os recentes eventos extremos evidenciam que tal condição já não se trata de exceção. “A dramática, caótica e cada vez mais frequente recorrência desse tipo de evento exige uma postura diferente do estado e de toda a sociedade. É preciso responsabilizar os representantes do poder público por sua omissão criminosa”, diz.
O MAB destaca que tem lutado para que sejam criadas políticas públicas capazes de prevenirem as perdas causadas por esse tipo de evento, bem como a criação de mecanismos suficientes para reparar as perdas causadas, colocando a população atingida como sujeito nas ações de prevenção e reparação. “Só assim seria possível se reverter o longo período de exclusão social de comunidades hoje revitimizadas pelos efeitos das mudanças climáticas”, afirma.
* Com informações de GZH, Agência Brasil, MetSul e Governo do RS
Edição: Katia Marko