No dia 7 de setembro acontecerá em todas as regiões do país a 29ª Edição do Grito dos Excluídos e das Excluídas, uma ação que visa dar espaço e voz para os que se encontram em situação de injustiça e vulnerabilidade social, um contraponto ao Grito da Independência. Com a pergunta: “Você tem fome e sede de quê?”, que é o lema deste ano, dialoga com o tema da Campanha da Fraternidade, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), num claro objetivo de denunciar a fome no Brasil, e tendo a conquista da segurança alimentar como pré-requisito da dignidade humana, democracia e soberania nacional.
No Rio Grande do Sul, neste ano, o Grito será em São Leopoldo, na Grande Porto Alegre, e em Pelotas, no Sul do estado. A proposta iniciada em 2019 é de descentralizar e ampliar a tradicional manifestação, buscando dar visibilidade a comunidades da periferia das cidades diversas cidades da região Metropolitana e do interior gaúcho.
:: O grito dos gritos ::
A mobilização abre a possibilidade das pessoas refletirem e juntas buscarem alternativas para os enormes problemas que o povo enfrenta com a questão da fome e da água. Desafio para muitas nações, o acesso à alimentação e a uma nutrição equilibrada pioraram nos últimos anos no Brasil, na América Latina e no mundo.
O relatório "O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo (SOFI)", da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), publicado em julho, confirmou a piora dos indicadores de fome e insegurança alimentar no Brasil. Em 2022, segundo o documento, 70,3 milhões de pessoas estiveram em estado de insegurança alimentar moderada, que é quando possuem dificuldade para se alimentar. O levantamento também aponta que 21,1 milhões de pessoas no país passaram por insegurança alimentar grave, caracterizado por estado de fome.
Grito em São Leopoldo
A concentração do ato em São Leopoldo será às 8h30, atrás da Estação São Leopoldo do Trensurb, junto ao Palquinho, espaço tradicional do Movimento Hip Hop. “A região do Vale dos Sinos foi duramente atingida pelos ciclones e inundações que assolaram a região Metropolitana, mas mostrou que a solidariedade, união e a organização comunitária salvam vidas”, afirma padre Edson André Cunha Thomassim, mais conhecido como padre Edinho, membro da Pastoral Carcerária e articulador regional das Pastorais Sociais do Rio Grande do Sul pela CNBB.
“Outra razão é a questão da luta pela moradia digna, prioritariamente para famílias de baixa renda, são diversos territórios e ocupações que temos aqui, então esse direito ao teto é um dos gritos que queremos ecoar”, complementa.
O Grito dos Excluídos e das Excluídas 2023 em São Leopoldo vai iniciar com uma caminhada que culminará na Comunidade Steigleder, local onde vivem 211 famílias, muitas das quais trabalhando com reciclagem e em situação de vulnerabilidade social. A comunidade conta com uma Cozinha Solidária e é um exemplo de engajamento e participação social, atuando em Conselhos de Defesa de Direitos.
“No município temos uma rede de cozinhas solidárias e outros programas com repasse de recursos que permite o desenvolvimento do acesso a uma comida saudável. É preciso reconhecer isso como um grito do povo que é mais excluído da sociedade”, defende padre Edinho.
O ato é organizado pelo Fórum do Grito na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), do qual participam diversas entidades religiosas, movimentos sociais, sindicatos e associações. A atividade encerrará com um gesto concreto de solidariedade do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), que fará doação de alimentos para a comunidade.
Grito em Pelotas
Em Pelotas, a concentração para o Grito dos Excluídos e das Excluídas iniciará às 10h no Largo do Mercado Público. Durante a mobilização será produzida uma colcha de retalhos simbolizando o grito dos excluídos.
“Estamos solicitando que todos e todas escrevam em pedaços de tecidos quadrados qual é a sua fome e sua sede, o objetivo é simbolizar os nossos gritos”, afirma Reinaldo Tillmann, colaborador do Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Os ativistas irão caminhar até a frente da Prefeitura de Pelotas para reivindicar políticas públicas como forma de melhorar as condições de vida da população.
História do Grito dos Excluídos e das Excluídas
O Grito dos Excluídos e das Excluídas ocorre em todo o Brasil desde 1995. A ideia surgiu durante a 2ª Semana Social Brasileira (1993/1994), a partir de uma reflexão sobre o Brasil, as alternativas possíveis e seus/suas protagonistas. Mais do que uma articulação, o Grito é um processo, é uma manifestação popular carregada de simbolismo, que integra pessoas, grupos, entidades, igrejas e movimentos sociais comprometidos com as causas dos excluídos.
Durante muitos anos, a caminhada dos excluídos e excluídas foi realizada na sequência do desfile militar do dia 7 de setembro. Desde 2019, o comitê de organização do Grito na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) decidiu fazer o Grito rodar pelas cidades da região, sobretudo nas comunidades de periferia, como uma forma de valorização das comunidades e de suas lutas. Por esta razão, em 2019 realizou a manifestação em Canoas, junto com as comemorações dos 40 anos de existência da Vila Santo Operário, reforçando a luta pelo direito à terra em território urbano.
Em 2020, no cenário da pandemia de Covid-19 que assolou o país, o Grito foi virtual. Em 2021, quando voltou a ser presencial, retornou a Porto Alegre, sendo realizado embaixo do viaduto Dona Leopoldina. Em 2022, o Grito aconteceu no bairro Partenon, em Porto Alegre. Foi realizada uma longa caminhada, com paradas em locais de grande movimento, para repetir o lema: “Vida e Democracia: não ao golpe! Por comida, terra, teto e trabalho”
Programação do 29º Grito dos Excluídos e das Excluídas em São Leopoldo
8h30min - CONCENTRAÇÃO - atrás da Estação São Leopoldo do Trensurb, junto ao Palquinho, espaço tradicional do Movimento HIP HOP.
1º GRITO (no Palquinho perto do Trensurb) - fomes e sedes das juventudes, da cultura e do lazer
2º GRITO (terceira quadra da Rua Lindolfo Collor) - fomes e sedes da população em situação de rua e encarcerada
3º GRITO (em frente à Escola Estadual Visconde) - fome e sede da educação pública
4º GRITO (em frente ao SINE/FGTAS) - fomes e sedes por trabalho digno, pelo direito à renda e pela economia popular e solidária
5º GRITO (junto à Câmara de Vereadores de São Leopoldo) - fome e sede de democracia e de saúde
6º GRITO (Ginásio Municipal Celso Morback/arquibancadas) - fome e sede das populações originárias, migrantes, população negra
7º GRITO (Ponte sobre o Rio dos Sinos) - fome e sede das causas ambientais e das vítimas das mudanças climáticas
8º GRITO (Dique ao lado dos trilhos do Trensurb) - fome e sede de mulheres e LGBTQIA+
9º GRITO (junto à Tenda/Cozinha Comunitária do Movimento Nacional de Luta pela Moradia/MNLM, na Comunidade Steigleder) - fome e sede de moradia digna e alimentação saudável
A atividade encerrará com um ato inter-religioso e almoço solidário.
Edição: Marcelo Ferreira